Há 10 anos, o técnico Caio Júnior fazia história e colocava o Paraná - pela primeira vez na história do clube - na Taça Libertadores. Naquele 3 de dezembro de 2006, o time paranaense ficou no empate sem gols com o já campeão São Paulo, em uma Vila Capanema lotada (16.172 pagantes), pela última rodada do Brasileirão. Beneficiado pelo empate do seu concorrente direto, o Vasco, com o Figueirense em Florianópolis, o Tricolor garantiu o quinto lugar na competição.
Aquele trabalho no Paraná colocaria Caio Júnior em evidência no futebol brasileiro. Antes, ele já tinha comandado o próprio Paraná, o Cianorte, o Londrina, o Juventude e o Gama. Depois, trabalhou no Palmeiras, Goiás, Flamengo e foi para o exterior treinando o Vissel Kobe-JAP e o Al Gharafa-EAU. Caio ainda comandou o Botafogo, Grêmio, Al-Jazira-CAT, Bahia, Vitória, Criciúma e Al-Shabab-EAU e voltou a treinar um time brasileiro quando aceitou o convite da Chapecoense.
O feito histórico de Caio Júnior e seus comandados completa 10 anos no sábado, em um momento triste a todos com a tragédia que matou 71 pessoas na queda do avião que levava a Chapecoense para Medellín, na disputa da final da Copa Sul-Americana. O corpo do técnico está previsto para chegar a Curitiba neste sábado, quando ele será velado em cerimônia reservada a amigos e familiares. No domingo, às 9h, uma missa aberta em sua homenagem será realizada na Igreja dos Passarinhos, na Alameda Princesa Isabel, 1840. Casado, Caio deixa a mulher e dois filhos.
caio júnior: "joguem por mim"
O Paraná de Caio Júnior precisava vencer o São Paulo, que tinha sido campeão brasileiro com três rodadas de antecedência, para garantir a vaga na Libertadores sem depender do resultado de Figueirense x Vasco. Por conta disso, os paranistas tentaram tomar a iniciativa, mas Cristiano, Edmílson e Sandro pecaram na pontaria. No único lance de perigo dos visitantes, Flávio saltou e espalmou a bola que entraria no ângulo. Na etapa final, o Tricolor - que passaria a jogar com um a mais após Rodrigo Fabri ser expulso - manteve a postura mais ofensiva. Porém, Edmílson (mais uma vez ele), Leonardo e Joelson ficaram no quase.
Quando o cronômetro na Vila Capanema marcava 49 minutos e 40 segundos, o jogo do Vasco contra o Figueirense acabou. Com o 0 a 0 em Florianópolis, Caio Júnior e companhia começaram a festejar a classificação histórica. Logo na sequência, Alício Pena Júnior apitou o final da partida, selando a ida do Paraná à Libertadores. Na época, Caio analisou a partida e falou das dificuldades:
- Eu sabia que ia ser emocionante, né? Estava muito quente hoje, foi um
dia atípico aqui em Curitiba, todo mundo sentiu, o próprio time do São
Paulo. Nós tivemos oportunidades, mas, contra o campeão brasileiro, com
qualquer equipe, sempre é difícil. Essa nação tricolor está de parabéns,
foi maravilhoso - falou em entrevista à RPC após aquela partida.
Na época repórter, o atual apresentador do Globo Esporte no Paraná, Rogério Tavares, relembra o trabalho de Caio Júnior no Paraná Clube de 2006 e fala sobre o discurso do treinador na época. Em início de carreira, ele pedia ao grupo para jogar por ele:
- Fiz muitas matérias com o Caio Júnior, e o Caio sempre foi um cara muito tranquilo, muito humilde. Para o Brasil, era algo bem diferente porque ninguém botava fé. E é aquilo que ele falou em uma reportagem: todo mundo achava que era cavalo paraguaio porque, uma hora, o Paraná não ia aguentar. E eu tenho de fonte que dizia que quem segurava o barco era ele. O Caio chegava no vestiário e falava: "gente, vocês talvez não precisem, você está rico, mas eu preciso, eu preciso disso aqui, então joguem por mim". E o time abraçou ele. Não era um treinador que o jogador respeita porque estava começando e boleiro é difícil. Mas ele, com aquele discurso, conquistou. Muitos falavam "a gente jogou pelo Caio, pelo papo dele" - afirmou o apresentador.
caio, um técnico democrático
O Paraná de Caio Júnior terminou aquele Campeonato Brasileiro no quinto lugar, com 18 vitórias, seis empates e 14 derrotas. O time, porém, demorou a deslanchar. Na sétima rodada, por exemplo, só tinha vencido uma partida e era o 18° colocado. Mas, nas rodadas seguintes, conquistaria seis vitórias: 5 a 2 sobre a Ponte Preta, 3 a 0 no Santa Cruz, 2 a 1 sobre o Goiás, 4 a 1 no Flamengo, 2 a 1 sobre o Atlético-PR e 1 a 0 no Cruzeiro. O Tricolor variou entre o terceiro e o sétimo lugar até o final, garantindo vaga na Libertadores na última rodada. O atacante Leonardo relembra o discurso de motivação de Caio Júnior durante aquele temporada:
- Lembro que ele falava que aquele poderia mudar nossas vidas. Seria a valorização profissional e a chance de entrar para a história, ele tocava bastante nesses dois pontos. O Caio era um cara bem paizão, humilde, não era autoritário. Sempre chamava quatro ou cinco jogadores para conversar e pedir opiniões. Tinha o respeito de todos porque era respeitado - falou o atacante Leonardo, hoje sem clube, em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com na quinta-feira.
Caio Júnior conquistava o grupo também por ser um técnico democrático. Ele costumava dar espaço para que os jogadores opinassem sobre vários aspectos. Uma dessas reuniões, segundo Leonardo, teve papel decisivo para a arrancada do time e a conquista da vaga:
- Tivemos uma sequência de resultados ruins, chegamos a ficar fora do G-5, estávamos insatisfeitos porque o time chegou a jogar com três zagueiros e três volantes. Ele reuniu o grupo, pediu a opinião do grupo e cada um expôs. Aí falamos que estava faltando esse poderio ofensivo. Ele respeitava bastante o grupo. Aí mexeu no time, fortaleceu o ataque e conseguimos melhorar, fazendo bons jogos e garantindo a vaga na Libertadores - completou.
Confira a ficha de Paraná 0x0 São Paulo
Paraná Clube: Flávio; Peter, Dubinha, João Paulo e Eltinho (Gerson); Pierre, Sandro, Batista (Henrique Dias) e Beto; Cristiano (Joélson) e Leonardo. Técnico Caio Júnior
São Paulo: Bosco; Alex Silva, André Dias, Edcarlos e Lúcio; Ramalho, Richarlyson, Souza e Rodrigo Fabri; Thiago Ribeiro (Allan Dias) e Alex Dias (Edgar). Técnico Muricy Ramalho
Estádio: Vila Capanema, em Curitiba
Data: 3 de dezembro de 2006, domingo
Cartões amarelos: Peter, Beto e Leonardo (Paraná); André Dias e Ramalho (São Paulo)
Cartão vermelho: Rodrigo Fabri (São Paulo)
Público e renda: 16.172 pagantes; R$ 241.030,00
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