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Austeridade, eficiência e carisma – por que a Chape é referência para todo o futebol

Austeridade, eficiência e carisma – por que a Chape é referência para todo o futebol

Consolidada na primeira divisão, finalista de uma competição internacional e xodó de adversários, a Chapecoense cresceu graças a uma gestão incomum no futebol brasileiro

RODRIGO CAPELO
29/11/2016 - 15h13 - Atualizado 29/11/2016 18h00
O torcedor da Chapecoense na Arena Condá (Foto: Getty Images)

A queda do avião que levava a Chapecoense para a Colômbia na madrugada desta terça-feira (29) sacrifica a ascensão de um clube que virou referência. O sucesso dentro de campo é claro – da quarta divisão em 2009 até a vaga na final da Copa Sul-Americana em 2016, estabelecidos entre os grandes clubes nacionais na primeira divisão há três temporadas, os catarinenses fizeram o que nenhuma outra equipe fez na história recente do futebol brasileiro. Mas os resultados não são tudo. A Chape é um exemplo de administração.

A história da Chapecoense se divide em duas partes, digamos. A primeira começou em 1973, ano da fundação, e terminou em 2005. Àquela altura o clube estava endividado e beirou a falência. Um grupo de empresários da região de Chapecó, no interior de Santa Catarina, juntou dinheiro para pagar parte das dívidas acumuladas até ali, assumiu a administração e implantou uma nova gestão, mais austera, que dedicava parte das receitas do futebol para quitar o endividamento herdado de gestões anteriores.

A Chape não é uma empresa no sentido jurídico. A estrutura é a de associação, comum em todo grande time de futebol brasileiro, na qual um Conselho Deliberativo elege uma diretoria executiva. Mas a maneira como o dinheiro é administrado a difere. O faturamento do clube aumentou 40% de 2014 para 2015 e chegou a R$ 47 milhões. Na cabeça do cartola ordinário do futebol brasileiro, seria hora de gastar. Não aconteceu. A Chape elevou as despesas, mas em 32%. O teto salarial para um jogador é R$ 90 mil mensais. Com isso houve superávit de R$ 2,8 milhões em 2015. Sobrou dinheiro no caixa no fim da temporada, uma “façanha” que poucos cumprem no país.

As dívidas do clube estão equacionadas. Enquanto o Botafogo chegou ao fim de 2015 com mais de R$ 700 milhões devidos, entre débitos com bancos, atletas e governo, a Chapecoense deve apenas R$ 5 milhões. Os dados de endividamento são calculados pelo Itaú BBA. É a menor dívida da primeira divisão nacional, para lá de confortável.

A maneira como a Chapecoense arrecada é peculiar. É comum que times menores, conforme chegam à primeira divisão, passem a ter a maior parte de seus orçamentos vinculados à TV. Na Chape a dependência é menor. De toda a receita em 2015, 53% vêm da televisão, 16% do departamento comercial – o patrocínio de R$ 4 milhões da Caixa é a principal fonte nesta área – e 8% vêm de transferências de atletas. Os 23% restantes, parcela relevante, têm origem na torcida com ingressos e mensalidades de sócios.

A diferença financeira entre a Chape e rivais como Palmeiras e Flamengo, claro, continua gritante. Os R$ 47 milhões anuais que os catarinenses arrecadaram em 2015 mal se comparam a receitas em R$ 350 milhões de palmeirenses e flamenguistas. Mas a equipe de Chapecó tem algo que paulistanos e cariocas não têm: a simpatia de todo torcedor, inclusive dos adversários. A Chapecoense se posiciona de maneira carismática em redes sociais e na mídia. Arrisca tomar o lugar de xodó de rivais como a Portuguesa, hoje falida.

A tragédia na Colômbia não vai acabar com a Chapecoense. Mas impõe um terrível revés para um clube que fazia, dentro e fora de campo, tudo aquilo que adversários mais famosos não conseguiam. A queda do avião matou não só a maior parte dos atletas da equipe catarinense, mas Sandro Pallaoro, presidente do clube e membro da diretoria desde 2008. A Chape, mais que tudo, vai precisar da mobilização de dirigentes e torcedores adversários para se reerguer.

Tomara que aconteça.

A ascensão da Chapecoense (Foto: Arte ÉPOCA)

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