Pessoas seguram fotos de Fidel Castro durante a chegada da caravana que percorre o país com as cinzas do ex-presidente cubano em Las TunasEntre tudo o que se disse a respeito de Cuba depois da morte do ditador Fidel Castro, um assunto pouco explorado foi o papel da imprensa na criação do mito do revolucionário barbudo de charuto na boca, que lutava no meio da mata contra a ditadura corrupta de Fulgêncio Batista. No livro O homem que inventou Fidel, tema de minha coluna desta semana na revista Época, o jornalista Anthony DePalma conta a história de Herbert Matthews. Matthews foi o correspondente internacional do New York Times responsável pelo furo de que Fidel não morrera com seus asseclas no naufrágio do iate Granma no final de 1956, mas estava vivo com um grupo de guerrilheiros que lutavam contra Batista em Sierra Maestra. Fidel usou Matthews e o Times para projetar uma imagem falsa e conquistar a simpatia do público americano. Depois da tomada do poder, Matthews manteve acesso a ele e, até o fim da vida, defendeu a aproximação entre Cuba e Estados Unidos. Era odiado pelos exilados em Miami e aplaudido toda vez que visitava Havana. Era um jornalista cuidadoso com os fatos, mas jamais deixou de tentar ocupar um papel maior na história. Tornou-se um embaraço para o Times, que evitava publicar suas reportagens, por causa da associação com Fidel. DePalma deparou com seu caso ao começar a preparar, 15 anos atrás, o obituário de Fidel para o jornal (publicado na semana passada). Depois da morte de Fidel, também voltou ao assunto na Newsweek. O caso Matthews é um recado para todos os jornalistas engajados, que se acreditam portadores de uma missão e querem mudar o mundo, em vez de, como faz DePalma, apenas prestar um testemunho e relatar os fatos.