18/03/2016 12h17 - Atualizado em 18/03/2016 14h33

Pela 1ª vez, PM usa blindado com jato d'água para dispersar protesto em SP

Polícia Militar jogou água em 30 manifestantes anti PT na Av. Paulista.
Corporação informou que prazo limite para retirada era manhã de sexta.

Kleber TomazDo G1 São Paulo

Pela primeira vez, a Polícia Militar (PM) utilizou nesta sexta-feira (18) blindados israelenses para dispersar uma manifestação no estado de São Paulo, informou a assessoria de imprensa da corporação.

De acordo com a PM, dois veículos do Comando de Policiamento de Choque, um deles, o VLA, munido com canhão de jato de água e o outro, o Guardião, para transporte de tropa, foram usados nesta manhã para dispersar cerca de 30 manifestantes anti Lula que desobedeceram ordem policial para desobstruir os dois sentidos da via.

A última vez que um veículo da PM utilizou jato d´água para dispersar manifestações foi no início da década de 1990, de acordo com a assessoria da Polícia Militar. À época, o Centurion era adaptado com um canhão para molhar manifestantes. Atualmente esse sistema foi excluído do veículo.

Nesta manhã havia cerca de 150 manifestantes e dez barracas bloqueando a Avenida Paulista. A maior parte do grupo, porém, deixou o local após a chegada dos novos blindados da PM, comprados de Israel, segundo a corporação.

O grupo ocupava a Paulista desde a noite de quarta-feira (16) em protesto contra a então nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro no governo Dilma Rousseff (PT). Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os manifestantes haviam interditado a Paulista sem aviso prévio, e só formalizaram solicitação 18 horas depois.

Do início do protesto até esta manhã, a Paulista ficou 39 horas bloqueada, impedindo o trânsito de veículos.

Previstos para terem sido usados em atos de vandalismo na Copa do Mundo de 2014, os blindados israelenses fazem parte do pacote de 14 veículos anti distúrbios urbanos comprados pela PM por R$ 35,2 milhões. Oito deles só chegaram ao Brasil após o mundial de futebol, sendo dois VLA, que dispôem de jatos de água, tinta e gás lacrimogêneo, e seis Guardiões, para levar policiais militares. Os carros restantes ainda não chegaram ao país.

Esses dois VLA haviam sido colocados a postos na manifestação do último domingo (13), quando cerca de 1,4 milhão de pessoas, segundo a PM, e 500 mil, de acordo com o Datafolha, ocuparam a Avenida Paulista, em ato contra o governo federal e pelo impeachment de Dilma.

"Esses dois VLA chegaram em fevereiro deste ano. Mas naquela ocasião do domingo passado não foi preciso usar os caminhões com jatos d'água porque os manifestantes se dispersaram depois", disse ao G1 o porta-voz da comunicação social da PM, capitão Sérgio Marques.

18/03 - Manifestantes que permaneciam ocupando a Avenida Paulista, em São Paulo, correm após a tropa de choque jogar jatos d'água para desocupar a via (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)Manifestantes que permaneciam ocupando a Avenida Paulista, em São Paulo, correm após a tropa de choque jogar jatos d'água para desocupar a via (Foto: Felipe Rau/Estadão Conteúdo)

Prazos para sair
No início da tarde de quinta-feira (17), o secretário da SSP, Alexandre de Moraes, afirmou que a pasta deixou claro ao movimento anti PT que o protesto precisava terminar na noite de quinta porque haverá o protesto previamente marcado pelo Partido dos Trabalhadores e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em apoio a Lula e Dilma nesta sexta-feira.

Indagado por que a PM demorou quase 40 horas para retirar os manifestantes da Paulista, Marques respondeu que diante da negativa dos manifestantes anti governo federal em deixar o local, a corporação esperou até o tempo limite, que foi na manhã desta sexta.

Segundo o oficial, os manifestantes foram retirados porque há outro protesto, este de manifestantes favoráveis a Lula e Dilma, marcado para a tarde desta sexta-feira na Avenida Paulista.

