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Casamento: mercado de mais de R$ 15 bilhões (Foto: Divulgação)

Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Segundo dados do IBGE, mais de um milhão de brasileiros formalizam suas uniões todos os anos. Apesar de muitos ainda repetirem os votos de “até que a morte nos separe”, noivos mais jovens e independentes financeiramente estão mudando a cara dos casamentos brasileiros.

Segundo a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), o segmento de festas e casamentos movimenta R$ 16,8 bilhões ao ano.

É neste cenário bilionário que uma nova leva de empreendedoras está investindo. “Mesmo com a crise, as pessoas não estão deixando de casar”, diz Lorena Carvalho, especialista no tema e dona do blog Lápis de Noiva.

Cerimônias mais simples, “recasamentos”, itens totalmente personalizados e locais alternativos surgem como oportunidades do setor. Confira abaixo como seis empresas, todas lideradas por mulheres, estão faturando neste novo mercado.

Antes do casamento: o pedido
Um jantar à luz de velas, flores e um anel na sobremesa. A cena clichê dos filmes românticos é a situação que boa parte dos namorados imagina na hora de planejar o pedido de casamento. Até pouco tempo atrás, o pedido era o gatilho para começar a organização da festa, mas duas empreendedoras estão mudando este cenário.

Com apenas R$ 7 mil, Bruna Brito e Thais Martarello abriram a O Pedido, empresa especializada em realizar pedidos de casamento. “Somos o primeiro passo da cadeia do mercado de casamento. Até 2014, não existia esse serviço”, diz Bruna.

Bruna Brito e Thais Martarello, da O Pedido (Foto: Divulgação)

Bruna Brito e Thais Martarello, da O Pedido (Foto: Divulgação)

Depois que uma amiga foi pedida em casamento, as duas começaram a pesquisar e notaram uma lacuna. “A gente organizou os pedidos de três amigos e o retorno foi muito positivo. Vimos que tinha potencial para dar certo”, diz Bruna. A missão é transformar o pedido em um evento: seja no aeroporto, em um balão e durante um flash mob.

O limite é a imaginação do noivo. “A gente já fez no aeroporto, com a noiva chegando de viagem, em um passeio de barco, em Paris, e até um pedido seguido do casamento”, conta. Em 2014, a dupla organizou 15 eventos. Entre 2015 e meados deste ano, foram 90. “Fazemos uma média de 10 eventos por mês, a partir de R$ 3 mil cada”, afirma.

Simples: vestidos e acessórios em conta
Aliança entregue: é hora de começar os preparativos. Neste momento, muitos noivos se espantam com o preço e as regras impostas pelo mercado. Os vestidos de noiva, por exemplo, podem facilmente ultrapassar os R$ 10 mil. “Nós vivemos o momento de procurar vestidos de noiva simples, com um preço justo, e não encontramos”, conta Natalia Pegoraro, 28 anos, sócia da O Amor é Simples, loja virtual de vestidos.

Assim como ela, muitas noivas buscam alternativas mais baratas ou até desistem do casamento por não se “encaixarem” no padrão exigido pela sociedade. “A gente começou a ver que as pessoas casam cada vez mais em sítio e praia, porque é mais barato e porque está caindo o mito de que o casamento tem que ser muito pomposo”, diz.

Natalia, Janaína e Laís, da O Amor é Simples (Foto: Divulgação)

Natalia, Janaína e Laís, da O Amor é Simples (Foto: Divulgação)

Nada de estilistas, rendas francesas ou milhares de bordados. A ordem é simplificar. Com Lais Ribeiro, 29, e Janaina Pasin, 29, Natalia investiu R$ 10 mil para criar uma marca de vestidos simples e baratos, em 2014. “A gente queria uma marca com propósito. Nossos pilares são oferecer vestidos simples, preços justos – nosso modelo mais caro custa R$ 1229 – mão de obra local e uma marca que valorize a simplicidade do amor”, conta.

