16/12/2016 14h07 - Atualizado em 16/12/2016 14h12

'Recomeçar tudo', diz jovem que alega inocência ao deixar prisão em MS

Ele ficou 1 ano e 9 meses preso por roubos confessados por outro jovem.
Liberdade provisória foi concedida após vítimas reconhecerem erro em juízo.

Gabriela PavãoDo G1 MS

Jovem deixa prisão após cumprir 1 ano e 9 meses por crimes que nega (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)Jovem deixa prisão após cumprir 1 ano e 9 meses por crimes que nega (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)

Após uma prisão considerada injusta, a espera pela liberdade terminou nesta sexta-feira (16) para Felipe Filles de Souza, condenado por roubos. Os crimes foram confessados por outro jovem de mesmo nome, Felipe dos Santos, que também foi reconhecido pelas vítimas.

Felipe Filles, 23 anos, sempre alegou inocência e deixou o presídio semiaberto Centro Penal Agroindustrial (CPA) da Gameleira nesta manhã, em Campo Grande, após 1 ano e 9 meses cumprindo pena.

"Recomeçar tudo que foi perdido nesse tempo em que estive fechado. Não tem como descrever esse sentimento e a sensação de discriminação de estar em um lugar desse, mas, o importante é que tudo acabou e agora é bola pra frente", disse ao sair do presídio.

A liberdade provisória foi concedida pela Justiça de Mato Grosso do Sul. A prisão foi revogada após uma das vítimas se retratar perante o desembargador Manoel Mendes Carli e afirmar ter se confundido ao reconhecer Felipe Filles como autor dos roubos na época do inquérito policial. Das três vítimas, duas reconheceram o erro e a terceira foi imprecisa.

Segundo o advogado Ricardo Maksoud Machado Filho, Felipe Filles ficará solto até a data do novo julgamento.

Felipe Filles entre os pais (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)Felipe Filles entre os pais (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)

Saída
O jovem saiu do presídio por volta das 9h40 (de MS) e foi recebido pela família, que esperava do lado de fora há quase duas horas. O momento foi de emoção. Depois de pedir a benção do pai, João Paulo Pereira de Souza, de 46 anos, foi abraçado pela mãe, Kátia Aparecida Garcia Filles, de 41 anos, em seguida, por tios, avó e primos.

Entre lágrimas e sorrisos, Felipe Filles disse ao G1 que não dormiu a noite de tanta ansiedade. "O sono mesmo passa bem longe da gente nessas horas. Agradeço muito a todos e, principalmente, a Deus e minha família. A felicidade é muito grande. Estou feliz de passar o final de ano em casa com a minha família", ressaltou.

O pai, João Paulo, que andava de um lado para o outro enquanto esperava o filho sair, não conteve o choro ao ver o jovem deixar o presídio. "Acabou, graças a Deus. Estou muito feliz que meu filho está voltando para casa. Sonhei com esse dia, e como sonhei. Agora é só alegria", falou.

A mãe também comemorou o momento. "Acabou a humilhação. Foi muita humilhação, mas agora é só felicidade, assim eu espero", finalizou.

O depoimento da vítima é peça fundamental para autoria do crime e a prova foi produzida em juízo"
Luiz Felipe Medeiros, presidente da Amamsul

Condenação
Felipe Filles de Souza foi preso no dia 22 de maio de 2015 suspeito de roubo junto com o irmão Matheus Filles de Souza, que na época tinha 17 anos, e foi apreendido. Na época, Matheus pediu a moto emprestada do irmão e confessou ter roubado três pessoas com ajuda de Felipe dos Santos, que também tinha 17 anos.

O segundo adolescente não foi encontrado, por isso, só os irmãos foram levados para a delegacia, onde as vítimas reconheceram os dois.

Meses depois, no Fórum de Campo Grande, Felipe dos Santos foi ouvido como testemunha e confessou os crimes, mas as vítimas não tiveram contato com ele e mantiveram o reconhecimento do Felipe Filles. Mesmo assumindo a culpa, Felipe dos Santos não foi julgado.

Após a audiência, os irmãos foram considerados culpados pela Justiça. O adolescente cumpriu medida sócio-educativa em uma Unidade Educacional de Internação (Unei) por um ano e foi solto ao completar 18 anos. Já Felipe Filles foi condenado há quase oito anos de prisão.

Processo
A família alega que a condenação foi injusta, mas o presidente da Associação dos Magistrados de Mato Grosso do Sul (Amamsul), Luiz Felipe Medeiros Vieira, disse ao G1 que não houve erros na conduta do julgamento.

"O depoimento da vítima é peça fundamental para a autoria do crime e a prova foi produzida em juízo. As vitimas foram até o juiz e, nesta audiência, estavam presentes o promotor e o advogado de defesa. Elas afirmaram com tranquilidade ser aquele réu o autor do roubo", avaliou.

A família de Felipe Filles não se conformou com a condenação e procurou as vítimas para mostrar um vídeo com a voz e imagem de Felipe dos Santos confessando os roubos. Das três vítimas, duas foram localizadas pela família e perceberam o erro.

Em seguida, aceitaram fazer uma carta com pedido de desculpas que foi usada pela defesa de Felipe Filles para rever a condenação a partir de uma apelação criminal. Depois disso, uma audiência foi marcada e uma das vítimas reconheceu o erro em juízo, mas como as duas outras vítimas não compareceram, o desembargador marcou a segunda audiência, quando foi revogada a prisão preventiva de Felipe Filles.

Família à espera de Felipe Filles em frente a presídio (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)Família à espera de Felipe Filles em frente a presídio (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)
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