Por Alessandro Ferreira, G1 Rio


Sergio Cabral admite uso de helicópteros do governo em viagens a lazer

Sergio Cabral admite uso de helicópteros do governo em viagens a lazer

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral começou a ser ouvido, por videoconferência, por volta das 15h desta terça-feira (21), no processo que apura se ele usou de forma irregular os helicópteros do estado durante o seu mandato. Preso em Bangu por outros processos, desdobramentos da Lava Jato, ele disse na audiência que usava as aeronaves do estado por segurança.

Segundo Cabral, havia recomendação do gabinete militar para que ele viajasse de helicóptero, mesmo em viagens particulares, como para sua mansão em Mangaratiba, para onde assumiu ter viajado várias vezes com a família. Ainda de acordo com o governador, segundo orientações, o uso de voos privados o colocaria em risco.

Sérgio Cabral disse não se lembrar de autorizar a viagem de outras pessoas no helicóptero do governo.

Em sua defesa, o ex-governador afirmou ter sido o primeiro governador a aprovar um decreto para regularizar o uso de helicópteros, em agosto de 2013. Após o decreto, segundo Cabral, o uso de helicópteros foi reduzido.

O subsecretário de Operações Aéreas, coronel Marcos Oliveira César, foi ouvido em seguida. Ele, que era responsável pelo setor na gestão de Cabral, disse que recebia as informações sobre destino e quantidade de passageiros da assessoria do ex-governador e que não eram especificados nomes dos passageiros transportados.

Segundo o coronel, na maior parte dos fins de semana o ex-governador se deslocava para Mangaratiba e que, eventualmente, por questões de agenda, o helicóptero era usado para levar e buscar o governador. Oliveira César disse não se recordar do uso da aeronave para fins particulares.

Ex-governador Sérgio Cabral participa por videoconferência de audiência sobre o uso de helicópteros em seu mandato de governador — Foto: Alessandro Ferreira/G1

Ameaças, diz coronel

O subsecretário afirmou também que havia informações de ameaças contra ex-governador Sérgio Cabral e família – inclusive o cachorro – e que, eventualmente, a aeronave era utilizada para deslocamento do Leblon, onde ficava o apartamento da família de Cabral, para Palácio Guanabara.

Ainda segundo o coronel, a equipe de Segurança fez levantamento na época e concluiu que era mais econômico usar a aeronave do que uma comitiva de carro.

O subsecretário militar da Casa Civil, coronel Fernando Messias Paraíso, também prestou depoimento nesta terça-feira (21) e confirmou a informação de que havia ameaças contra o ex-governador Sergio Cabral. Messias orientava o uso de helicópteros no deslocamento de Cabral com o argumento de que o comboio era dispendioso porque eram necessários quatro carros e motocicletas.

O piloto Osvaldo Franco também foi ouvido na audiência que apura uso excessivo do helicóptero por parte do ex-governador. Ele afirmou que não pode precisar se aeronave foi usada para voos particulares.

Um segundo piloto, identificado como André, afirmou em depoimento que três aeronaves eram disponibilizadas para Cabral. O piloto afirmou ainda que, às vezes, eram utilizadas mais de uma aeronave em razão do número de pessoas ou diferença de horários.

Adriana Ancelmo é uma das testemunhas

A mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, é uma das testemunhas da ação que corre no Tribunal de Justiça do Rio. Os dois depõem por teleconferência do presídio Bangu 8. Apesar de previsto para esta terça-feira (21), o depoimento da esposa do ex-govovernador Sergio Cabral, Adriana Ancelmo, presa em Bangu, foi dispensado pelo advogado de defesa.

Sérgio Cabral foi preso no dia 17 de novembro de 2016, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Calicute, que apura fraudes em licitações do governo fluminense. Ele é suspeito de receber milhões em propina para fechar contratos públicos. Ele é alvo de uma operação que apura desvios em obras do governo estadual. O prejuízo é estimado em mais de R$ 220 milhões.

Adriana Ancelmo está presa desde 6 de dezembro do ano passado, no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste. A prisão é a mesma onde está o marido. Ela foi detida na Operação Calicute, que é um desdobramento da Lava jato no Rio, por suspeita de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema de corrupção comandado por Cabral.

O patrimônio ilícito do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) é, segundo o Ministério Público Federal (MPF), um "oceano ainda não mapeado".

Nova denúncia

O ex-governador presta depoimento no mesmo dia em que o Ministério Público Federal enviou nova denúncia à 7ª Vara Criminal Federal contra ele. Desta vez, os procuradores apontam mais 148 crimes de lavagem de dinheiro – ele já responde a outros 184, só em uma denuncia anterior. À noite, o G1 confirmou que a denúncia foi integralmente aceita.

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