Cultura Música

Análise: Lady Gaga 'esquece' 'Joanne' e aposta em campo seguro para brilhar no Super Bowl

Cantora levou repertório de hits para a performance de 13 minutos
A cantora Lady Gaga em apresentação no intervalo do Super Bowl Foto: Christopher Polk / AFP
A cantora Lady Gaga em apresentação no intervalo do Super Bowl Foto: Christopher Polk / AFP

RIO — Em pouco mais de 13 minutos, Lady Gaga apareceu no teto do NRG Stadium, saltou para o gramado, cantou, quase sem usar playback, (trechos de) 13 músicas, apresentou coreografias, tocou keytar ( olha ele aí! ), trocou de roupa, fez boa recepção ao receber um passe com a bola de futebol americano e sumiu no gramado. Foi o suficiente para uma apresentação memorável no intervalo do Super Bowl.

Para além das sutis manifestações contrárias ao governo Trump e das pirotecnias de praxe do evento, a cantora entregou uma performance musical sólida aos milhares de torcedores presentes ao estádio em Houston — e para os milhões de espectadores pelo mundo.

Foi o cartão de visitas perfeito para o anúncio, horas depois, da turnê mundial de "Joanne", seu quinto disco, que passará pelo Brasil em setembro, com apresentação única no Rock in Rio . Após três anos focados em apresentações menos grandiosas, entre elas aquelas em que cantou standards de jazz ao lado do veterano Tony Bennett divulgando o premiado "Cheek to cheek", Gaga provou que está pronta para voltar com tudo ao universo pop que a ela pertence.

O uso reduzido do playback, algo bem raro em apresentações como essa, reforçou ainda o que Gaga já vinha provando em aparições recentes, como quando cantou "Til it happens to you" no Oscar do ano passado : é dela uma das melhores vozes dessa geração. O alcance e a habilidade vocal, antes ofuscado em meio a tantas parafernálias visuais que a cantora usava no início da carreira, hoje é merecidamente aplaudido.

Para o sucesso do show, é bem verdade, Gaga optou por deixar de lado a divulgação de "Joanne". Entre as 13 canções que estiveram no repertório da noite, apenas a balada "Million reasons", que garantiu um belo momento piano e voz, faz parte do disco lançado em outubro passado. Foi estranho não ver uma performance do principal hit do trabalho, "Perfect illusion", por exemplo. Ou uma menção à ótima "John Wayne" — ambas combinariam perfeitamente com o clima da festa.

Outra ausência sentida na performance foi a participação de convidados especiais, algo clássico no Super Bowl. Talvez seja reflexo do "roubo de protagonismo" causado por Beyoncé no ano passado, quando ofuscou a apresentação da banda Coldplay ( relembre ), anfitriã daquela noite em que recebeu ainda o cantor Bruno Mars. Aliás, uma dobradinha com Bey, grávida de gêmeos, em "Telephone", música que gravaram juntas, por exemplo, seria histórica.

A apresentação de Gaga começou com dois covers de clássicos do cancioneiro americano: "God bless America", de Irving Berlin, e "This land is your land", de Woody Guthrie — o título deixa bem claro a quem a inclusão da música foi endereçada. Eles foram previamente gravados ao longo da semana passada, por conta do uso de 300 drones que formaram a bandeira dos Estados Unidos no céu (regras da segurança aérea americana proíbem essa quantidade de drones sobrevoarem eventos abertos ao público).

O show ao vivo entrou para valer quando a cantora saltou do teto. A partir daí, foi um hit atrás do outro. "Poker face" contou com menções a "Dance in the dark", "Just dance", "LoveGame", "Paparazzi" e "The edge of glory", seguidas por "Born this way", "Telephone" e "Just dance" (a do keytar) — sucessos de um período em que Gaga causava abalos sísmicos constantes no universo pop, no qual reinava quase que absoluta. O respiro de "Millions reasons" preparou o terreno para que "Bad romance", o maior hit da carreira de Gaga, encerrasse a perfomance de maneira apoteótica.

Com a iminente licença-maternidade de Beyoncé, Lady Gaga está mais pronta do que nunca para retomar a coroa que já lhe pertenceu.