14/12/2016 06h28 - Atualizado em 14/12/2016 06h28

Projeto da UFG promove inclusão digital de catadores, em Goiânia

Muitos alunos tiveram primeiro contato com computadores pelo curso.
Alunos relatam que curso ajudou no trabalho, na rotina e na vida pessoal.

Vanessa MartinsDo G1 GO

Estudantes da UFG ensinam catadores a usar computadores e a internet em Goiânia Goiás (Foto: Vanessa Martins/G1)Estudantes da UFG ensinam catadores a usar computadores e a internet (Foto: Vanessa Martins/G1)

O projeto Rede Digital de Cidadania da Universidade Federal de Goiás (UFG) promove a inclusão digital de membros de cooperativas de catadores de material reciclável na Grande Goiânia. A iniciativa foi criada pela professora Laura Vilela e nove alunos do curso de biblioteconomia da instituição. A proposta atendeu 90 catadores de seis cooperativas em 2016. Para muitos participantes, o curso foi o primeiro contato com um computador e com a internet.

A aluna de biblioteconomia Kellen Rodrigues, de 21 anos, conta que o projeto teve duração de duas semanas em cada cooperativa, sendo que as aulas aconteciam de segunda a sexta e duravam uma hora. Durante o curso, os cooperados aprenderam o básico sobre como ligar e manusear um computador, fazer pesquisas na internet, criar contas de e-mail e redes sociais, se informar sobre diversos assuntos e até a consultar documentos online.

“A intenção é promover a inclusão digital para os catadores da Região Metropolitana. Primeiro fizemos um questionário para saber como eles se relacionavam com informação e vimos que a minoria tinha acesso à internet ou ao computador. Os poucos que conheciam eram mais pelo smartphone. Com isso, elaboramos uma apostila para capacitação. Capacitação porque o intuito é torná-los capazes de manusear informação na internet”, explicou ao G1.

Além dos conceitos e ferramentas básicas, como usar programas para digitar textos e fazer buscas na internet, o projeto também se preocupou em mostrar aos cooperados noções básicas de assuntos como saúde, educação e até cursos online que eles podem desenvolver. Kellen esclareceu que o objetivo é permitir que eles aprendam a buscar informações confiáveis na internet, usando-a de forma responsável.

“A gente entende que através da tecnologia eles podem adquirir informações sobre qualquer coisa e a gente quis trabalhar isso com eles. A principal intenção era capacitá-los de forma que o curso não ficasse só naquele momento, mas que fossem crescer a partir dali. Por isso, a intenção é que até o início de 2017 cada cooperativa que participou do projeto ganhe um computador para que eles continuem usando”, disse a estudante.

Cooperados participaram de curso de inclusão digital oferecido pela UFG em Goiânia Goiás (Foto: Divulgação/UFG)Cooperados participaram de curso de inclusão digital oferecido pela UFG (Foto: Divulgação/UFG)

Inclusão social
Kellen contou que o resultado do projeto foi surpreendente até para os estudantes que davam as aulas. Segundo ela, aqueles que menos conheciam se mostravam mais empolgados com a oportunidade de aprender e animavam todo o grupo.

“Nós ficamos impressionados com a humildade e a vontade deles de aprender. Eu mesma aprendi muito com eles nesse aspecto, saí com vontade de ser mais humilde, como eles. Além disso, pudemos conhecer a realidade deles, aprender sobre a importância do trabalho que eles desenvolvem”, comentou.

O catador Edmar Leão de Souza, de 45 anos, contou que se sentiu bem ao fazer o curso, que lhe proporcionou o seu primeiro contato com um computador. “Foi muito bom, foi um contato novo na mente. No inicio eu tinha medo do computador, mas foram explicando, jeito bom de conversar, a prosa boa e a gente foi animando. Não pensava que ia aprender o que aprendi no curso. Agora já sei, para o caso de uma necessidade”, disse.

A também catadora Ariadne Simone Gonçalves da Silva, de 41 anos, contou que tem computador em casa, mas não sabe usar e os filhos não conseguiam ensiná-la por falta de tempo. Segundo ela, o curso a ajudou a se sentir parte do mundo digital e mais incluída na sociedade. “Lembraram que a gente existe. Nós somos discriminados, então alguém lembrar da gente para fazer alguma coisa, dar um ensinamento, foi muito bom”, contou.

Catadores relatam que se sentiram incluídos após curso de capacitação para uso do computador e internet Goiás (Foto: Vanessa Martins/G1)Catadores relatam que se sentiram incluídos após curso de capacitação digital (Foto: Vanessa Martins/G1)

A presidente da cooperativa de catadores Coocamare, Maria da Conceição Ferreira da Silva, de 40 anos, relatou que viu a diferença para a maioria dos participantes do curso. “Foi um trabalho de inclusão mesmo. Foi a porta de entrada para as pessoas darem continuidade, foi o despertar. O pessoal que veio teve muita paciência com os alunos, que eram analfabetos digitais. Acho que deu a eles essa sensação do pertencer. Já nos sentimos excluídos de tudo, então foi uma forma de nos sentirmos parte do mundo, da sociedade”, contou.

Além de aprender a usar o computador e ter as portas abertas para o mundo digital, a cooperada Vanusa Pereira, de 32 anos, disse que o curso a ajudou também no trabalho que ela desenvolve na cooperativa, já que ajuda na parte administrativa.

“Eu tinha muita dificuldade de digitar no computador, então foi bom que aprendi a escrever ofícios, passei a ajudar mais no escritório. Sempre que a gente quer comprar alguma copisa para cá eu vou lá procurar saber quando está, pesquisar preço, ver onde é mais barato. Adorei as aulas, fiz amizades e me desenvolvi”, afirmou.

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