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Brasil está estagnado em leitura há 15 anos, mostram dados do Pisa

País teve média 407 em avaliação na qual nações da OCDE conseguiram nota 493

RIO- O desempenho dos alunos brasileiros na área da leitura está parado, sem sinais de desenvolvimento, há 15 anos. A constatação é baseada nos resultados do país no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) 2015. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Brasil manteve a média de 407 pontos na avaliação, a mesma que já havia sido registrada na edição de 2012 do estudo, e apenas 11 pontos acima do obtido em 2000, diferença que não é considerável estatisticamente. No ranking dos 70 países avaliados nesta edição do Pisa, o ensino nacional ocupa uma péssima 59ª posição na área da leitura.

Os 407 pontos obtidos pelo Brasil estão bem abaixo dos 493 da média dos países que compõem a OCDE. Segundo a avaliação, 51% dos alunos brasileiros que participaram estão abaixo do nível 2 em leitura, patamar de letramento que, segundo a OCDE, é necessário para que uma pessoa consiga exercer plenamente sua cidadania.

Não chegar ao nível 2 significa que o estudante não é capaz de localizar uma ou mais informações no texto ou mesmo reconhecer a ideia principal do conteúdo. Abaixo desse patamar, os alunos também não estabelecem comparações entre o texto e experiências pessoais.

- Todo esse cenário começa na alfabetização. Só vamos conseguir melhorar se garantirmos uma educação infantil de qualidade. Até 2016, era facultativo que as crianças a partir de 4 anos fossem matriculadas na escola - analisou a educadora Cleuza Repulho.

No ranking interno, a pior média é de Alagoas. O estado conseguiu obter 362 pontos. A melhor colocação ficou com o estado do Espírito Santo, que obteve nota 441 em leitura. O Rio de Janeiro ficou em 14º lugar com 400 pontos, nota que ficou abaixo inclusive da média brasileira.

Dos 23.141 alunos brasileiros que foram avaliados no Pisa, somente 0,14% alcançou o nível 6, patamar mais alto da avaliação. Entre os países da OCDE, 1,11% dos estudantes estão neste nível que requer dos alunos fazer comparações múltiplas de maneira detalhada e precisa. Além disso, é preciso demonstrar compreensão completa de um ou mais textos e pode exigir também que o estudante seja capaz de propor hipóteses críticas sobre um texto, entre outras funções.

INFLUÊNCIA EM OUTRAS NOTAS

O mau desempenho em leitura também pode impactar negativamente em outras notas. De acordo com especialistas, a dificuldade em interpretar textos pode fazer com que os estudantes não tenham, por exemplo, fácil compreensão de um exercício de matemática.

A leitura deficiente, que indica também uma escrita precária, faz com que os estudantes não consigam responder com eficácia questões dissertativas, que também compõem o Pisa.

- As questões dissertativas os brasileiros não acertam, porque não sabem escrever direito. E isso tem grande parte a ver com a leitura. Quando os estudantes brasileiros estiverem acostumados a perguntas com interpretação mais complexas aí começarão a ir melhor no Pisa - opina a mestre em educação, Ilona Becskeházy.