Por Glauco Araújo, G1 São Paulo


Secretaria da Segurança afasta dois policiais suspeitos de espancar um mecânico em Itapevi

Secretaria da Segurança afasta dois policiais suspeitos de espancar um mecânico em Itapevi

A Secretaria da Segurança Pública informou que a Polícia Militar de Itapevi afastou, nesta segunda-feira (30), os policiais militares Adriano Soares de Araújo e Rafael Francisco de Vasconcelos. Eles foram chamados pela atendente Fernanda Camargo, 36 anos, no dia 16 de janeiro, para ajudá-la a retirar objetos pessoais da casa onde morava com o marido, o mecânico Eduardo Alves dos Santos, 42 anos. Ele morreu depois ser agredido por Araújo.

Em nota, a SSP informou também que o caso está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Militar.

“Esse policial tem de entender que ele matou um pai de família”, disse a viúva do mecânico, que morreu cerca de três horas e meia depois de ser agredido pelo policial militar Araújo. Os dois policiais militares foram chamados por Fernanda, para que lhe dessem apoio para buscar pertences pessoais e trocasse o carro com o marido.

Entenda o caso

Fernanda disse ao G1 que chamou a polícia por temer que o marido ficasse irritado com sua saída de casa. “Ele estava com meu carro e eu estava com o dele. Como ele tinha problema de alcoolismo, eu fiquei preocupada que ele pudesse dificultar as coisas. Era para os policiais darem apoio, não para espancar e matar meu marido.”

A declaração de óbito informa que a causa da morte foi “hemorragia interna traumática, agente contundente.”

“Eu cheguei em casa e ele estava trabalhando na oficina, no andar de baixo, e ele me disse que não iria deixar levar nada, que só faria isso na Justiça. Foi aí que eu chamei uma viatura. Os policiais chegaram e eu expliquei a situação. Um dos policiais ficou conversando comigo e o outro ficou com ele lá dentro da oficina”, disse Fernanda.

Os policiais que atenderam ao chamado dela foram Adriano Soares de Araújo e Rafael Francisco de Vasconcelos. O primeiro ela descreve como “agressivo e descontrolado”. O segundo ela descreve como “calmo e quem tentou conter o colega policial.”

Fernanda disse que “meu marido estava distraído com o carro e o funcionário dele, pois tinham de entregar um carro naquele dia, Ele virou o rosto para olhar o carro e aí o policial Araújo bateu no ombro do meu marido dizendo: ‘Eduardo, estou falando com você’. E enfiou o dedo na cara do meu marido.”

Mecânico morre após ser levado por policial militar na Grande SP

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"Olha o que você fez na minha farda"

Em seguida, ela relatou que o marido tentou argumentar, dizendo que resolveria tudo com ela ou na Justiça. “Meu marido disse: ‘mas moço, porque você está fazendo isso comigo? Eu não sou bandido, sou trabalhador, estou na minha casa e preciso entregar esse carro hoje.’ Foi quando o policial Araújo pegou meu marido pelo pescoço e o jogou em cima do carro. Ele deu uma rasteira no meu marido, que pegou a farda do policial, que acabou rasgando.”

Ela disse que o policial ficou transtornado quando viu que sua farda estava rasgada. “O Araújo gritava ‘Olha o que você fez na minha farda, olha o que você fez na minha farda. Você está preso’. Ele depois deu um chute no rosto do meu marido, que ficou com o olho roxo e inchado. Eu fui até o policial e pedi para ele não fazer isso com meu marido. O Araújo gritou: ‘não foi você que chamou a gente? Eu respondi que tinha chamado, mas não para agredir meu marido.”

Depois disso, Fernanda disse que o policial “saiu chamando reforço pelo celular e voltou com um cassetete na mão. Ele entrou e voltou a agredir meu marido de novo, bem na hora que meu marido, já mais calmo, estava sentado no chão com dores e conversando com o outro policial. O Araújo chegou e deu umas cacetadas nas pernas, no braço, na cabeça e na barriga.”

