Cultura Obituário

Morre o ator John Hurt, aos 77 anos

Britânico foi indicado ao Oscar por 'O homem elefante' e 'O expresso da meia-noite', e trabalhou em Alien e Harry Potter, entre outros sucessos
Hurt em cena do filme 'O espião que sabia demais' Foto: Divulgação
Hurt em cena do filme 'O espião que sabia demais' Foto: Divulgação

LOS ANGELES — O ator britânico John Hurt,  indicado ao Oscar de melhor ator  em "O homem elefante" e de melhor ator coadjuvante por "O expresso da meia-noite" (1978), morreu nesta sexta-feira, aos 77 anos, informou a imprensa inglesa. O artista, que vencera uma luta contra o câncer no pâncreas em outubro de 2015, não resistiu a novas complicações no intestino. Sua morte, em Londres, foi confirmada pelo seu agente.

A versatilidade de John Hurt permitiu que o ator se transformasse em seres humanos tão distintos que não era incomum ele aparecer indistinguível em cena. Em "O homem elefante" (1980), de David Lynch, viveu o gentil desfigurado do título, e, mesmo por trás de uma complexa maquiagem que levava até oito horas para ser aplicada, Hurt transmitiu de forma impecável as angústias do homem que sofria de uma doença que deixava seu rosto alterado. O britânico também apareceu quase irreconhecível na pele de um atormentado prisioneiro turco em "O expresso da meia-noite" (1978). Pelos dois filmes, ele foi indicado ao Oscar de melhor ator e melhor ator coadjuvante, respectivamente. Por "O expresso...", Hurt ganhou um Globo de Ouro e um Bafta, entre muitos outros prêmios.

Mas o seu currículo conta com mais de 200 obras, e seu rosto era onipresente no cinema. Mais recentemente, trabalhou na franquia "Harry Potter", dando vida a Garrick Olivaras, o proprietário de uma loja de varinhas. Ao longo de 60 anos, viveu papéis marcantes (ainda que, às vezes, fossem pequenos), como em "O espião que sabia demais" (2011), "Indiana Jones e o reino da Caveira de Cristal" (2008), "1984" (1984), "V de vingança" (2005) e "Alien: o oitavo passageiro" (1979) — como esquecer da icônica cena em que a criatura irrompe de seu estômago e corre pela nave?

Clássico. John Hurt numa cena de "1984", filme baseado na obra-prima de George Orwell Foto: Keystone / 1949
Clássico. John Hurt numa cena de "1984", filme baseado na obra-prima de George Orwell Foto: Keystone / 1949

John Vincent Hurt nasceu em 22 de janeiro de 1940 no Reino Unido. Teve uma infância solitária e buscou refúgio nas artes. Estreou nos palcos em 1962, mesmo ano em que apareceu pela primeira vez no cinema, em "Um grito de revolta". Foi na TV, no entanto, que Hurt demonstrou todo o seu potencial enquanto intérprete. Ganhou notoriedade ao viver o escritor gay Quentin Crisp em "Vida nua" (1975), abordando o personagem com trejeitos extravagantes. O papel foi considerado transgressor para a época e ajudou a moldar a perpepção pública acerca da homossexualidade. Ainda na televisão, foi o único ator indicado ao Oscar a interpretar o personagem título em "Doctor Who".

Sua voz grave e marcante também abriu caminho para vários trabalhos como dublador e narrador, como em "Dogville" (2003), "Perfume: A história de um assassino" (2006) e "Conquistas perigosas" (2013). Hurt foi nomeado Cavaleiro do Império Britânico em 2014 por seus serviços pelas artes dramáticas.

Sua vida pessoal foi turbulenta. Ele se casou quatro vezes, e, entre o primeiro e segundo casamentos, teve um relacionamento de 15 anos com Marie-Lise Volpeliere-Pierrot, que morreu em 1983 após um acidente de cavalo. Com a terceira mulher, teve dois filhos, Alexander e Nicholas. Em 2008, admitiu ter se recuperado de uma longa batalha contra o alcoolismo.