"O limite estabelecido [para se retirar os manifestantes anti Lula e Dilma] foi hoje [sexta-feira] de manhã porque o outro movimento vai começar", disse Marques. "Em torno do meio-dia já deverá ter gente. Para evitar  atrito e choque entre eles, chegou o momento [de retirá-los]". 

Negociações frustradas
Segundo a PM, ocorreram duas tentativas de negociação nesta manhã com os manifestantes para que eles saíssem da Paulista sem que a corporação usasse a força. A primeira foi às 7h, quando a corporação exigiu que o grupo saísse das ruas em uma hora. "Mas eles se recusaram a deixar o local", disse o oficial.

No início da manhã, a PM informou que havia uma centena de manifestantes e uma dezena de barracas nos dois sentidos da via. "A maior parte desse grupo deixou a Paulista e retirou as barracas nesta manhã após ser molhada e atender o pedido da corporação para sair da via", afirmou Marques.

A segunda tentativa de negociação entre PM e manifestantes foi às 8h30. A corporação informou que pediu que eles se retirassem da via em 15 minutos, o que deveria ocorrer às 8h55. "Como 30 pessoas ainda estavam obstruindo os dois sentidos da pista, foram utilizados os dois blindados para que deixassem o local", declarou o capitão.

Jato d´água
De acordo com Marques, um dos blindados lançou apenas água e uma bomba de efeito moral para dispersar os manifestantes que insistiam em continuar obstruindo a Paulista. 

"Os carros lançaram primeiro uma chuva fina, como uma garoa, que molhou os manifestantes, como um aviso. Depois lançou o jato de água em direção a eles para que saíssem", disse o porta-voz da PM.

Os carros da polícia avançaram em direção aos manifestantes que estavam em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Os manifestantes ficaram molhados e um grupo seguiu protestando na calçada. "Só quem está molhado pode opinar", disse manifestante sobre a permanência ou não do ato na calçada.

"A gente não quer, de forma alguma, entrar em conflito muito menos com manifestação petista muito menos com a PM, que tem sido muito coerente conosco. De acordo com a negociação feita com a PM e pelo bem estar de todos, eu concordo com a saída, porque todos temos direitos iguais nesse país, e eu retorno depois. A PM está agindo de forma muito coerente tanto com a nossa manifestação quanto com a manifestação petista. Ninguém quer entrar em conflito aqui", disse Bruno Balestrero, ator e empresário, sem movimento, antes da liberação.

Tropa de Choque retira manifestantes da Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)Tropa de Choque retira manifestantes da Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)

"Arte da guerra, vamos dar um passo pra trás pra depois dar dois pra frente", disse Renato Tamaio, do movimento Pátria Amada. "Nós vamos retornar aqui às 21h [desta sexta-feira]".

Em janeiro deste ano, a Polícia Militar retirou manifestantes que obstruíam vias sem aviso prévio com bala de borracha e gás de pimenta. No dia 12 de janeiro, em ato do Movimento Passe Livre (MPL), policiais lançaram bombas para dispersar os manifestantes e ao menos sete pessoas ficaram feridas. No dia 22, houve uso de bala de borracha.

No ano passado, o secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, falou que não permitiria bloqueios de vias.

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Manifestantes bloqueiam Paulista há 36 horas (Foto: Reprodução TV Globo)Manifestantes bloqueiam Paulista há 36 horas (Foto: Reprodução TV Globo)

Agredidos
Durante o prostesto anti governo federal na Avenida Paulista foram registrados ao menos três casos de agressão. O primeiro foi contra um casal de jovens na noite de quarta-feira, no início do protesto.

Na manhã de quinta, uma mulher foi agredida no rosto durante o ato. A agressão partiu de um manifestante do mesmo grupo quando o namorado da mulher tentava proteger um rapaz vestido com uma camiseta vermelha, que passava pelo local e foi hostilizado.

Mais tarde, um  adolescente de 17 anos foi perseguido por manifestantes. O jovem teve de ser escoltado por policiais, que usaram bombas de efeito moral e gás de pimenta para controlar os agressores.

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