O G1 teve acesso às imagens da câmera de segurança da oficina, que estava virada para a rua. É possível ver que o policial volta para a viatura, pega o cassetete e entra novamente na oficina.

O trecho seguinte das imagens mostra outras viaturas chegando e, cerca de cinco minutos depois, o mecânico sendo retirado da oficina e levado, algemado, para o carro de polícia.

Foram cerca de sete minutos até que o mecânico fosse levado para a delegacia de Itapevi. O trajeto demora cerca de dez minutos. “Lá, ele foi colocado numa sala sozinho. Eu consegui entrar na salinha e vi que tinha muito sangue no chão. Ele estava cuspindo sangue pela boca e pelo nariz. Ele pedia muita água. Ele estava morrendo e eu gritei pedindo ajuda para todos que estavam ali.”

ernanda relata em seu depoimento à Ouvidoria da Polícia que policiais chegaram a duvidar que o marido estivesse passando mal e ainda teriam dito para ela que “aquilo era abstinência de cachaça”.

PM pede investigação sobre conduta de policial sobre morte de mecânico em Itapevi

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"Amor SAMU"

A viúva reclama que o marido poderia estar vivo se tivesse recebido atendimento médico a tempo ou sido levado ao hospital ao invés de ser levado para a delegacia. “Eles demoraram para chamar o SAMU. Quando meu marido estava praticamente morto, toca um telefone na mesa e o Araújo pede para eu atender. Achei estranho que na tela do celular dele apareceu “amor SAMU”. Só depois soube que era a mulher do policial”.

Fernanda disse que a mulher do policial falou com ela pelo telefone e passou instruções para os primeiros socorros. “Achei estranho que ele ligou primeiro para a mulher do que para o atendimento do SAMU mesmo. A mulher pediu para eu enfiar o dedo no olho do meu marido. Como ele não reagiu, ela disse que meu marido estava em para cardiorrespiratória. Ninguém ali ajudou, eu mesmo fiz a massagem cardíaca no meu marido. Só depois, muito tempo depois, que o Araújo, vendo a gravidade do que ele tinha feito, foi ajudar.”

A viúva disse que a ambulância do SAMU demorou cerca de 25 minutos para chegar até a delegacia. “Ele praticamente morreu nos meus braços. Eu quero só a Justiça, quero que a Justiça seja feita. Não consigo viver com isso, que ele foi morto na minha frente, que eu chamei a viatura, me sinto também culpada. Eu chamei, mas eu não chamei para matar, era para dar um apoio naquela hora. Se ele sofria de alcoolismo, que levassem ele para um hospital, mas não ser agredido e morto.”

O mecânico foi levado para o Pronto Socorro Central de Itapevi, onde morreu.

Mecânico chegou a prestar depoimento mesmo com sangramento e olho inchado — Foto: Glauco Araújo

Outro lado

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que o inquérito policial foi instaurado na Delegacia de Itapevi e o delegado aguarda o laudo do exame necroscópico para apontar a causa da morte. A pasta informou ainda que Fernanda e a mãe já prestaram depoimento.

Ainda segundo a SSP, o inquérito policial militar foi instaurado pela Corregedoria da PM e os policiais que atenderam a ocorrência foram afastados das atividades operacionais.

A PM informou, na mesma nota, que apresentou uma ocorrência de violência doméstica após ser acionada pela própria mulher, que denunciou o marido por agressão.

No entanto, o próprio boletim de ocorrência não cita violência doméstica, nem agressão sofrida por Fernanda, que descartou fazer qualquer denúncia sobre isso.

Ainda segundo a PM, não houve omissão de socorro e a vítima recebeu os primeiros socorros ainda na delegacia, com massagem cardíaca na hora que passou mal. A PM também informou que o SAMU foi acionado e socorreu o mecânico com vida.

Declaração de óbito informa que causa da morte foi hemorragia interna traumática provocada por agente contundente — Foto: Glauco Araújo

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