''Vei, séloco! Mais um sonho de criança sendo realizado, graças a Deus''. A frase que abre essa matéria já virou rotina na vida de Gustavo Scarpa. Desde que se firmou no time profissional do Fluminense, o meia teve diversos motivos para dizê-la ou postá-la em suas redes sociais. Foi assim quando fez seus primeiros gols, quando ganhou a camisa 10 e após ser convocado para a Seleção. Foi assim na última quarta-feira. A noite do dia 15 de fevereiro de 2017 ficará guardada como o dia em que ele marcou de antes do meio-campo. Com direito a dica do técnico Abel Braga, observação sobre o vento e aplausos da torcida rival, o jovem de 22 anos se ''inscreveu'' no prêmio Puskás com mais um golaço (confira no vídeo acima).
A campanha do Flu começou logo após o jogo. Foram três posts na conta oficial do clube no Twitter remetendo ao assunto. O último teve até trocadilho: ''O Puskás não Scarpa''. O presidente Pedro Abad também gravou um vídeo pedindo para a torcida tricolor votar no golaço de olho no prêmio. Antes disso, porém, Scarpa precisa ser indicado pela Fifa como um dos 10 finalistas, o que normalmente acontece em novembro. Só então começa a votação online.
Fluminense começou a campanha no Twitter logo após o jogo de quarta (Foto: Reprodução / Twitter)- Estou colhendo as coisas boas que plantei. Fico muito
feliz com esse momento. Mais feliz ainda porque não estou me acomodando
com as coisas boas que vem acontecendo. Foi uma noite
inesquecível. Vou guardar a chuteira e essa data na memória. Vai ser
difícil dormir - disse Scarpa, que já havia tentado e
errado o mesmo chute contra o América-MG no Campeonato Brasileiro do ano
passado.
A nova pintura nasceu antes mesmo de a bola rolar em Ceará-Mirim. Quando
mostrou os vídeos do adversário para os jogadores, Abel avisou que o
goleiro Rafael jogava adiantado. No primeiro tempo, Scarpa confirmou a
informação em três momentos diferentes.
Mas o vento não estava a favor e ele teve de esperar até a etapa final. O chute saiu preciso e
percorreu 59 metros do seu pé esquerdo até a rede. Na comemoração, o camisa 10 parecia não acreditar. Os reservas do Flu invadiram o campo para pular e abraçar o meia. Scarpa ainda teve tempo de dançar e ajoelhar para agradecer. Quando foi substituído, recebeu os aplausos da torcida rival. Antes de deixar o campo, até o massagista do Globo FC pediu a sua camisa. O ''gol que
Pelé não fez'' não foi por acaso.
- Logo eu que ganhei os mesmos títulos do Pelé, né (risos). Mas falando sério, fico muito feliz
porque é um chute que eu treino sempre. O elenco pode confirmar isso. O Abel já tinha avisado que o goleiro jogava adiantado. Não deu para tentar no primeiro tempo contra o vento. Ai na primeira brecha que deram no segundo tempo eu tentei e fui muito
feliz. Ainda terminei o jogo com a faixa de capitão, legal demais - frisou.
Incrédulo, Scarpa comemora o golaço com os reservas que invadiram o gramado (Foto: Nelson Perez/Fluminense FC)Scarpa já acumula quatro gols e duas assistências em cinco jogos na temporada. Segundo Abel, o destaque de outros jogadores, como Sornoza, Douglas, Orejuela e Henrique Dourado ajuda.
- A bola não entrou lenta, ela entrou muito forte. Está de parabéns o
garoto, está voltando a ser o Scarpa que todo mundo conhece. E uma coisa
boa: como outros jogadores também estão bem, diminui um pouco a
responsabilidade dele.
O bigode dos gols bonitos
O golaço do meio-campo foi apenas mais um do repertório de Scarpa. De seus 23 gols como profissional, 12 podem ser considerados pinturas (confira no vídeo abaixo). Mais da metade. Já teve cobrança de falta de tudo quanto é distância, balãozinho no rival, toque por cobertura, pancada de fora da área e agora o gol de antes do meio-campo.
- Acho que é até mais da metade, hein (risos). Mas esse sem dúvida foi o mais bonito da minha carreira juntando base e profissional. Eu tenho uma boa noção de espaço e tempo na finalização. Vou continuar tentando esse tipo de chute, agora ainda mais confiante.
Seria então Gustavo Scarpa um novo Dodô no quesito golaços? Se ele não é artilheiro de origem, poderia ser o bigode dos gols bonitos. E aí?
- Quem sabe? Estou começando ainda, tenho que comer muito arroz com feijão, mas estou no caminho certo - finalizou.
Se pudesse, a torcida tricolor responderia como seu camisa 10: ''séloco, vei''.