Com produção terceirizada, as sócias já atenderam 180 noivas com seus 25 modelos de vestidos. Agora, a empresa busca um investimento para escalar.  “Queremos aumentar o mix de produtos. Temos uma meta ousada de ser o maior marketplace da América latina para casamentos não convencionais. A gente olha muito para o mercado e interpreta que não tem ninguém atuando neste nicho. A indústria ainda é muito tradicional e pulverizada”, afirma.

Emagrecer: a obsessão das noivas
Carina Rosin, 39 anos, deu um presente curioso para a noiva do irmão: seis meses de personal trainner de graça. Formada em educação física, Carina sabia que a cunhada queria emagrecer para usar o vestido de noiva dos sonhos. “Eu dei esse presente antecipado para ela. Ela emagreceu bastante e outras pessoas queriam seguir o mesmo plano”, conta.

Foi assim que a empreendedora percebeu a oportunidade de criar, no final de 2009, a Noiva em Forma, empresa especializada em nutrição e assessoria esportiva para noivas. Em 2012, a Flávia Picolo entrou na sociedade.

Carina Rosin e Flávia Picolo, da Noiva em Forma (Foto: Divulgação/William Rezende Paiva)

Carina Rosin e Flávia Picolo, da Noiva em Forma (Foto: Divulgação/William Rezende Paiva)

Carina conta que no começo a empresa não era muito diferente do serviço de um personal trainner. Com o tempo, ela foi aperfeiçoando a ideia para agradar as noivas. “Eu comecei a atender porque elas queriam emagrecer e fui pesquisar o mercado. Entendi que elas ficam muito estressadas e que o vestido é um sonho tão importante quanto o próprio casamento”, conta.

Com uma equipe de doze profissionais, a dupla já atendeu mais de 200 noivas. Além do acompanhamento nutricional, os exercícios podem ser feitos em qualquer lugar. “Vamos onde elas estiverem, para não ter desculpas”, diz. As empreendedoras ainda acompanham os noivos em degustações – para evitar o exagero – e nas provas do vestido.

Para atender a demanda das noivas de fora de São Paulo, a dupla acaba de lançar um livro com a metodologia. Além disso, passaram a atender um novo nicho: o das noivas que viram mães depois do casamento e querem, de novo, entrar em forma. Os serviços são oferecidos em pacotes fechados que custam de R$ 960 a R$ 2000 por mês. O faturamento em 2015 foi de R$ 50 mil ao mês.

Blogs: a busca incansável por referências
Até os anos 2000, quem se casava contava com revistas especializadas e os palpites de familiares para organizar o casamento. Igreja, harpa, tapete vermelho e bem casado. Os itens “obrigatórios” se repetiam em todos os casórios.

Foi cansada de ver sempre o mesmo e não se identificar com aquele padrão que Lorena Carvalho se encantou quando descobriu um novo mundo do casamento. “Eu não acreditava que era possível ter um casamento diferente até que minha irmã Junia, que é minha sócia, casou. Eu fiquei encantada”, diz.

No lugar da igreja, um sítio cheio de grama e detalhes com a cara dos noivos. “Essa coisa do DIY (do it yourself, ou faça você mesmo, na tradução do inglês) não existia quatro anos atrás. Comecei a pesquisar para o meu casamento e tive vontade de compartilhar isso”, diz.

Lorena e Junia, do Lápis de Noiva (Foto: Aloha Fotografia)

Lorena e Junia, do Lápis de Noiva (Foto: Aloha Fotografia)

Depois do casamento, Lorena se mudou do Rio de Janeiro para São Paulo. Deixou para trás o escritório de advocacia e começou a estudar para concursos. “Quando acabam os preparativos para o casamento, fica um vazio. Depois que recebi as fotos do meu casamento, pensei que queria falar sobre isso”, diz. Em 2013, ela colocou no ar o blog Lápis de Noiva. “Eu pedi três anos para o meu marido, para tentar empreender”, diz.

