01/11/2016 19h53 - Atualizado em 01/11/2016 19h53

'Não pretendo ter outro filho', diz mãe após bebê sofrer fratura no parto

MPF apura casos de violência obstétrica em hospital de São Paulo.
Maternidade nega ter feito manobra de Kristeller para menina nascer.

Do G1 São Paulo

Lucielma Cardoso Teixeira, mãe de Bruna, de quatro meses, disse ao SPTV que não pretende mais ter filhos por causa do trauma que sofreu durante o parto da filha. Ela procurou o Ministério Público Federal em São Paulo para fazer uma denúncia contra a maternidade onde a menina nasceu. Luciema conta que na hora de dar à luz a médica subiu em sua barriga com os dois braços e ficou apertando. A recém-nascida fraturou o braço e a clavícula esquerda.

"Ela dizia que minha filha tinha que descer que a minha filha tinha que nascer. Eu não sabia se eu respirava ou se eu fazia força pra minha filha nascer, com medo de acontecer alguma coisa com ela", disse a mãe. "Não pretendo ter outro filho, fiquei muito assustada, muito traumatizada."

O Ministério Público Federal em São Paulo quer que o Hospital e Maternidade SacreCoeur, do Grupo NotreDame Intermédica, apure denúncias de violência obstétrica em partos. Três mulheres disseram que os médicos e enfermeiros usaram a “manobra de Kristeller” no parto, procedimento que consiste em empurrar a barriga da mulher para forçar a saída do bebê.

O MPF disse que órgãos médicos nacionais e internacionais “são uníssonos ao condenar a manobra”. Segundo o órgão, os processos de violência obstétrica se acumulam. Nos últimos dois anos, o MPF já recebeu 50 denúncias na capital.

A NotreDame Intermédica disse em nota que no parto da menina Bruna foram feitos procedimentos obstétricos para a passagem do ombro do bebê, mas que em nenhum momento foi realizada a manobra de Kristeller."

"Após a primeira manifestação do Ministério Público Federal sobre o alerta relacionado a referida manobra, o Hospital e Maternidade Sacrecouer, assim como os demais hospital do Grupo, intensificaram ações relacionadas ao tema e vem constantemente monitorando o cumprimento do referido protocolo oficial”, diz a nota.

Além de apurar as denúncias, o MPF pede “que médicos e enfermeiros do hospital sejam formalmente comunicados de que a adoção da manobra de Kristeller está proscrita [banida] e passem por treinamentos sobre métodos humanizados de parto”. O Grupo NotreDame disse que “toda a equipe de saúde” do SacreCoeur passou por treinamentos em parto humanizado.

A procuradora Ana Carolina Previtalli Nascimento, autora dos pedidos, também quer que cartazes sejam afixados na unidade alertando o público e a equipe médica para a proibição do procedimento.

Esta já é a sexta recomendação expedida pelo MPF a hospitais e órgãos de saúde na capital paulista por práticas consideradas agressivas nos partos. Além da manobra de Kristeller, são alvo da investigação a realização do corte na região da vagina para facilitar a saída do bebê (episiotomia), a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), maus tratos verbais, cesarianas sem necessidade e contra o desejo da parturiente, entre outros procedimentos inadequados.

Para denunciar violência obstétrica, as mulheres podem procurar o MPF pelo site www.cidadao.mpf.mp.br ou pessoalmente em qualquer unidade do MPF.

tópicos:
veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de