Rio

Moradores do Horto fecham Rua Jardim Botânico em protesto contra demolição de casa

Polícia faz operação de reintegração de posse na região. Clima é tenso
Batalhão de Choque usa spray de pimenta para descocupar uma casa dentro do terreno do Jardim Botânico, no Horto Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Batalhão de Choque usa spray de pimenta para descocupar uma casa dentro do terreno do Jardim Botânico, no Horto Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO -  Moradores do Horto, no Jardim Botânico, bloquearam os dois sentidos da Rua Jardim Botânico, na altura da Rua Pacheco Leão, na tarde desta segunda-feira, contra a ação da Polícia Militar. Muitas pessoas chegaram a se sentar no asfalto. A via ficou fechada por cerca de duas horas, e foi reaberta às 18h15m. A PM realiza uma operação de reintegração de posse de uma casa na região, que já está sendo demolida. Até o momento, uma pessoa foi detida, suspeita de derrubar uma motocicleta da corporação.

De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura, os motoristas devem seguir pela Lagoa. Há retenções nos dois sentidos da Avenida Borges de Medeiros;  na Avenida Epitácio Pessoa, sentido Túnel Rebouças; e no sentido Gávea da Rua Jardim Botânico, desde a altura do Parque Lage.

Policiais do Batalhão de Choque usaram spray de pimenta e bombas de efeito moral para dispersar moradores que estavam no principal acesso ao conjunto de casas no Horto. Durante a ação, houve correria e resistência por parte da população. Um grupo chegou a arremessar uma bomba, mas ninguém se feriu.

A moradora Ana Carolina da Silva, de 26 anos, disse que foi atingida nas costas por uma bala de borracha durante a confusão:

— A polícia atirou de fora (do local de onde estavam os moradores) para dentro. Não havia motivo para atirarem. Eu, mesma distante, acabei atingida — afirmou ela, que nasceu no local.

Do lado de dentro da casa, os policiais fizeram um cordão de isolamento. O clima ficou bastante tenso. Policiais do Batalhão de Choque usaram spray de pimenta nos manifestantes e bombas de gás lacrimogêneo. Mais cedo, um grupo de moradores se deitou no principal acesso ao conjunto de casas. Eles gritaram palavras de ordem e impediam a entrada do caminhão de mudança.

Os policiais interditaram por cerca de 50 minutos os dois sentidos da Rua Pacheco Leão, na altura do Horto, que só foi liberada depois das 13h.

Moradores também atearam fogo em lixo e galhos de árvores próximo ao conjunto de casas, para dificultar a desocupação. Na operação, há ainda a participação de policiais do 23º BPM (Leblon), do 2º BPM (Botafogo), do 16º BPM (Olaria) e de seguranças do Jardim Botânico.  Duas ambulâncias do Corpo de Bombeiros estão na área. Pelo menos uma mulher foi socorrida após ser ferida com uma bala de borracha. Algumas pessoas estão passando mal devido ao gás lacrimogêneo.

JARDIM BOTÂNICO FECHADO

Em nota, o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico disse que ficará fechado nesta segunda-feira e que "o ato de atear fogo a um bambuzal situado no interior do Jardim e a destruição de equipamentos do Aqueduto histórico, fundamentais para a irrigação das plantas, são atos criminosos e geradores de danos e ameaças graves".

A instituição disse ainda que repudia "fortemente essa demonstração de desrespeito à lei, de desapreço ao Jardim Botânico e atitude de chantagem contra um patrimônio histórico do Brasil e da humanidade, conforme titulação da Unesco".

O instituto acrescenta que "respeita o livre direito de manifestação e expressão de todos os envolvidos no cumprimento da decisão judicial de reintegração de posse com trânsito em julgado há quase dois anos e ajuizada pela União na década de 80".

Uma fotógrafa do GLOBO foi cercada por um grupo de moradores quando fazia a cobertura da reintegração de posse. Aos gritos, impediram que a profissional fizesse imagens da manifestação no principal acesso ao conjunto de casas. Policiais militares protegeram a profissional de agressão

ALERTA NAS REDES SOCIAIS

Neste domingo, uma moradora divulgou um alerta pelas redes sociais. “Comunicação urgente. Atenção moradores e amigos da comunidade do Horto. Segunda-feira haverá tentativa de remoção na comunidade comandada pelo Jardim Botânico. Todos em alerta, pois como temos várias famílias notificadas temos que nos concentrar para descobrir quem serão as vítimas desta vez. Não aceitaremos nenhuma casa a menos”.

Moradores se sentam em cadeiras e deitam no chão para impedir a entrada da polícia Foto: Márcia Foletto / O Globo
Moradores se sentam em cadeiras e deitam no chão para impedir a entrada da polícia Foto: Márcia Foletto / O Globo

Em nota, os moradores disseram que se organizaram para impedir a ação. "Moradores e apoiadores estão em frente à casa, enquanto advogados buscam a defesa dos moradores ameaçados, que não tem para onde ir". Eles dizem ainda que "um oficial de justiça tenta cumprir à força mais um mandado de despejo, sem que seja dada alternativa à família. Os moradores resistem coletivamente".

A nota diz ainda que "os moradores apresentaram em 2008 um projeto de regularização fundiária, desenvolvido pela FAU UFRJ, em pareceria com a Secretaria do Patrimônio da União. Os moradores lutam pelo reconhecimento da ocupação como um todo e do seu histórico (contra o tratamento judicial individual), e pela regularização fundiária a que têm direito".

PERÍMETRO HISTÓRICO

Moradores impedem entrada de carro da PM no Jardim Botânico Foto: Márcia Foletto / O Globo
Moradores impedem entrada de carro da PM no Jardim Botânico Foto: Márcia Foletto / O Globo

Em 5 de maio de 2013, a então ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, esteve no Rio para anunciar a decisão do governo federal de fazer o registro em cartório do perímetro histórico do Jardim Botânico e de reintegrar ao parque as terras ocupadas por 520 famílias. Quase três anos depois, a ministra voltou à instituição para informar que, depois de muitas idas e vindas, os 130 hectares delimitados, finalmente, constam do Registro Geral de Imóveis (RGI) em nome da União.