Rio

Manifestantes tentam invadir a Assembleia Legislativa do Rio

Polícia dispersa grupo com spray de pimenta e bombas de efeito moral
Policiais usam bombas de efeito moral contra manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / O Globo
Policiais usam bombas de efeito moral contra manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / O Globo

RIO - Manifestantes tentaram, por três vezes, derrubar a grade de proteção para invadir a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), pelos fundos, na Rua São José, na tarde desta terça-feira. Em resposta, policiais militares lançaram spray de pimenta e bombas de efeito moral na direção do grupo. O cheiro de gás se espalhou pelas dependências da Casa.

Os manifestantes dispersaram por volta das 16h30m. Durante o protesto, a deputada Cidinha Campos (PMDB) foi hostilizada por cerca de 50 pessoas no restaurante Bistrô do Paço Imperial, ao lado da Alerj, quando almoçava e bebia espumante. Eles gritaram: "Au au au, Cidinha, capacho do Cabral". A deputada foi socorrida por seguranças e levada para o Palácio Tiradentes.

Um policial civil há 30 anos na ativa usou o microfone do carro de som para dizer que o ato hostil a Cidinha Campos se deveu ao fato de ela estar bebendo champanhe.

— Ela recebe uns R$ 60 mil. Ela pode. Mas se fosse um fim de semana, uma sexta-feira ainda vai. Mas hoje, diante de uma manifestação? Há 1.400 assessores de deputados na Alerj. Eles se revezam porque não cabe todo mundo. E dão parte do salário de R$ 5 mil para os deputados — acusou.

Deputada Cidinha Campos é vista almoçando e bebendo espumante ao lado da Alerj e é hostilizada por manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Deputada Cidinha Campos é vista almoçando e bebendo espumante ao lado da Alerj e é hostilizada por manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Os manifestantes pressionavam os deputados a rejeitarem o pacote de ajuste do governo do estado. Eles expuseram cartazes nas grades. Discursos inflamados contra a corrupção, privilégios e mordomias de servidores dos três poderes tomaram conta da manifestação. Policiais militares de várias unidades cercaram o prédio histórico. Homens da Força Nacional de Segurança, utilizando escudos, ocupavam os últimos degraus da escadaria da Alerj. Na Rua São José, lateral ao prédio, há um grande veículo blindado com um equipamento para lançar jatos d'água.

Um grupo, que participava do ato, cobriu o rosto da estátua de Tiradentes, que fica em frente à Casa, de costas para o palácio.

HOMENAGEM AOS MORTOS EM ACIDENTE AÉREO

Pela manhã, um manifestante subiu no carro de som e pediu um minuto de silêncio em homenagem aos mortos no acidente de avião que matou 76 pessoas na Colômbia , entre elas jogadores da Chapecoense, que disputariam na quarta-feira a final da Copa Sul Americana, jornalistas e tripulantes. Por volta do meio-dia, os manifestantes um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do acidente aéreo na Colômbia.

O comandante do Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos (BPVE), tenente-coronel Ribens Pinheiro, caminhou em meio aos manifestantes cumprimentando muitos deles e pedindo paz no ato. Ele chegou a usar o microfone do carro de som para cumprimentar a todos, pedir paz, e disse que "uma boa manifestação é um bom trabalho para ele".

No protesto, havia servidores  que vieram de longe, como o técnico em meio ambiente da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenfe) Cristiano Peixoto Maciel:

— Saímos às 4h30m de Campos para reclamar pela Uenfe. Estamos há 14 meses sem receber nenhuma verba de custeio, só salário e assim mesmo parcelado. A empresa de segurança da universidade cancelou o contrato por falta de pagamento e foi embora. A de limpeza já anunciou que vai embora no mês que vem. Equipamentos milionários estão sendo destruídos por falta de manutenção e de uso. Pesquisas de ponta estão sendo deixadas de lado. O futuro do país está sendo deixado de lado por falta de ajuda do governo — afirmou. Ele veio em um grupo de 46 servidores.

Estátua de Tiradentes é coberta pelos manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Estátua de Tiradentes é coberta pelos manifestantes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A pensionista Teresa Fernandes foi ferida no braço direito por bomba de efeito moral. Ela foi socorrida por voluntários da Cruz Vermelha. O analista judiciário do Tribunal de Justiça Luiz Sérgio Braga criticou a falta de reajustes salariais:

— Não é o servidor público o causador da falência do poder público. São as concessões e outros desvios que, infelizmente, não sei se o Ministério Público vê.

Nesta terça-feira, serão votados o projeto que limita a despesa pessoal dos três poderes em 70% do aumento real da receita corrente líquida do ano anterior; pagamento de servidores com 40% das receitas dos fundos estaduais (os dois dentro do pacote do governo enviado à Alerj); e projeto que prevê a anulação do decreto que extingue o Aluguel Social a partir de junho do ano que vem.
Além disso, serão votadas medidas anunciadas na semana passada pela Mesa Diretora da Casa, entre elas a que extingue a frota de veículos oficiais a partir de dezembro de 2018 e a que prevê a realização de sessões solenes somente no horário de expediente normal, o que geraria economia de luz e horas extras.