05/11/2016 00h31 - Atualizado em 09/11/2016 15h53

Ano de lama: G1 analisa a tragédia ambiental, social e econômica

Especialistas mostram impacto dos rejeitos 1 ano depois, no Espírito Santo.
Ciência ainda não explica, cidadão espera respostas, ações estão paradas.

Manoela AlbuquerqueDo G1 ES

Lama afetou ribeirinhos (Foto: Leonardo Merçon / Últimos refúgios)Lama afetou ribeirinhos (Foto: Leonardo Merçon / Últimos refúgios)

Um ano depois do rompimento da barragem da Samarco em Minas Gerais, as vidas impactadas pelo desastre ainda sofrem com as marcas deixadas pela lama. As multas aplicadas por órgãos ambientais mineiros, capixabas e federais ainda não foram pagas. A economia de Anchieta, no Sul do Espírito Santo, está prejudicada com a paralisação mineradora. E ainda restam muitas dúvidas sobre a água do Rio Doce.

 

Neste dia, 5 de novembro de 2016, que marca um ano do maior desastre ambiental envolvendo mineradoras do mundo, o G1 levanta as questões ambientais, sociais, judiciais e econômicas que envolvem a tragédia e estão ligadas diretamente à vida das pessoas e das cidades do Espírito Santo que foram afetadas pela lama de rejeitos de minério da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton.

Em novembro de 2015, a barragem de Fundão se rompeu e a enxurrada de rejeitos de mineração devastou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), e desceu pelo Rio Doce até chegar ao mar, em Regência (ES). Leia o especial sobre 1 ano de lama em Mariana.

Um ano depois, a ciência ainda não consegue dizer com exatidão quais são os impactos causados pelo desastre em Mariana no meio ambiente e na saúde humana.

Um ano depois, ainda não se sabe como será a relação dos ribeirinhos, pescadores, marisqueiras e de quem vive das águas do Doce daqui em diante.

Um ano depois, as mais de 17 mil ações contra a Samarco em Baixo Guandu, Linhares e Colatina se encontram suspensas para avaliação da Justiça.

Um ano depois, Anchieta estima a perda de R$ 40 milhões em Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) até o fim do ano.

Para analisar essas questões, o G1 ouviu especialistas sobre os impactos da lama de rejeitos no meio ambiente, na economia e na vida das pessoas.

Ciência ainda não sabe dizer qual o impacto ambiental
Uma certeza que se tem, hoje, é de que a lama —  os rejeitos de minério, os metais pesados encontrados em análises no início deste ano  — continua lá, fisicamente, depositada no fundo do rio. O que não é mais tão visível a olho nu, nos vídeos e nas fotografias, pode vir à tona a qualquer momento, como menciona o pesquisador Alex Bastos, à frente de um dos grupos da Universidade Federal do Espírito Santo focado na área ambiental do desastre. Leia a reportagem

Vidas impactadas por rejeitos estão à espera de respostas
As vidas, tal como eram, foram interrompidas, e a perda subjetiva causada pelo estrago feito no rio é irreparável, como fala a assistente social Bianca Pavan. “A gente precisa de respostas, porque a gente não pode congelar as pessoas”, disse a pesquisadora. Leia a reportagem

Multas não foram pagas e processos estão suspensos
A impunidade é o sentimento mais presente no contexto do desastre, segundo o Fórum Capixaba em Defesa do Rio Doce. Bruno Toledo, representante da comunidade, critica a omissão da mineradora, das acionistas e dos governos federal, estaduais e municipais. Leia a reportagem

Cidade onde o rio não passa amarga rombo econômico
A mineradora começou a operar em Ponta Ubu em 1977 e foi implementada como “um pacote enviado” ao município, parte do projeto desenvolvimentista da época, segundo a antropóloga Sônia Missagia. A pesquisadora acredita no turismo religioso como alternativa às atividades da empresa. Leia a reportagem

Outro lado
Sobre a água, a Samarco disse que está monitorando 120 pontos ao longo da Bacia do Rio Doce. O monitoramento indica que a qualidade em vários pontos é semelhante aos padrões observados em 2010 pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil) e pela ANA, segundo a mineradora.

Sobre Anchieta, o prefeito eleito Fabricio Petri acredita na retomada das atividades da mineradora na próxima gestão. “As expectativas são muito boas. A Samarco tem grande chance de voltar a operar em meados de 2017. O problema não é nem aqui, é em Minas Gerais. A gente vem mantendo contato com o governo do estado e com a Samarco, há grande chance de ela retomar”, afirmou.

Sobre as multas, a Samarco informou que entende que há aspectos técnicos e jurídicos nas decisões que precisam ser reavaliados e aguarda a decisão administrativa das defesas já apresentadas.

A mineradora disse também que está exercendo seu direito legítimo e reafirma que está cumprindo com suas obrigações e compromissos assumidos com a sociedade.

 

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