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Carreira ; chefe agressivo ; problemas com o chefe ; clima ruim na empresa ;  (Foto: Dreamstime)

 (Foto: Dreamstime)

Alguns anos atrás, Scott Sonenshein, hoje professor de gestão da Rice University, reuniu-se com um CEO de uma grande varejista. A empresa, que havia começado com uma lojinha, já era uma cadeia nacional e preparava-se para realizar um IPO. Scott Sonenshein perguntou ao executivo qual o segredo daquele crescimento tão vigoroso em apenas uma década. "Diga não!", ele disse apenas. O executivo explicou: aprendera a dizer não a aumentar número de funcionários, não a trabalhar com grandes orçamentos para marketing, não a equipamentos adicionais.

A maioria das pessoas não gosta de dizer não. Elas consideram que, ao ouvir uma resposta negativa, aquilo é uma rejeição a suas ideias, a elas mesmas. Entendem o não como sinal de que seus projetos não são valorizados ou que suas carreiras não estão progredindo. Mas os funcionários daquele CEO, segundo descobriu Scott Sonenshein, aprenderam que os "nãos" contam muito mais na busca por atingir certos objetivos. Em artigo publicado na Harvard Business Review (HBR), Sonenshein lembra essa história para refletir sobre os desafios de ouvir um "não" de um chefe.

"A maioria de nós está condicionado a acreditar que sempre precisamos de mais recursos do aqueles que já temos para atingirmos melhores resultados. Isso é verdade em alguns casos, mas nos leva a diminuir o uso da criatividade para realizar um trabalho. A crença de que não temos o suficiente para atingir os objetivos aumenta a nossa ansiedade, nos faz tomar decisões atrasadas e perder janelas de oportunidades", analisa no artigo. Sonenshein aproveitou para dar algumas dicas para lidar melhor com essas negativas e fazer delas algo benéfico para sua carreira. Confira abaixo: 

Mantenha suas expectativas

Quando o chefe recusa um pedido, normalmente as pessoas costumam ter duas reações. Primeiro: pensam que o chefe (ou a chefe) não entende a magnitude do problema - afinal, se entendessem, eles concederiam os recursos necessários para aquela resolução. Uma segunda reação provável é se resignar e aceitar um certo fracasso: "Sem mais tempo para realizar esse trabalho, a qualidade do que for entregue será menor". Ou ainda: "sem mais recursos, nós teremos que limitar o escopo do projeto", ou: "sem um orçamento grande de marketing, as vendas vão cair". 

O problema dessas duas reações é que, analisa Sonenshein, quando nos sentimos derrotados, tendemos a reduzir o esforço que fazemos, o que leva a um modo negativo de encarar as coisas. Passamos a agir como se os projetos já não pudessem ser feitos com o mais alto nível que poderiam - já que partimos do pressuposto imediato de que isso só ocorreria se tivéssemos mais recursos, mais tempo, ou algo a mais. 

Sonenshein cita uma pesquisa que mostra que as pessoas trabalharam pelas suas próprias expectativas e pelas expectativas dos outros. Quando interpretamos mal um "não" do chefe - no sentido de acharmos que nosso trabalho não está sendo valorizado - acabamos jogando por água abaixo todas essas expectativas. 

Então, faça o contrário: mantenha suas expectativas altas. Pense em como fazer bem um trabalho, pense em como usar os recursos de uma forma criativa e como a colaboração com e de seus colegas pode te ajudar a cumprir prazos, metas de vendas ou outros objetivos. "Um 'não' lhe dá a oportunidade de provar para outros que você pode encontrar soluções criativas e entregar um trabalho de maior qualidade com menos recursos", analisa. 

Tente algo novo, que nunca pensou antes

Sonenshein defende que nós nos acostumamos a sempre pedir por mais. Quando se tem uma série de recursos à disposição, não há necessidade de ser criativo ou usar aquilo que se tem do modo mais eficiente possível. Quando os recursos somem, porém, nós lutamos. E aí que encontra-se a chance de desenvolver habilidades, defende o professor. 

Portanto, quanto vezes nossos chefes nos dizem 'não', maiores são as chances de usarmos a nossa 'inventividade' para criar soluções. Pesquisas citadas por Sonenshein apontam que, quando já partimos do pressuposto de que não haverá recurso, nós tiramos "uma licença" para pensar em novas formas de trabalhar. Portanto, cada vez que um chefe diz não e nós temos sucesso nesta adaptação, nós não apenas estaremos resolvendo um problema, como também quebrando nossa dependência de pedir mais e mais. 

Mova-se - em qualquer direção 

A cada minuto que gastamos nos preocupando com aquilo que não temos é um minuto a menos que poderíamos estar fazendo algo útil, produzindo, diz Sonenshein. Quando encaramos um 'não' de modo pessoal, acreditando que aquilo se trata de nós, como pessoas, e não do trabalho em si, nós ficamos estancados. Pesquisadores afirmam que, quando os seres humanos se sentem ameaçados, eles caem na armadilha de usar de forma menos criativo os recursos que têm. Ou seja: temos dificuldades em usar bem os recursos exatamente nas situações em que é mais importante saber usar bem aquilo que temos às nossas mãos. Pense no que você tem, experimente e comece a se mover. Não fique parado. Segundo Sonenshein, vai ser mais fácil, começar a lutar pelos objetivos sem ter um "time completo, "um plano ideal", um "orçamento polpudo". Não deixe seu chefe te barrar. Vá em frente, faça mais com menos. E então você perceberá a força e o valor que terá tudo aquilo que criou sem nem saber que seria capaz.