(Foto: GloboEsporte.com)
O caso Victor Ramos ganhou um novo elemento nesta quinta-feira. Em nota oficial, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) anunciou que a perícia comprovou falsificação de e-mails por parte do Inter no processo, em episódio denunciado pela CBF no final do ano passado. Ao mesmo tempo, também adiou os depoimentos de dirigentes, previamente marcados para a manhã desta quinta-feira. O ex-presidente Vitorio Piffero e o atual vice-jurídico Gustavo Juchem não compareceram ao tribunal por "problema de saúde e compromissos profissionais", conforme o órgão.
Piffero e Juchem haviam sido intimados pelo auditor do plano do STJD, Mauro Marcelo de Lima e Silva, para que ambos prestassem esclarecimentos com relação aos fatos investigados. Não há data definida para a próxima oitiva.
– As oitivas foram agendadas para a data de hoje após Mauro Marcelo ter finalizado a parte investigativa do inquérito e recebido os laudos/pareceres elaborados por peritos de São Paulo e Rio de Janeiro, que comprovaram a falsificação de parte dos e-mails inseridos em processos de interesse do Inter, tais como adulterações de: “forma e conteúdo, subtração de palavras, textos, nomes e frases, além de inserção indevida de palavras, letras e assinaturas, modificações essas de conteúdo capazes de descaracterizar o seu sentido original” – diz o comunicado, publicado no site do STJD.
Inter se defende e nega falsificação
Em contato com o GloboEsporte.com, Gustavo Juchem disse que
justificou a ausência por uma questão profissional que estava marcada para
mesmo dia e horário da oitiva. Mas se colocou à disposição para comparecer ao STJD
para a audição. O dirigente também reiterou a idoneidade do departamento
jurídico no caso. E disse que o Inter trabalhará para comprovar isso.
– O Inter vai preparar a sua defesa e vai prestar os esclarecimentos
necessários para comprovar que não houve falsificação de qualquer documento –
afirmou.
Juchem também se mostrou suspeito com o comunicado pelo STJD pelo fato de o processo estar em trâmite. E lamentou o fato de o Inter não tenha dado a sua versão ao Tribunal.
– Eu não diria suspeito, mas é incomum o Tribunal divulgar provas, ainda mais enquanto esse processo está tramitando. O que incomoda é que ainda não houve o contraditório a esses fatos divulgados, o Inter ainda não pôde dar a sua versão. Não houve qualquer tipo de falsificação e vamos comprovar isso – ressalta.
Em "nota pública" divulgada no Facebook, o ex-presidente Vitorio Piffero também se pronunciou. Confira abaixo a íntegra:
"NOTA PÚBLICA
Diante do noticiário de hoje referente audiência caso Vitor Ramos no STJD, informo o que segue:
Reitero não apenas minha disponibilidade, bem como meu desejo de prestar quaisquer esclarecimentos que esta corte entender necessário.
Quanto ao conteúdo dos emails quero mais uma vez reforçar minha total e completa confiança nos advogados que elaboraram a petição em que o Internacional, a época sob a minha Presidência, legitimamente pleiteia que aquela corte julgue a inscrição do atleta Victor Ramos.
Minha confiança nos advogados se deve não apenas pelo bom nome e notório saber jurídico destes, mas também pelo trabalho ético que sempre desenvolveram profissionalmente, corroborada pelo enorme prestigio que ostentam no campo do Direito Desportivo.
Sigo seguro quanto a atuação do nosso corpo jurídico e confiante nas decisões, tanto do Tribunal Arbitral do Esporte e desfecho do inquérito que ora tramita no STJD, na certeza que o direito protegerá os legítimos interesses do SCI.
Vitorio Piffero"
a denúncia feita pela cbf
Em 9 de dezembro, a CBF enviou ao STJD um ofício no qual afirma que os e-mails que vazaram com uma suposta conversa entre diretor de Registro e Transferência da CBF, Reynaldo Buzzoni, e dirigentes do Vitória, foram adulterados. As mensagens eletrônicas foram utilizadas pelo Inter para tentar reabrir o processo sobre inscrição irregular do zagueiro e, com isso, tirar pontos do time baiano e evitar o rebaixamento.
Na época, a CBF negou que tivesse a intenção de acusar o Inter de
falsificação de documentos. Alegou, porém, que os e-mails supostamente
adulterados faziam parte do processo e pediu ao STJD que eles fossem
legitimados e, caso a falsificação fosse comprovada, que o caso fosse
levado para investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro.
O Colorado, por sua vez, chegou a ingressar com pedido de "suspeição" à investigação. A reclamação inicial do departamento jurídico do clube teve a ver com o sorteio do auditor Mauro Marcelo para conduzir o procedimento. O Inter contestava a manutenção do auditor no caso por sua ligação com a CBF, uma das partes interessadas no inquérito. A contestação, porém, não foi reconhecida.
Sem sucesso no âmbito nacional, o Inter recorreu à Corte Arbitral do Esporte , e entende que a abertura do inquérito no STJD seria uma retaliação a isso. Com sede em Lausanne, na Suíça, o TAS atendeu o pleito do clube e marcou o julgamento para o dia 4 de abril, antes do início das séries A e B do Campeonato Brasileiro (em 13 e 14 de maio, respectivamente) e, por coincidência, no dia em que o clube gaúcho completa 108 anos.
entenda o caso victor ramos
Em 1º de dezembro, o Inter apresentou no STJD um documento com 42 páginas pedindo
para fazer parte no processo que investigou supostas irregularidades na
inscrição do zagueiro Victor Ramos, iniciado pelo Bahia. Na luta contra
o rebaixamento, o clube gaúcho pedia que o tribunal reabrisse o caso
para punir o clube baiano com a perda de pontos nas partidas em que o
zagueiro atuou no Campeonato Brasileiro.
A principal linha
sustentada pelo clube gaúcho diz respeito ao não cumprimento das normas
do Transfer Matching System (TMS), que regulamenta as transferências
internacionais no futebol. O jogador, que pertence ao Monterrey, do
México, estava emprestado ao Palmeiras até se transferir ao Vitória, em
fevereiro do ano passado. Na visão dos advogados do Inter, essa
negociação ocorreu de maneira irregular.
No dia 8 de dezembro, o auditor Glauber Guadelupe, vice-procurador-geral do STJD, arquivou o pedido do Inter.
No dia seguinte, a CBF enviou um ofício ao STJD alegando que os
documentos usados pelo clube no processo – a troca de e-mails entre o
diretor da CBF e o Vitória – foram adulterados. A entidade pediu a impugnação dos documentos pelo tribunal.
O
Inter, por sua vez, garantiu a autenticidade dos documentos. E,
insatisfeito com a decisão do tribunal, entrou novamente, no dia 12 de
dezembro, com um pedido de reexame do caso Victor Ramos no STJD. Uma semana depois, o procurador-geral do STJD, Felipe Bevilacqua, optou por manter o caso arquivado.
Depois, um documento registrado pelo 26º Ofício de Notas do Rio de Janeiro em 15 de dezembro apresentou a íntegra da troca de e-mails entre
o diretor de registros da CBF, Reynaldo Buzzoni, e o Vitória, com
instruções sobre os procedimentos necessários para a inscrição do
jogador por parte do clube baiano.
Sem obter sucesso no STJD, o Inter levou o caso à Suíça. Em janeiro desse ano, o clube ingressou com uma ação no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS),
com sede em Lausanne, para tentar reabrir o processo. O tribunal pediu
esclarecimentos de Vitória, CBF e STJD e marcou julgamento para 4 de
abril.