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Governador do RN desrespeitou inteligência ao retirar facção de presídio, diz secretário

Governador do RN desrespeitou inteligência ao retirar facção de presídio, diz secretário

Segundo Wallber Virgolino, secretário estadual de Justiça e Cidadania, o governador Robinson Faria negociou com facção paulista e aceitou transferir presos de organização potiguar

DANIEL HAIDAR| DE NÍSIA FLORESTA (RN)
19/01/2017 - 13h10 - Atualizado 25/01/2017 13h26
Tropa de Choque da PM entrou na Penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, nesta quarta-feira (18) (Foto: Adriano Abreu / Tribuna do Norte / Ag. O Globo)

O secretário estadual de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, Wallber Virgolino, afirmou nesta quinta-feira (19) que o governador Robinson Faria ignorou sua orientação sobre a retirada de presos de Alcaçuz, onde 26 foram assassinados no último fim de semana. Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, Virgolino disse que o governo do estado desconsiderou as informações de inteligência do sistema prisional ao aprovar a transferência de detentos da facção potiguar Sindicato do Crime (SDC), rival da paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). “Não foi levado em consideração o que o secretário de Justiça e a inteligência disseram. Sugeri que tirassem o PCC do presídio”, afirmou.

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Virgolino defendia retirar membros do PCC, em vez de presos do SDC, por duas razões. A primeira diz respeito ao fato de que a facção paulista é minoria em Alcaçuz – 500 integrantes contra 1.000 da organização potiguar. A segunda é que o PCC é mais influente que o SDC naquele presídio.

A remoção de presos do SDC resultou numa batalha armada entre as organizações criminosas na manhã desta quinta-feira. Munidos de pedras, barras de ferro e vigas de madeira, os detentos partiram para o confronto. Do alto das guaritas, policiais fizeram disparos na tentativa de conter a confusão.

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Segundo o jornal O Globo, integrantes do governo do Rio Grande do Norte iniciaram uma negociação com chefes do PCC, na tarde de quarta-feira (18), na tentativa de conter a rebelião em Alcaçuz. Virgolino confirmou a ÉPOCA que uma delegada foi autorizada pelo governador a negociar com a facção paulista. Durante a conversa, o PCC exigiu, entre outras medidas, que fossem retirados presos do SDC da Penitenciária de Alcaçuz.

Depois do acordo, o governador Robinson Faria autorizou a retirada de 220 presos do SDC de Alcaçuz. Em reação à remoção, a facção potiguar iniciou uma série de ataques nas ruas da Grande Natal. Pela primeira vez desde o início da crise da segurança pública no país, em outubro passado, a guerra de facções saiu dos presídios.

Atualização: em função da repercussão da entrevista, o secretário divulgou uma nota em que diz que não se sentiu desrespeitado pelo governador, embora tenha reconhecido que houve divergência de opiniões. "Jamais falaria que o governador Robinson Faria, um homem por quem tenho grande respeito e a quem devo lealdade, desrespeitou o setor de inteligência, que tem trabalhado firme para contornar essa crise em que vivemos. Opiniões diferentes podem existir, mas o espírito é de união na busca de soluções. Eu entrei nessa batalha junto com o governador e vamos sair dela juntos", afirmou.

A entrevista foi gravada e ÉPOCA mantém o que foi publicado. 








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