O projeto Rede Digital de Cidadania da Universidade Federal de Goiás (UFG) promove a inclusão digital de membros de cooperativas de catadores de material reciclável na Grande Goiânia. A iniciativa foi criada pela professora Laura Vilela e nove alunos do curso de biblioteconomia da instituição. A proposta atendeu 90 catadores de seis cooperativas em 2016. Para muitos participantes, o curso foi o primeiro contato com um computador e com a internet.
A aluna de biblioteconomia Kellen Rodrigues, de 21 anos, conta que o projeto teve duração de duas semanas em cada cooperativa, sendo que as aulas aconteciam de segunda a sexta e duravam uma hora. Durante o curso, os cooperados aprenderam o básico sobre como ligar e manusear um computador, fazer pesquisas na internet, criar contas de e-mail e redes sociais, se informar sobre diversos assuntos e até a consultar documentos online.
“A intenção é promover a inclusão digital para os catadores da Região Metropolitana. Primeiro fizemos um questionário para saber como eles se relacionavam com informação e vimos que a minoria tinha acesso à internet ou ao computador. Os poucos que conheciam eram mais pelo smartphone. Com isso, elaboramos uma apostila para capacitação. Capacitação porque o intuito é torná-los capazes de manusear informação na internet”, explicou ao G1.
Além dos conceitos e ferramentas básicas, como usar programas para digitar textos e fazer buscas na internet, o projeto também se preocupou em mostrar aos cooperados noções básicas de assuntos como saúde, educação e até cursos online que eles podem desenvolver. Kellen esclareceu que o objetivo é permitir que eles aprendam a buscar informações confiáveis na internet, usando-a de forma responsável.
“A gente entende que através da tecnologia eles podem adquirir informações sobre qualquer coisa e a gente quis trabalhar isso com eles. A principal intenção era capacitá-los de forma que o curso não ficasse só naquele momento, mas que fossem crescer a partir dali. Por isso, a intenção é que até o início de 2017 cada cooperativa que participou do projeto ganhe um computador para que eles continuem usando”, disse a estudante.
Inclusão social
Kellen contou que o resultado do projeto foi surpreendente até para os estudantes que davam as aulas. Segundo ela, aqueles que menos conheciam se mostravam mais empolgados com a oportunidade de aprender e animavam todo o grupo.
“Nós ficamos impressionados com a humildade e a vontade deles de aprender. Eu mesma aprendi muito com eles nesse aspecto, saí com vontade de ser mais humilde, como eles. Além disso, pudemos conhecer a realidade deles, aprender sobre a importância do trabalho que eles desenvolvem”, comentou.
O catador Edmar Leão de Souza, de 45 anos, contou que se sentiu bem ao fazer o curso, que lhe proporcionou o seu primeiro contato com um computador. “Foi muito bom, foi um contato novo na mente. No inicio eu tinha medo do computador, mas foram explicando, jeito bom de conversar, a prosa boa e a gente foi animando. Não pensava que ia aprender o que aprendi no curso. Agora já sei, para o caso de uma necessidade”, disse.
A também catadora Ariadne Simone Gonçalves da Silva, de 41 anos, contou que tem computador em casa, mas não sabe usar e os filhos não conseguiam ensiná-la por falta de tempo. Segundo ela, o curso a ajudou a se sentir parte do mundo digital e mais incluída na sociedade. “Lembraram que a gente existe. Nós somos discriminados, então alguém lembrar da gente para fazer alguma coisa, dar um ensinamento, foi muito bom”, contou.
A presidente da cooperativa de catadores Coocamare, Maria da Conceição Ferreira da Silva, de 40 anos, relatou que viu a diferença para a maioria dos participantes do curso. “Foi um trabalho de inclusão mesmo. Foi a porta de entrada para as pessoas darem continuidade, foi o despertar. O pessoal que veio teve muita paciência com os alunos, que eram analfabetos digitais. Acho que deu a eles essa sensação do pertencer. Já nos sentimos excluídos de tudo, então foi uma forma de nos sentirmos parte do mundo, da sociedade”, contou.
Além de aprender a usar o computador e ter as portas abertas para o mundo digital, a cooperada Vanusa Pereira, de 32 anos, disse que o curso a ajudou também no trabalho que ela desenvolve na cooperativa, já que ajuda na parte administrativa.
“Eu tinha muita dificuldade de digitar no computador, então foi bom que aprendi a escrever ofícios, passei a ajudar mais no escritório. Sempre que a gente quer comprar alguma copisa para cá eu vou lá procurar saber quando está, pesquisar preço, ver onde é mais barato. Adorei as aulas, fiz amizades e me desenvolvi”, afirmou.