Deu certo: a grande sacada foi mostrar casamentos totalmente fora do tradicional: ao ar livre, de dia, personalizados. Com duas funcionárias, o blog tem mais de 2,5 milhões de usuários e 780 mil fãs nas redes sociais, além de 100 fornecedores cadastrados que pagam até R$ 4,5 mil ao ano para aparecer na página. “Não tem fórmula. Tem ferramentas que ajudam e facilitam, mas o segredo é o trabalho.”

Mimos sob medida: doces e papelaria artesanais
Em 2013, a designer Juliana Cronpton, 28 anos, começou um negócio de buffet para eventos com o marido. A ideia era produzir pequenos encontros personalizados para os clientes. Nasceu a Cuisine et Papier. O marido, que é chef, seguiu sua carreira no ramo e a empresa ficou de lado. Juliana insistiu e mudou o negócio, mantendo o mesmo nome.

Em sociedade com a sua mãe, Margarete Cronpton, 57 anos, Juliana monta lembrancinhas personalizadas para os noivos que querem fugir do tradicional bem casado. As ideias vão de misturas para chocolate quente, doces caseiros em potinhos a cadernos personalizados. “A partir do meio de 2015, eu remodelei a empresa com minha mãe. Ela faz a confeitaria artesanal e eu crio a identidade”, conta Juliana.

Juliana e Margarete, do Cuisine et Papier (Foto: Divulgação)

Juliana e Margarete, do Cuisine et Papier (Foto: Divulgação)

Sem portfólio, mãe e filha embarcam nas ideias dos clientes. “A intenção da empresa começou desse jeito, fazendo tudo personalizado. Por isso, não temos portfólio. A ideia é conversar com o casal e criar junto com eles a lembrancinha ou convite, criando até novos sabores”, diz.

A dupla investiga as preferências dos noivos, o tema da festa e até a época do ano para criar. Segundo Juliana, esse trabalho literalmente não tem preço. “Os clientes chegam querendo uma tabela de preços. Mas a ideia é personalizar e fazer uma coisa bem única. Por isso, muitas vezes, não temos o preço na hora”, conta.

Fuga do padre: a cerimônia com a cara dos noivos
Um dos elementos mais icônicos dos casamentos é o padre. Responsável por celebrar a cerimônia, ele vem sendo deixado de lado por uma nova geração de noivos que querem que cada segundo do dia mais especial seja personalizado.

Marcia Henz, 34 anos, viveu esse momento na pele. “Eu queria uma cerimônia diferente e pesquisei por esse serviço em São Paulo. Não encontrei ninguém que fizesse esse trabalho personalizado, para entender meus motivos de casar e meus valores”, diz.

Ela resolveu então, no desespero, escrever a própria cerimônia, que foi lida por uma amiga no dia do casamento. Nascia assim a Rito Cerimônias Especiais. “Eu fui minha primeira cliente e pensei que queria tentar. Durante um ano e meio, mantive a Rito quase como um hobby. Foi o tempo que levou para empatar com minha renda na época”, diz. As cerimônias custam a partir de R$ 4,2 mil.

Marcia, da Rito (Foto: Aloha Fotografia)

Marcia, da Rito (Foto: Aloha Fotografia)

Desde 2013, a empresa já atendeu 75 casais com cerimônias personalizadas. Os noivos, amigos próximos e familiares ajudam na produção, respondendo questionários. Marcia aproveitou sua experiência no mercado de pesquisas para observar e extrair palavras precisas. “Eu trabalhava com pesquisa de marca, já realizava um trabalho de escutar o que não é dito como meu ofício”, diz.

Sobre fazer concorrência com padres, Marcia desconversa. Para ela, seus clientes nem cogitam uma cerimônia nos padrões tradicionais. “Eu empreendo com propósito. Acredito na transformação social que acontece através daquilo que exerço. Tive um pouco de sorte, mas muito preparo para continuar. Eu acho que com o nosso discurso conseguimos empoderar as pessoas no sentido que elas não precisam de outorga institucional para viver o amor como querem.”