Por Márcio Pinho, G1 São Paulo


Edson Aparecido, ex-homem forte do governo Alckmin — Foto: Pedro Carlos Leite/G1

Investigado pelo Ministério Público por um suposto enriquecimento ilícito, o ex-homem forte da gestão Geraldo Alckmin, Edson Aparecido, assumiu o cargo de diretor-presidente da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) na gestão João Doria (PSDB) em São Paulo. A empresa municipal é a responsável por construir unidades habitacionais para a população de baixa renda na capital.

Aparecido deixou o cargo de secretário da Casa Civil em março, poucas semanas após o Ministério Público de São Paulo começar a apurar se o patrimônio dele, que inclui casa no litoral norte e um apartamento de luxo na capital comprado por valor abaixo do preço de mercado, é compatível com os vencimentos de cerca de R$ 19 mil que recebia no governo.

A gestão Alckmin divulgou à época que Aparecido saiu para disputar as eleições municipais. Ele não foi eleito vereador, mas passou a trabalhar na Câmara como assessor na presidente - até dezembro o cargo era do vereador Antonio Donato (PT). A liberação de Aparecido para assumir o cargo na prefeitura foi publicada nesta quarta-feira (18) no Diário Oficial do município.

Ele ocupa o cargo, porém, desde o dia 2, após o conselho da Cohab escolher seu nome para o cargo mais alto da empresa. Nos últimos dias, Aparecido até visitou um conjunto habitacional em Cidade Tiradentes.

O G1 questionou a gestão João Doria sobre a escolha de Aparecido durante a investigação. A resposta ficou a cargo da assessoria de imprensa da Cohab, que frisou que há apenas uma apuração em curso e que isso não impossibilita o ex-secretário e ex-deputado federal de assumir cargos. Destacou ainda que Aparecido é ficha limpa e disputou as eleições para vereador sem sofrer nenhuma contestação judicial.

Aparecido já negou ter praticado irregularidades e afirma que seu patrimônio foi conquistado de forma lícita.

Inquérito

O inquérito civil foi instaurado em fevereiro pelo promotor Marcelo Milani após o portal UOL publicar a informação de que Aparecido comprou um apartamento de luxo por um valor muito abaixo do preço de mercado, em março de 2007. O apartamento fica em uma área que tem um dos metros quadrados mais caros de São Paulo, bem perto do Parque do Ibirapuera.

A escritura do imóvel mostra que o apartamento de 365 metros quadrados de área privativa, com cinco vagas de garagem, custou a Edson Aparecido R$ 620 mil, em março de 2007. A compra não teria chamado a atenção não fosse pelo fato de Aparecido ter pago um terço do valor que um apartamento do tipo valeria na mesma época - cerca de R$ 2 milhões. Em 2016, no mesmo prédio, imóveis com as mesmas características estavam à venda por até R$ 9 milhões.

Milani afirmou à época que a abertura do inquérito se justificou pela "notícia de possível atentado aos princípios da administração pública e de possível enriquecimento indevido, a configurar, em tese, a prática de atos de improbidade administrativa, sendo necessária a coleta de outras informações para orientar a eventual tomada de providências legais e pertinentes".

Quase um ano depois, o inquérito permanece aberto ainda sem uma conclusão.

Outro ponto que chamou atenção na compra do apartamento foi o fato de Edson Aparecido ter comprado o imóvel de Luiz Albert Kamilos, dono da construtora Kamilos, que tem contratos milionários com o governo do estado de São Paulo.

De acordo com o Portal da Transparência do próprio governo, entre 2014 e o início de 2016, a Kamilos recebeu mais de R$ 45 milhões de reais por serviços prestados ao DER - o Departamento de Estradas de Rodagem.

“Forma lícita”

Em nota de março do ano passado, o então chefe da Casa Civil do governo de São Paulo informou que o imóvel foi comprado de forma “lícita e transparente” e que tudo foi devidamente registrado nos órgãos competentes e declarado à Receita Federal. Ele disse ainda que a compra seguiu o valor de mercado à época e que prestaria os esclarecimentos necessários ao Ministério Público.

Em nota, a construtora Kamilos informou também no início de 2016 que Luiz Albert Kamilos não conhece pessoalmente nem nunca teve qualquer contato com Edson Aparecido e que o apartamento era da pessoa física, não tendo qualquer vínculo com a construtora.

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