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Sócio da LaMia nega fim da empresa e
justifica preço mais baixo: "Marketing"

Em TV da Argentina, Marco Venegas fala pela primeira vez do acidente, defende-se
de acusações, mas diz que não faria trajeto direto Santa Cruz de la Sierra–Medellín

Por Buenos Aires, Argentina

Avião Chapecoense Lamia (Foto: Reprodução/Twitter)Avião da LaMia que transportou a Chapecoense era único da empresa na ativa (Foto: Reprodução/Twitter)

Dias depois do acidente aéreo que vitimou quase todo o elenco da Chapecoense e se transformou na maior tragédia da história do futebol mundial, com 71 mortos, o segundo dono da "LaMia" rompeu o silêncio. Em entrevista ao programa "Liberman en Líne", do "Canal 26" na Argentina, o boliviano Marco Rocha Venegas, acionista da empresa ao lado do piloto Miguel Alejandro Quiroga Murakami, que morreu na queda, defendeu-se das múltiplas acusações que vem sofrendo.


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Venegas negou que sua empresa voasse sempre com o limite de combustível e que havia relações diretas com a Conmebol, além de considerar precipitada a hipótese da pane seca e do fim da "LaMia" – que está suspensa pela Agência Aeronáutica da Bolívia. O dono da empresa, que também é piloto, porém disse que não faria o trajeto direto entre Santa Cruz de la Sierra e Medellín e justificou os preços mais baixos como "marketing" para entrar no mercado.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Canal 26: Como diretor de operações da LaMia, qual é sua versão oficial?

Venegas:
Não podemos ainda emitir um informe oficial. Neste momento há que atender a parte humanitária, ver como podemos apoiar a todas essas famílias. Lamentamos muito o que aconteceu.

Há muitas versões, como a que o piloto tomou uma má decisão. Ele se arriscou ao não fazer a escala técnica?

São especulações correndo por todos os lados, sem informações confiáveis. Vamos dar uma resposta oficial, por mais dura que seja, mas devemos chegar a fundo disto.

Você não confirma...

Não. Estamos na investigação, depois disso haverá um pronunciamento oficial onde se indicará o que aconteceu.

Quanto tempo demora a informação da caixa preta?

Existem passos protocolares que precisamos seguir para que inclusive o seguro seja responsável, diferentes passos que há que seguir. Hoje (quinta-feira) está chegando nosso representante do seguro em Londres e ele é quem vai liderar o tema da investigação. A partir daí, vamos correr com a investigação mais rapidamente.

Caixa preta Chapecoense, Lamia (Foto: Twitter / Aeronáutica Civil)Caixas pretas do avião da LaMia foi levada para ser investigada na Inglaterra (Foto: Aeronáutica Civil)

É certo que o seguro estava muito abaixo do que deveria ser?

Não, é o seguro que normalmente se pede para este tipo de aeronaves.

Estava em dia o seguro?

Sim, sim, está pago. E mais, para descartar esse rumor, pedi ao seguro que assuma toda a responsabilidade civil.

O avião estava em condições de cobrir o voo direto Viru Viru-Medellín?

Antes de realizar um voo se faz uma análise das condições meteorológicas, dos ventos e afins. Depois disso se determina se o avião pode chegar com combustível suficiente, mais a possibilidade de ir a um (aeroporto) alternativo, mais 20 minutos, e dependendo das condições é que se determina isso. Não é uma regra que siga A ou B. Se faz uma análise do voo antes de decolar.

Pode explicar por que todo o mundo dá por certo que o avião caiu sem combustível?

Todo o mundo está tomando conclusões precipitadas. Um diz uma coisa, o outro diz outra, e no final tudo fica como se fosse uma verdade, mas creio que é preciso esperar um pouco e ver o que aponta a investigação.

É verdade que o piloto era acionista da companhia?

É correto.

Você considera que este senhor estava são, um senhor que poria em risco sua vida e a dos demais?

Era um piloto com bastante experiência.

É verdade que fazer uma escala técnica custa entre U$ 6.000 e U$ 7.000 (cerca de R$ 24 mil), por isso não foi feita?

Não saberia te dizer. U$ 7.000 não valem uma vida.

Que há de verdade que vocês teríam um negócio com a Conmebol?

Não, não, nunca. Na verdade nem conhecemos as pessoas da Conmebol. O que fazíamos era oferecer nossos serviços aos clubes e mandávamos para eles nossa oferta.

É verdade que vocês estavam abaixo do preço que ofertavam os demais?

Dávamos um preço razoável, inclusive promocionais. A companhia tem um ano de vida. O que estávamos fazendo era marketing.

Interior do avião da companhia Boliviana Lamia  (Foto: Reuters)Interior do avião da companhia Boliviana Lamia (Foto: Reuters)

É verdade que tem têm aviões e os outros estavam quebrados?

Alugamos os aviões. Na Bolívia temos três aviões. Destes, um estava para manutenção; o outro saiu porque teve um problema no trem de aterrissagem, e este (que se acidentou).

LaMia deixa de existir?

Isso é muito apressado, haverá que analisar bem e ver o que se pode fazer.

Você é acionista?

Sou parte dps acionistas. Somos dois, nada mais.

Você e o piloto?

Correto.

Tem medo do que virá?

A aviação é um negócio arriscado, muito caro. Quem entra neste negócio sabe.

Você também é piloto? 

Sim.

É verdade que vocês sempre iam ao limite com o combustível?

Não, sempre velamos pela segurança. Neste momento temos uma grande dor, um grande peso em cima, e isso não tem preço. A dor que sentimos merece o pior castigo. Perdemos pessoas queridas, gente que não vamos poder recuperar. É uma dor muito grande.

Você voaria (trajeto) Viru Viru-Medellín?

Não.

O que você não sabe é por que seu companheiro fez isso...

Sim, o que queremos é isso: determinar o que foi que aconteceu.

INFO - acidente avião chapecoense v3 (Foto: Editoria de Arte)