Edição do dia 28/05/2017

28/05/2017 08h35 - Atualizado em 28/05/2017 08h35

Sistema de agrofloresta é aposta para a reestruturação de fazenda em SP

Propriedade investiu na produção da árvore guanandi e de alimentos pouco conhecidos como araruta, mangarito e cará-moela no Vale do Paraíba.

César DassiePindamonhangaba, SP

A fazenda tradicional no Vale do Paraíba, em São Paulo, está apostando na agrofloresta para se reerguer da quebradeira que enfrentou anos atrás. A novidade é que tanto as árvores quanto os cultivos agrícolas não são muito conhecidos.

Araruta, açafrão da terra, mangarito e cará-moela são itens que essa tradicional propriedade do Vale do Paraíba, em São Paulo, vem apostando na atual fase de produção.

 

Houve um tempo na fazenda Coruputuba em que a paisagem não se parecia em nada com a de hoje em dia. Onde era cultivo eucalipto, só tinha eucalipto. Onde era plantação de arroz, só tinha arroz. Depois o sistema agroflorestal, que consorcia a produção de madeira com alimentos, ganhou espaço no manejo da propriedade. A partir daí, o cenário ficou rico em diversidade e bem mais produtivo.

Patrick Assumpção faz parte da 4ª geração da família que toca a fazenda. Comprada em 1911, a propriedade já teve um importante papel no desenvolvimento do município de Pindamonhangaba e da região. Com os altos e baixos do mercado, sucessivas divisões da herança e uma dívida trabalhista gigantesca, o tempo de bonança da fazenda acabou ficando no passado.

Uma das apostas foi o investimento no guanandi, árvore da Mata Atlântica de madeira nobre fácil de trabalhar e muito desejada para a fabricação de móveis finos e também pela indústria de navios. Como o guanandi demora duas décadas para chegar no ponto de corte, foi preciso encontrar uma solução para fazer a terra render durante esse período. Daí a escolha para compor a agrofloresta caiu sobre os chamados produtos não convencionais como a araruta, o mangarito, do açafrão da terra e do cará-moela.

Os primeiros pés de guanandi estão com nove anos. Com folhas grossas, tronco áspero e crescimento reto, as árvores apresentam uma altura de oito metros. Por se tratar de uma espécie nativa, o manejo teve a aprovação da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – Cetesb.

A desrama do plantio é realizada a cada dois ou três anos e tem o objetivo de fazer a condução da árvore. Com esse trabalho, a copa do guanandi vai ficar apenas com apenas um terço dos galhos originais. Até o corte, metade das árvores será retirada para melhorar a qualidade da madeira.

Trabalhar com o sistema agroflorestal requer uma organização que à primeira vista não é muito visual. A pessoa que olha a plantação de repente pode não entender muito bem o que está em volta. Em uma das áreas, por exemplo, o objetivo final é a produção de frutas. Mas, antes que as árvores atinjam o período de colheita, foram introduzidas diversas plantas de crescimento mais rápido.

No meio de frutíferas como a pitanga, a grumixama e o bacupari, a aposta dessa vez foi em cima das leguminosas.

“A leguminosa fixa nitrogênio no solo, que é o elemento macronutriente mais escasso que a gente tem. Nesse caso são arbustivas como o guandu, a flemíngia e a própria tefrósia, que estão dando condição principalmente para o pé de cambucá conseguir se desenvolver bem. O cambucá vai começar a produzir daqui uns três ou quatro anos”, diz o agricultor Patrick Assumpção.

Até o cambucá começar a produzir, o próprio feijão guandu melhora o solo e é aproveitado como fonte de renda.

Em outra área de agrofloresta, o consórcio inclui guanandi, banana, palmeira real e acácia mangium, uma espécie australiana que substitui o eucalipto.
A fartura no campo se traduz em cima da mesa. Dentro do sistema agroflorestal, em outras épocas do ano a fazenda também colhe milho roxo, a mini abóbora, o tremoço, o feijão caupi, o feijão de fava e o feijão guandu seco.

O cozinheiro Mário Borges, que trabalha na fazenda, preparou um prato que leva alguns desses ingredientes. “A gente vai fazer um arroz tropeiro”, diz.

O lugar escolhido para o preparo foi justamente a sombra da agrofloresta. A comida tomava forma em um disco de arado que funciona como panela. O prato foi acompanhado de chips de mangarito e chips de cará-moela.

A agrofloresta rende por enquanto cerca de R$ 20 mil por hectare por ano, que paga, com folga, a manutenção do guanandi. A fazenda também ganha dinheiro com o reflorestamento e o gado.

 

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