"Não o vi". A declaração é de Luciano Macías, ex-capitão e ídolo do Barcelona de Guayaquil na década de 60, que, depois de anos, voltou a pisar no gramado do Estádio Alberto Spencer, palco do amistoso contra o Botafogo em 16 de janeiro de 1963, quando teve o dever nada agradável de marcar Garrincha. Quanto foi o jogo? 5 a 0 para os visitantes, mas isso é o que menos importa.
Em 1963, Botafogo de Guarrincha enfrentou o Barcelona de Guayaquil e deixou lembranças
Acompanhando de um amigo motorista, Macías chegou para a entrevista vestindo a camisa do Barcelona de Guayaquil, apoiado em um andador e demonstrava uma certa ansiedade de entrar no local. Aos 81 anos, ele anda com dificuldades, mas a memória segue muito viva, principalmente quando lembra os dribles desconsertantes de um certo Mané.
- Ai, caramba. É uma coisa inesquecível para mim ter marcardo esse senhor. Eu o vi nos Mundiais e era extraordinário, tinha uma habilidade impressionante. Em 63, veio jogar com o Botafogo aqui, e eu era o lateral que deveria marcá-lo. Como Mané tinha uma deficiência no joelho e eu marcava de dentro para fora, me confundiu. Ele vinha na minha direção e me enganava. Não sabia para onde ia. Lembro em um certo momento que dei um passo forte para trás e caí. Acabou indo sozinho em direção ao gol. Eu não o vi.
Então o senhor lembra bem das jogadas de Garrincha na partida?
- Sim. A segunda vez foi quando ele saiu correndo e fui atrás, mas a bola estava parada lá atrás. Eram 45 mil pessoas aqui nesse estádio vendo o que o Mané Garrincha fez comigo. Não pude com ele. O mais admirável dele é que cobrava as faltas e avisava onde iria mandar a bola. Acertava todas.
Havia uma grande expectativa para o jogo?
- Todas as pessoas queriam ver o Garrincha. Como eu era o melhor marcador esquerdo do país, achavam que eu poderia pará-lo, e eu nem o vi.
Te incomoda o placar diante dos torcedores? O senhor era capitão da equipe e também da seleção equatoriana...
- Eu não me sinto mal. Quem me fez tudo isso foi o melhor ponta do mundo, e me sinto orgulhoso. Os jogadores que o marcavam não podiam detê-lo. Antes, eu só o tinha visto pela televisão. Uma coisa é vê-lo, a outra é marcá-lo. Ele e o Pelé foram os melhores do mundo.
Mas o senhor não tem uma preferência entre os dois?
- Pelé jogava com a 10 e em todas as partes do campo. Eu não tinha a responsabilidade de marcá-lo. Garrincha jogava onde eu estava. Para mim, foi o maior jogador do mundo, e não pude fazer nada. Um bom jogador não deve levar patadas, tem que respeitar. Não tem como explicar o que ele era na época.
Houve pedido para entrar forte em Garrincha?
- Um cara entrou no vestiário no intervalo e disse "dá uma patada nele". Eu respondi que ele estava equivocado e que eu não era dessa classe de jogadores. Se passou por mim é porque é bom e deve-se respeitar.
Segundo tempo longe do problema
- Entrou um companheiro chamado Paterson e ele ficou pelo meu lado. Quando percebi, saí dali e o deixei sozinho para marcar Garrincha (risos).
Botafogo de Manga, Quarentinha...
- A equipe era extraordinária e tinha jogadores maravilhosos. O Brasil, quando trocava passes, era lindo. Como jogava o Brasil... Agora está com Neymar, mas não está à altura dos jogadores da época. O Botafogo era a base da Seleção.
Tem algum palpite para esse Barcelona x Botafogo da próxima quinta-feira? Acha que o seu time é favorito dessa vez?
- O Barcelona anda mais ou menos. Na realidade não vi o Botafogo jogar e não posso analisar algo que não tenha visto, mas pela trajetória na Libertadores tem que ser uma equipe boa. Espero que seja uma grande partida e que vença o melhor. O Barcelona já ganhou duas partidas difícieis na Libertadores, mas tem agora o Botafogo. São 11 contra 11.