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Tunísia: o berço da Primavera Árabe

País inspirou revolução em países vizinhos, mas também foi alvo de atentados recentes

Tunisianos se reúnem na praça Mohamed Bouazizi em Sidi Bouzid, Tunísia, em dezembro de 2011. Mediadores da transição política no país ganharam o Prêmio Nobel da Paz
Foto: Fethi Belaid / AFP
Tunisianos se reúnem na praça Mohamed Bouazizi em Sidi Bouzid, Tunísia, em dezembro de 2011. Mediadores da transição política no país ganharam o Prêmio Nobel da Paz Foto: Fethi Belaid / AFP

TÚNIS - Desde o início da Primavera Árabe, em dezembro de 2010 na Tunísia, é a primeira vez que o academia responsável pelo Prêmio Nobel da Paz presta homenagem a algum grupo envolvido com a onda revolucionária que se espalhou pelo norte da África e pelo Oriente Médio. A população tunisiana deu início ao movimento que transformaria a formação política de vários países árabes que lutaram para ver os regimes autoritários, em vigor até então, cair. no norte da África e no Oriente Médio. A partir da queda do ditador tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali, Egito, Iêmen e Líbia acompanharam o sentimento de revolta na luta pela democracia.

Foi o suicídio do vendedor de frutas Mohamed Bouazizi, que ateou fogo ao próprio corpo como protesto contra a pobreza e a corrupção na Tunísia, que desencadeou a onda de manifestações contra Ben Ali. O ditador subiu ao poder na Tunísia em 1987 e foi retirado do poder em janeiro de 2011. Foi o primeiro dos líderes árabes a cair e também o primeiro a ser condenado: 35 anos de prisão sob acusação de roubo e posse ilegal de joias e grandes quantias de dinheiro.

O Quarteto de Diálogo Nacinal da Tunísia exerceu papel fundamental como mediador na transição da democracia no país. A partir de negociações no país, a Tunísia aprovou uma nova constituição e um Parlamento reconfigurado em outubro do ano passado e os partidos rivais, leigos e islâmicos, conseguiram evitar amplamente os conflitos que enfrentam outros países que acompanharam a Primavera Árabe.

Em novembro de 2014, os tunisianos foram às urnas para participar das primeiras eleições livre no país como passo final para a transição. No entanto, no segundo turno a vitória ficou com Beji Caid Essebsi, que obteve 55,68% dos votos em dezembro. Considerado anti-islamita, o novo presidente pautou sua campanha nas acusações contra o concorrente Marzouki, a quem creditava a “ruína” do país logo após a revolução que depôs Ben Ali no início da Primavera Árabe.

Apesar da ligação com o autoritarismo do país, Essebsi atuou como primeiro-ministro interino depois da revolta e participou do caminho para as eleições constituintes. Críticos ao ex-presidente do Parlamento afirmavam que a vitória seria um retorno aos tempos de Ben Ali.

Parte da população não se satisfez com os resultados e postos de votação foram incendiados. Manifestantes também atearam fogo em um escritório do partido Nidaa Tounes em Tataouine, no sul do país. Confrontos com a polícia foram registrados em cidades como Hamma, outra cidade da região, a partir de manifestações contrárias a Essebsi.

ATENTADOS EXTREMISTAS

Mesmo com a mudança nos rumos políticos da Tunísia, o país foi alvo de ataques extremistas este ano. Em março, 22 pessoas morreram em um ataque ao Museu do Bardo, ao lado do prédio do Parlamento na capital Túnis. A maior parte das vítimas eram turistas europeus. O governo tunisiano matou o principal suspeito de orquestrar o ataque em uma operação contraterrorista. Lokman Abu Sakhr, líder do grupo Okba Ibn Nafaa (braço da al-Qaeda no Magreb Islâmico), foi morto com outros oito jihadistas.

Em junho, o Estado Islâmico reivindicou o atentado que matou 39 pessoas e feriu 36 em um resorte na praia de Sousse, um dos balneários turísticos do país. A polícia tunisiana deteve oito pessoas, incluindo uma mulher, por ligações diretas com o massacre.