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Dinossauros do futuro

Até quando os SUVs dominarão o mercado?

Chevrolet Suburban

Em 1990, nos EUA, uma mudança na legislação liberou veículos como picapes e outros utilitários novos para que não respeitassem os mesmos limites de eficiência (consumo) estabelecidos para os demais carros de passeio. Àquela altura, o mercado por lá era dominado pelos clássicos sedãs de quatro portas – com destaque para os japoneses Toyota Camry e Honda Accord, embora isoladamente, o modelo mais vendido fosse (e continua sendo) a picape F150, da Ford. Não por coincidência, 1990 é considerado o início da “Era dos SUVs”, carros que combinam o porte das picapes com o conforto dos modelos de passeio e que, aos poucos, foram caindo no gosto dos consumidores americanos.

Ford Explores

Em 2009, pela última vez nos EUA, sedãs e hatches venderam mais que as picapes leves e os SUVs. Desde então, a proporção de carros “altos” vendidos em relação aos modelos de passeio tradicionais vem subindo e subindo e, em 2019, apenas um em cada 10 carros vendidos era um sedã. Para o final deste ano, a Fiat Chrysler projeta ter 90% de seu volume de vendas concentrado em SUVs e picapes – enquanto a GM prevê 84% e a Ford 83%.

Toyota Camry 2019

Fim de linha

Essa preferência do consumidor fez com que as gigantes Ford e Fiat Chrysler decidissem parar completamente de fabricar sedãs em seu país, concentrando suas energias e investimentos nos utilitários – inclusive híbridos e elétricos. A outra gigante local, General Motors, não aderiu formalmente a esse movimento, mas sintomaticamente vem retirando de linha uma série de sedãs e hatches que dão prejuízo, entre eles até o híbrido Volt. Levando em conta que, na maioria dos casos, as margens de lucro com os novos donos do pedaço – maiores e mais pesados – é mais alta, nenhuma das empresas parece muito contrariada com o novo cenário. 

Bentley Bentayga

Por conta do mercado americano, as principais marcas de luxo do planeta vêm aderindo a esse "suvismo" e investindo também em SUVs. Começando pela Porsche, com o Cayenne – inicialmente criado especialmente para a Terra do Tio Sam –, nomes como Rolls-Royce, Bentley (acima), Lamborghini, Maserati, Jaguar e Alfa Romeo trataram de criar antes impensáveis modelos “aventureiros” para completar seus portfólios. Outras, como a Ferrari e a Aston Martin não tardam a fazer o mesmo.

Aqui no Brasil, principalmente por conta do menor poder econômico da maioria dos compradores de carros em comparação com o dos norte-amaericanos, os SUVs ainda perdem em vendas totais para os compactos do chamado segmento de entrada. Mas vêm logo atrás, tanto que todas as montadoras aqui presentes lançaram e continuam lançando novos modelos aventureiros em quantidade.

Pensando fora dos caixotões

Há, porém, montadoras que parecem pensar um pouco diferente. A começar pelas orientais Nissan, Hyundai, Honda, Subaru e Toyota, acompanhadas por outras, como a Volkswagen. Embora também ofereçam SUVs e picapes, essas marcas insistem em lançar novos veículos de passeio “comuns” nos EUA. Por que?

Bom, para começo de conversa, mesmo com os brutamontes dominando as ruas, só de Honda Accord e Toyota Camry ainda há hoje mais de nove milhões de sedãs rodando por lá. Cá entre nós, os carros grandes e altos podem ser atraentes por muitos motivos – alguns dos quais, quem sabe, só Freud possa explicar –, mas dificilmente serão tão econômicos quanto os modelos menores, mais leves e mais baixos. E se o preço da gasolina se manteve em patamares relativamente baixos na última década, a tendência atual é de alta – e o argumento “bolso” é sempre poderoso na decisão de compra. Os carros também são, claro, muito mais prazerosos de se dirigir, embora isso não pareça ter mais importância do que a moda, claro.

Toyota Higlander Hybrid

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Mais baixos vão mais longe

Mas o que penso ser o principal trunfo dos carros que rodam mais perto do chão em relação aos altões é a inevitável eletrificação dos automóveis, que já começou e que deve se acelerar nos próximos anos. Isso porque, por suas características de funcionamento, os elétricos tendem a consumir mais bateria em velocidades mais altas. E, por isso, tendem a ser mais econômicos em ciclo urbano que em estradas. Daí que carros mais altos, com pior aerodinâmica e maior peso dificilmente conseguirão ter a mesma autonomia de modelos mais leves e aerodinâmicos nas rodovias. Em outras palavras, no mundo elétrico, aquela história de que SUVs e picapes são bons para viajar pode mudar da água para o vinho, ou do carro para a carroça.

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