Por Luiza Garonce, G1 DF


Reservatório de Santa Maria, no DF, com cerca de 41% da capacidade, em imagem de novembro de 2016 — Foto: Tony Winston/GDF/Divulgação

Considerado "menos preocupante" pelo governo – e excluído do esquema de racionamento em vigor no Distrito Federal desde 16 de janeiro –, o reservatório de Santa Maria pode chegar ao "volume zero" até outubro. A previsão é do especialista em manejo de bacias hidrográficas e professor da UnB Henrique Leite Chaves, que fez uma simulação dos próximos meses com base em dados oficiais.

Segundo Chaves, dados fornecidos pela Caesb sobre o volume dos afluentes – ou seja, dos rios que jogam água na bacia do Santa Maria/Torto – mostram que a entrada de água nesse reservatório não vai compensar a saída do recurso para o abastecimento. Com isso, o volume útil chegaria a 41% em fevereiro, 29% em julho, 5% em setembro e "0%" em outubro.

"O padrão de consumo de água tem aumentado gradualmente, com recursos hídricos incipientes", diz o especialista. "Em reservatórios anuais, as vazões captadas [água distribuída] não podem ser maiores que as vazões afluentes [entrada de água]".

Na manhã desta quarta-feira (8), medição da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) indicou que o Santa Maria operava com 41,14% da capacidade. Maior reservatório do DF, responsável pela água de dois em cada três moradores, o Descoberto registrava índice de 28%.

O racionamento em vigor há três semanas no DF só atinge as regiões abastecidas pelo Descoberto. Áreas como o Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, que são atendidas por Santa Maria, tiveram uma redução na pressão da água, mas ainda não estão incluídas no rodízio de restrição hídrica.

Reservatório de Santa Maria, no DF, com 41% da capacidade, em imagem de novembro de 2016 — Foto: Tony Winston/GDF/Divulgação

A Adasa informou ao G1 que desde novembro do ano passado, a Caesb está autorizada a implementar o racionamento de água também nas regiões abastecidas pelo reservatório de Santa Maria. Segundo o diretor da agência reguladora Diógenes Mortari, a Caesb optou por reduzir a pressão da água e acompanhar os efeitos da chuva.

Discussão emergencial

O panorama traçado por Chaves foi apresentado nesta quarta em uma reunião do Conselho de Recursos Hídricos do DF, convocada para discutir soluções para a crise hídrica que a capital enfrenta desde o ano passado.

De acordo com o professor da UnB, é importante reconhecer, ainda, que as medidas apresentadas pelo governo podem ser insuficientes “se a climatologia não se comportar como o esperado”. O presidente da Caesb, Maurício Ludovice, contesta a análise. “Nós não estamos confortáveis com essa situação, mas não acho que o crescimento da demanda seja explosivo."

"Aumentou, mas o [consumo] per capita também está diminuindo. Isso que levou Santa Maria e Descoberto suportarem até agora", afirma o presidente da Caesb.

Para Chaves, a falta de informações repassadas à população e a ausência de uma participação efetiva no processo de “co-gestão dos recursos” agravam o problema. Ele citou a crise hídrica no estado de São Paulo como exemplo onde a falta de participação popular levou “quase ao colapso” do sistema de abastecimento de água.

“É preciso planejar não com o melhor cenário, mas com o pior possível. Isso é um critério clássico de gestão.”

O professor propõe o racionamento de água no sistema de captação de Santa Maria e questiona a ausência de medidas punitivas de restrição do uso exagerado de água, como lava-jatos, lavagens de calçadas com mangueira e irrigação de jardins.

Na segunda-feira (6), o governador Rodrigo Rollemberg se reuniu com o ministro da Integração Nacional, Hélder Barbalho, para pedir o repasse de R$ 50 milhões que serão investidos em um projeto de captação de água do Lago Paranoá. A obra deve ajudar no abastecimento de regiões atendidas pelo reservatório de Santa Maria, num primeiro momento e, posteriormente, às áreas da bacia do Descoberto, uma vez que a Caesb prometeu obras para interligar os dois reservatórios.

Professor de Engenharia Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Henrique Chaves — Foto: Luiza Garonce/ G1

Falta de transparência

Chaves diz que dados de cinco pontos hidrográficos das bacias do Descoberto e de Santa Maria não estão atualizados desde 2006, não sendo possível monitorar o nível de água nas localidades e desenvolver pesquisas. “Se não houver transparência, a população não pode contribuir”, afirmou.

A Adasa explicou que nesses cinco pontos, a medição é feita manualmente e a agência deverá trocar pelo monitoramento por satélite, no entanto, não há prazo para que isso ocorra.

Projeto de captação no Paranoá

No início da semana, quando o governador Rodrigo Rollemberg, o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, e a secretária de Planejamento, Leany Lemos, se reuniram com o ministro da Integração Nacional, Hélder Barbalho, para pedir recursos para obras de contenção da crise hídrica, nenhum projeto que especificasse como a verba seria aplicada foi apresentado pelo GDF.

Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal se reuniu nesta quarta (8) para discutir ações de combate à crise hídrica na capital — Foto: Luiza Garonce/G1

Em evento de plantio de árvores no Parque Bosque dos Tribunais nesta quarta-feira (8), o governador Rodrigo Rollemberg disse que o projeto de captação de água do lago está sendo elaborado.

Nesta quinta (9), técnicos do GDF e do Ministério da Integração Nacional vão se reunir para que o plano atenda a todos os requisitos necessários ao repasse de verbas do governo federal. A Caesb, responsável pela execução da obra, informou ao G1 que o projeto deve ser entregue até esta sexta (10).

Para liberar o recurso, a área técnica do Ministério da Integração precisará analisar o tipo de investimento definido pelo GDF, que deve ser enquadrado nos critérios de “situação de emergência”. A medida, decretada pelo governador no fim de janeiro por 180 dias, abriu margem para o governo receber recursos do governo federal e contratar sem licitação.

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