Cultura

Pabllo Vittar: ‘Pra dar close, a gente vai até num vulcão em erupção’

Sucesso na internet, drag conquista DJ Diplo e toma pop brasileiro com álbum

Após duas horas de maquiagem, Pabllo Vittar vira a gigante dos palcos: show no Rio é em 4 de março, no Galpão Gamboa
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Monica Imbuzeiro
Após duas horas de maquiagem, Pabllo Vittar vira a gigante dos palcos: show no Rio é em 4 de março, no Galpão Gamboa Foto: Monica Imbuzeiro

RIO - Foram quatro noites sem dormir. Desde que Pabllo Vittar lançou o seu primeiro álbum, “Vai passar mal” (há duas semanas), a drag queen e cantora de 22 anos entrou num ritmo alucinante de compromissos, que incluíam os ensaios para a participação na banda da nova temporada de “Amor & Sexo”. Vindas na esteira do sucesso da música “Open bar” (cujo vídeo, de 2015, teve mais de um milhão de visualizações no YouTube em menos de quatro meses), as faixas do seu disco somavam, ontem, quase três milhões de audições no Spotify. Na internet, Pabllo é rainha: são 141 mil seguidores no Instagram, 110 mil no Facebook e 25 mil no Twitter — por dia, ela arrebanha pelo menos mil novos fãs (que ajudam a viralizar suas músicas) em cada uma das redes sociais.

Na semana passada, sem demonstrar a falta de sono, Pabllo chegou ao estúdio do GLOBO para entrevista e sessão de fotos. O mesmo esmero que tem com a voz ela aplicou ao processo de montagem para as fotos, que é o mesmo de todos os shows que faz. Maquiando-se sozinha, ela leva de duas a duas horas e meia para ressurgir como a Pabllo Vittar do palco, um assombro de 1,87m de altura (de salto plataforma, até mais de 2 m). Causar como drag é parte fundamental de sua arte.

— Nunca precisei me assumir, sempre fui assim. Quando tinha 15 anos, falei para a minha mãe que era gay. E ela: “Ai, novidade...”. No fundo, sempre fui essa Pabllo que todo mundo conhece — conta ela, que sempre se surpreende quando alguém pergunta se não poderia, um dia, tornar-se transsexual. — Sou gay, amo meu corpo, não tenho problema com minha identidade de gênero e sou feliz do jeito que sou. Só me sinto mulher quando estou montada!

Pabllo nasceu Phabullo Rodrigues da Silva, em 1994, em São Luís do Maranhão. Sua mãe, técnica de enfermagem (a cantora não conhece o pai biológico), não parava quieta numa cidade. Assim, passaram ainda por Santa Inês e Caxias (no interior do estado), até que, aos 13 anos, o menino e sua irmã gêmea, Phamela, resolvessem ir a São Paulo.

— Fui para tentar carreira como cantora, mas acabei trabalhando nos Habib’s da vida e em um salão, maquiando e fazendo cabelo. Só fui embora da lanchonete porque uma vez eu e uma amiga estávamos brincando com o extintor, com umas botas vermelhas de verniz, e a coisa não deu muito certo — recorda-se. — Depois disso, fui para Uberlândia, onde a minha mãe estava morando.

Em Minas, essa fã da Beyoncé (que, ainda em tempos de Orkut, usava o nome artístico de Pabllo Knowles), descobriu o mundo das drags — e se montou pela primeira vez aos 18 anos para ir a uma festa na boate Belgrano, dos produtores Ian Hayashi e Leocádio Rezende (que, logo, ela viria a chamar de seus “pais”).

— Eu não tinha nem peruca, fui toda enfaixada e com uma sainha, bem piranhona. Foi bem legal — diz Pabllo, que, simultaneamente, começou a publicar vídeos cantando as músicas de suas divas pop favoritas. — Naquela época, nem existia Youtuber, meu bem, só as bonitas falando.

Certa vez, quando foi a Uberlândia, para discotecar no Belgrano, o produtor musical Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, pediu a Hayashi e Rezende para apresentá-lo àquela drag que só conhecia da internet. E, de cara, fez uma proposta:

— Numa quarta-feira, eu pedi para a Pabllo fazer uma versão em português de “Lean on” ( do grupo Major Lazer, do DJ americano Diplo ) para que a gente gravasse no sábado. E, no sábado, lá estava ela com a letra — conta Gorky.

Assim nasceu “Open bar”, que o próprio Diplo (produtor de Madonna e Britney Spears) cuidou de divulgar no Twitter.

— Foi aí que a gente pensou: essa música precisa de vídeo agora mesmo! — diz Hayashi, que, junto ao marido, Rezende, e Gorky, cuida da carreira de Pabllo.

O clipe de “Open bar” foi feito na casa de um amigo da cantora, por R$ 600.

— Oito horas da manhã a gente estava montada numa piscina geladíssima, foram dois dias de ralação. Mas com a gente não tem isso, não. Pra dar close, a gente vai até num vulcão em erupção! — brinca Pabllo.

O sucesso da música e das outras de um EP, só de versões, que lançou em seguida possibilitou que, em 2016, fizesse mais de 120 shows pelo Brasil com a Open Bar Tour, que só não passou por Acre e Rondônia. Junto, vieram convites para o “Amor & Sexo” e campanhas publicitárias. Nos intervalos, Pabllo gravou “Vai passar mal”, um disco para lá de eclético, mixado e masterizado em Los Angeles por Gorky e Turbotito (do duo Poolside, que já trabalhou com Ke$ha).

— Sabe quando você mistura catuaba com cerveja e dá aquela misturona que você bebe e fica louca? Pois é assim o meu álbum, você vai passar mal — provoca a nova estrela do pop brasileiro.

— Adoro a vibe e a atitude da Pabllo Vittar. Ela é muito cheia de estilo e, ao mesmo tempo, muito punk rock — elogia Diplo, que deu à cantora, para o álbum, a base da música “Então vai”.

Mesmo com propostas de gravadoras, Pabllo, Hayashi, Rezende e Gorky resolveram bancar sozinhos a produção e a distribuição de “Vai passar mal” (cujo show carioca de estreia é no dia 4 de março, no Galpão Gamboa). Agora, eles investirão em clipes mais caros, gravados com orçamento de R$ 15 mil a R$ 20 mil, para as músicas “K.O.” e “Indestrutível” — esta, uma balada de piano sobre autoestima que os adolescentes adoram.

— Eu não tive ninguém pra passar nada para mim, tive que aprender aos trancos e barrancos — revela Pabllo. — Sempre fui muito afeminada, e minha voz sempre foi muito aguda, então eu sofri muito bullying. Na escola, uma vez um menino derrubou um prato de sopa quente em mim, disse que era para eu falar como homem. E ninguém fez nada, fiquei chorando num canto.