O fotógrafo Sebastião Salgado Foto: O Globo
BANGCOC — Pouco menos de um ano após ter previsto o fim da fotografia por causa dos smartphones, Sebastião Salgado mudou de ideia.
— Não acho que esteja em perigo, pensei assim em algum momento, mas estava errado e retiro o que disse — afirmou o consagrado fotógrafo brasileiro, em entrevista à Reuters. — Acho que a fotografia, agora mais do que nunca, tem um longo futuro pela frente.
LEIA TAMBÉM
:
‘O rio agora é uma calha estéril cheia de lama’, diz Sebastião Salgado
O brasileiro, de 73 anos, agora minimiza os bilhões de celulares que tiram a maioria das fotos no mundo. Ele acredita que fotógrafos documentais estão se diferenciando disso com fotografias memoráveis que irão sobreviver.
— O que as pessoas fazem com seus telefones não é fotografia, são imagens — disse em Bangcoc, onde participa de uma exibição de seus trabalhos. — Fotografia é uma coisa tangível, você captura, você olha para ela. É algo semelhante à memória.
A indústria estima que o total de fotos que serão tiradas em 2017 seja maior que um trilhão. Ao menos 85% destas fotos serão tiradas em smartphones, que já somam mais de dois bilhões de aparelhos, e somente cerca de 10% serão tiradas com câmeras digitais.
As fotos em preto e branco de Salgado possuem uma grandeza que aumenta o brutal tema de seus trabalhos, muitas vezes de pessoas na pobreza e conflitos ou ambientes ameaçados. Em 2014, um
documentário feito em parceria por Win Wenders e Juliano Ribeiro, filho de Sebastião, contou a trajetória do fotógrafo
.
Entre seus trabalhos mais famosos estão os garimpeiros na Serra Pelada, no Pará. Em 2013,
O GLOBO acompanhou uma expedição de Salgado pelas terras do povo Awá
, no pouco que resta de Floresta Amazônica no Maranhão.
Foto Anterior
Proxima Foto
A repórter Míriam Leitão e o fotógrafo Sebastião Salgado junto aos índios Awá, na Aldeia Juriti, localizada na Reserva Biológica Gurupi, no Maranhão Foto: O Globo
A Reserva Biológica Gurupi foi criada em 1961 por Janio Quadros com 1,6 milhão de hectares. Nesses 52 anos, os limites foram reduzidos, mas a área é duplamente protegida por ser reserva e Terra Indígena Foto: Agência O Globo
A terra dos Awá já foi demarcada, homologada, e registrada no Diário Oficial da União com 116.582 hectares. Todas as contestações judiciais, que vêm desde os anos 1980, foram consideradas improcedentes
Vista aérea da floresta amazônica, onde o território Awá está localizado. Mesmo com todas as decisões judiciais, ele tem sido desmatado pelos madeireiros e ainda é ocupado por posseiros e grileiros
O fótografo Sebastião Salgado chama atenção para o fato de que esse não é somente um terrítório indígena, e sim da União, cuja obrigação de zelar por ele é a mesma que a de todos os brasileiros
Parte da floresta ainda permanece intacta por causa de seu relevo acidentado, o que torna difícil para os madeireiros ilegais penetrá-la e usar escavadeiras para criar aberturas
Milhares de exemplares de madeira nobre são objetos de desejo de madeireiros na região
O povo Awá está extremamente vulnerável. Eles são pouco mais de quatrocentas pessoas e vivem cercados de municípios que dependem da extração da madeira
Os Awá pertencem a um dos últimos grupos indígenas considerados caçadores e coletores e são definidos pela Funai como ‘índios de recente contato ou isolados’
Os Awá foram contatados em 1979 - alguns indivíduos só no final da década de 90 - e há fortes indícios de grupos que permanecem fugindo mata adentro
Duas jovens famílias Awá. Da esquerda para a direita, Tykaco com sua esposa Aparana´i sentada ao seus pés e grávida, e Jui´i com sua esposa, Xikapiõ, também grávida
Piraima´a (ao centro e de pé), com sua família. Da esquerda para a direita, seu filho Jui´i, com sua esposa Xikapio, que espera um bebê, a esposa Paicon com a filha Manimy sentada no seu colo e os irmãos dela, Makatan (sentado) e Kiripi, com um sagui negro nos braços Foto: Sebastião Salgado
Amerytxia é a anciã da comunidade Awá. Ela decidiu viver sozinha na floresta, distante da Aldeia Juriti, com apenas uma rede e uma fogueira
O jovem guerreiro Jui´i e sua esposa Xikapio Foto: O Globo
Da esquerda para a direita Juritximitan, Makoeri (criança) e Muturuhum próximo ao acampamento de caça
Pirama´a sentado próximo ao rio Caru. Ele é um dos mais importantes caçadores da Aldeia Juriti
Com a ajuda de um integrante da comunidade Awá, o índio Hiraho prepara a a construção de um abrigo no acampamento de caça, distante dois dias a pé da Aldeia Juriti
Enquanto pesca no rio Caru, a índia Coina amamenta seu filho recém-nascido, o quinto da prole
Criança Awá brinca na rede em cena rotineira na Aldeia Juriti
Crianças brincam em árvore próximo ao rio Caru, na Aldeia Juriti
O pequeno Makoeri se prepara para se jogar no rio Juriti, que é um afluente do rio Caru
Crianças Awá se refrescam no rio Caru
Crianças Awá esvaziam uma canoa para tentar se equilibrar durante um banho de rio
Antes de sair à caça, ao amanhecer, o índio Muturuhum aquece suas flechas para alinhá-las
O jovem guerreiro Jui´i posa com seu quati de estimação antes de sair à caça...
Aqui o jovem guerreiro identifica um alvo entre as árvores para lançar sua flecha
O índio Txiparamatxa´a carrega um macaco saquê preto, após flechá-lo duas vezes sobre as árvores, numa altura de mais de 30 metros Foto: Sebastião Salgado/ Amazonas Images
O índio Piraima´a (à esquerda) mostra ao lado de seu pai Pirama´a as marcas feitas pelos madeireiros em um ipê, árvore sagrada para os Awá e altamente valiosa no mercado ilegal
Soldados do Exército brasileiro cortam em pequenos troncos as toras de árvores derrubadas ilegalmente pelos madeireiros, na tentativa de inutilizá-las Foto: c
Após a derrubada ilegal das árvores, os madeireiros as camuflam na própria floresta, onde as tratam para já levá-las à serraria Foto: Sebastião Salgado
Um membro da FUNAI e um agente do IBAMA flagram um caminhão que transportava madeira ilegalmente, retirada da reserva indígena Foto: c
Isolada da Aldeia Juriti, no coração da floresta, a anciã Amerytxia é considerada responsável pela criação de vários índios Awás