Por Kleber Thomaz e Paula Paiva Paulo, G1 SP


Elize é aconselhada pela advogada Juliana Santoro em seu 7º dia de julgamento — Foto: Reprodução/TV Globo

Elize Matsunaga, acusada de matar o marido Marcos Matsunaga, começou a ser interrogada na manhã domingo (4) no 7º dia de julgamento pela morte empresário. A ré disse que “não estava normal” quando atirou e disse que se arrependeu de ter atirado. Elize afirmou também que atirou em Marcos antes de ver o vídeo da traição do marido com uma amante. O crime ocorreu em 19 de maio de 2012.

Na madrugada desta segunda-feira (5), o juiz deu a sentença condenando Elize a 19 anos, 11 meses e 1 dia de prisão.

"Eu poderia ter feito um milhão de coisas, mas eu não estava normal naquela hora. Eu não estava normal", disse Elize ao ser indagada pelo juiz Adilson Paukoski sobre o motivo de ter atirado no marido.

O júri é realizado desde segunda-feira (28) no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. O 7º dia do julgamento teve início por volta das 10h20 com interrogatório da ré.

O juiz perguntou porque Elize optou pelo tiro. 'Não é optar pelo tiro. Eu estava sentindo um bando de coisas', disse ela, que disse estar se sentindo ameaçada.

Na noite do crime, Elize conta que resolveu tirar satisfações após descobrir a traição do marido.

Depois de Marcos voltar com a pizza para o apartamento, imagem gravada pelas câmeras internas do prédio, Elize conta que ficou com o marido e a bebê dormindo no quarto do imóvel.

"Nessa hora não aguentei e falei para ele parar de mentir", disse à vítima. "Eu já sei de tudo. Contratei um detetive". Segundo ela, Marcos a chamou de vaca, vagabunda e deu um tapa no seu rosto. Ela conta que ficou com medo da reação do marido que estava com uma outra arma próxima a ele.

Então, Elize pegou uma pistola .380. "Aí fui para a sala e peguei uma arma", disse. "Ele gostava de armas. Passei a me interessar por armas depois que o conheci. Ele tinha medo de invadirem o apartamento. Eram armas de defesa", explicou ela sobre quando aprendeu a atirar.

A acusada conta que só queria mostrar para Marcos que estava armada para intimidá-lo, mas não queria atirar. "Na hora que peguei a arma eu me arrependi. O que eu estou fazendo?", questionou.

Elize conta que só apontou a arma para o marido porque ele foi para cima dela. “Só apontei, não mirei. Eu não queria atirar nele'.

Ilustração mostra Elize Matsunaga respondendo a perguntas do juiz — Foto: Roberta Jaworski/Editoria de Arte/G1

A acusada disse que estava com a arma apontada na direção da cabeça e pescoço da vítima. "Ele começou a rir e falou que eu era uma puta".

"Quando ele falou que eu não ia ver mais minha filha, eu não aguentei. Eu disparei. É só vi que acertou na cabeça', diz ao juiz aos prantos 'Eu só atirei. Eu estava com um turbilhão de emoções”, relatou. “Quando eu vi ele caído, eu fiquei desesperada”, disse.

Segundo Elize, desentendimentos começaram quando ela descobriu a primeira traição. Elize disse que ficava brava quando Marcos falava mal de sua família. "Chamava meu pai de vagabundo". "Se eu segui um caminho torto não é culpa deles", afirmou a ré, chorando, ao falar da família.

Elize diz que ela e Marcos abatiam animais a tiros para comer, como veado, porco do mato, perdiz e javali. Disse ainda que o casal costumava desossar os animais.

Perguntada se arrependia do crime, Elize disse: "'Muito. Infelizmente não posso voltar no tempo".

O juiz perguntou de onde ela mandou e-mails para a família de Marcos se passando por ele. "De casa", respondeu Elize. Ela afirmou que julgava que o marido estivesse morto quando cortou o pescoço dele. Disse que os sacos plásticos usados para colocar corpo de Marcos foram comparados em supermercado.

"Quando detetive disse que ele estava me traindo, eu senti um alívio porque eu não era louca", diz Elize.

Homicídio
Ela responde por homicídio triplamente qualificado: motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima, o que pode agravar a pena. Elize também responde por destruição e ocultação de cadáver.

Nesta quinta-feira (1°), os advogados de defesa afirmaram que Elize ficará em silêncio durante os questionamentos da acusação. “Elize não irá responder as perguntas da Promotoria e da assistência da acusação”, disseram os advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio, que defendem a acusada. Eles, no entanto, não explicaram porque a ré ficará em silêncio quando for interrogada pelo promotor José Carlos Cosenzo e pelo assistente, o advogado Luiz Flávio d'Urso.

Esquartejamento
Após atirar em Marcos, Elize conta que arrastou o corpo do marido até o quarto para escondê-lo. “Eu não sabia o que iria fazer”.

Ela chegou a usar produtos de limpeza para limpar o rastro de sangue. “Fiquei pensando desesperada o que iria fazer”.

O juiz Adilson Paukoski indagou porque ela fez tantos cortes no corpo de Marcos. “Porque ele era pesado”, disse.

Ela conta que começou a esquartejar a vítima pelos joelhos. “Era mais fácil para fazer porque eu sabia que só tinha ligamento. Depois, cortei a barriga”, detalhou.

Após cortar todo o corpo, Elize afirmou que colocou as partes em um saco e depois colocou os pedaços na mala. Segundo ela, o esquartejamento ocorreu após a chegada da babá no dia 20 de maio, um dia após o crime.

Veja as etapas que faltam do julgamento de Elize:

Elize será interrogada pela promotoria, defesa e jurados;

Começam os debates entre a acusação e a defesa. O primeiro a falar é o promotor, que tem 1h30 para a acusação. Antes dos debates, podem ser lidas peças e exibidos vídeos;

O advogado também tem 1h30 para a defesa;

Em caso de réplica e tréplica cada parte terá 1 hora para explanações;

Considerando cada uma das teses alegadas pelas partes, o juiz formula os quesitos (perguntas) que serão votados pelo conselho de sentença e os lê, em plenário, para os jurados que deverão se manifestar se sentem-se preparados para julgar;

Um oficial de justiça recolhe as cédulas de votação de cada um dos quesitos. Os votos são contabilizados pelo juiz;

Voltando ao plenário, o juiz pede que todos se levantem e dá o veredicto em público. Estipula a pena e encerra o julgamento.

Elize Matsunaga (esq.) durante nova sessão do julgamento, neste sábado (3) — Foto: Reprodução/TV Globo

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