SÃO PAULO - No dia em que os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes completaram um ano, o vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM) afirmou que a vereadora carioca era "extremista" e defendia "ideais perturbadores". Os comentários foram feitos em uma publicação nas redes sociais em que Holiday se opõe a um projeto de lei que prevê dar o nome de Marielle a uma praça da capital paulista.
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Os vereadores Eduardo Suplicy (PT) e Toninho Vespoli (PSOL) lembraram a data protocolando um projeto de lei para colocar o nome da ativista em uma praça da Brasilândia, Zona Norte da capital, a pedido de moradores da região. Em seu Twitter, Holiday disse que é contra a medida e vai trabalhar para obstruir a votação:
"O que aconteceu com ela foi terrível, mas sua atuação é uma lenda criada pela mídia. Foi uma vereadora extremista que defendia ideais perturbadores", escreveu o vereador paulista, em um post que gerou centenas de comentários. Ele não explicou a que ideias está se referindo.
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Eleita vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL em 2016, com 46 mil votos (a quinta candidata mais bem votada do município), Marielle Franco teve o mandato interrompido por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, num atentado que vitimou também seu motorista Anderson Gomes Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A chegada dos caixões de Marielle e Anderson à Câmara de Vereadores do Rio no velório que marcou o início de inúmeras manifestações populares que passaram a ocorrer no Rio e no mundo por conta da morte da parlamentar Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Nascida e criada na Maré, Marielle estudou Sociologia na PUC, com o apoio de uma bolsa integral, e fez mestrado em Administração Pública na UFF. Ela dedicou seu mandato à luta em defesa dos direitos humanos, das mulheres e de negros e moradores de favelas Foto: Marcos de Paula / Agência O Globo
Horas antes do assassinato, Marielle havia participado de uma roda de conversa com mulheres no local conhecido como Casa das Pretas, na rua dos Inválidos, na Lapa Foto: Divulgação/PSOL
A vereadora e sua equipe deixaram o local por volta das 21h do dia 14 de março. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que o carro em que estavam a vereadora, o motorista e uma assessora deixaram o local e foram seguidos por outro veículo que estava estacionado logo atrás deles. Um segundo veículo partiu logo em seguida dando cobertura aos assassinos Foto: Reprodução
Por volta de 21h30, na Rua Joaquim Palhares, no Estácio, próximo à prefeitura do Rio, os executores emparelharam o carro com o veículo em que estavam Mariele e sua equipe e realizaram 13 disparos. A vereadora foi atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço; Anderson levou ao menos três tiros nas costas Foto: Reprodução
A cada mês, novas manifestações marcavam a cobrança por celeridade nas investigações. A foto mostra voluntários da Anistia Internacional em um desses atos, quando o crime completou três meses Foto: Pablo Jacob / O Globo
Então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann foi autor de uma série de afirmações sobre as investigações que nunca se confirmaram. Em 10 de maio do ano passado, Jungmann disse que a investigação no caso Marielle estava chegando em sua etapa final, acrescentando que os resultados chegariam em breve Foto: Jorge William / Agência O Globo
Em 31 de agosto, foi a vez do general Braga Netto, então interventor federal na área de segurança no Rio, fazer suas afirmativas: 'Estamos perto. Até o fim do ano, quando a intervenção tiver sido concluída, o caso já deverá estar solucionado', prometeu Foto: Armando Paiva / Raw Image
Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do Rio, repetiu a promessa em 1º de novembro. O delegado garantiu que o crime estaria 'muito próximo de sua elucidação'. Três semanas depois, o então secretário estadual de Segurança, Richard Nunes, disse que o caso seria resolvido até o fim do ano Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Em 12 de janeiro de 2019, o governador do Rio de Janeiro, WilsonWitzel, também garantiu que o caso Marielle estava próximo de uma solução, estimando que a investigação poderia ser concluída até o final daquele mês. Na foto, Witzel, em outubro do ano passado, durante a campanha, aparece discursando sobre um carro de som ao lado do então candidato a deputado estadual Rodrigo Amorim, que quebrou a placa com nome de Marielle Franco Foto: Reprodução
Entre as principais linhas de investigação para o crime, o vereador carioca Marcelo Siciliano e o miliciano Orlando Curicica se tornaram suspeitos em maio de 2018 de serem autores do crime depois que uma testemunha disse à polícia que viu um encontro entre os dois em que eles teriam falado em matar a vereadora por conta de sua luta em defesa dos direitos humanos em áreas dominadas por milícias. Siciliano, assim como Curicica, negaram a acusação Foto: Carolina Heringer / Agência O Globo
O ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, condenado pela Justiça a quatro anos e um mês de prisão por posse ilegal de arma de fogo. Ele foi apontado por uma testemunha como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes Foto: Reprodução
Uma segunda linha de investigação surgiu em agosto. Nesta, Marielle teria sido morta por vingança, uma vez que trabalhou durante 11 anos como assessora de Marcelo Freixo, do PSOL, até ser eleita para o cargo no Legislativo carioca. Hoje na Câmara Federal, Freixo exercia o mandato de deputado estadual na época do crime Foto: Reprodução
Esta segunda linha de investigação levou os deputados estaduais do MDB Jorge Picciani (na foto), Paulo Melo e Edson Albertassi, adversários políticos de Freixo, a serem investigados. Os três, que na época do crime estavam presos por crimes de corrupção, também negaram envolvimento na morte de Marielle e Anderson Foto: Márcio Alves / Agência O Globo
Também em agosto foi divulgada a descoberta do Escritório do Crime: um grupo de matadores de aluguel formado por policiais e ex-policiais. Um possível envolvimento desse grupo no assassinato de Marielle e Anderson ajudaria a explicar a dificuldade para esclarecer o caso. Na foto, agentes apreendem materiais durante a operação 'Os Intocáveis', em janeiro deste ano Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Uma das linhas de investigação liga o assassinato de Marielle ao Escritório do Crime, grupo de extermínio chefiado por milicianos. Em janeiro, laços do clã presidencial com Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como fundador da quadrilha, vieram à tona. Ex-capitão do Bope, ele foi condecorado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro e elogiado por Jair Bolsonaro na tribuna da Câmara. Sua mãe e sua mulher ganharam cargos no gabinete do filho do presidente, hoje senador. Nóbrega é considerado foragido da Justiça Foto: Adriano Machado / Reuters
Mônica Benício, viúva da vereadora assassinada, diz não ter dúvida de que a morte de Marielle teve motivação política Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Desde sua morte, Marielle tornou-se símbolo de muitas manifestações políticas e culturais, sendo lembrada em diversos atos ao longo do ano. Na foto, manifestantes carregam faixa durante marcha em homenagem a Marielle Franco e Anderson Gomes em 14 de abril de 2018, um mês após o crime Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
A luta da vereadora inspirou homenagens, inclusive, no carnaval. Não só nos blocos de ruas, onde placas, fotos e cartazes em homenagem a vereadora foram levantados por foliões, mas também nas escolas de samba. A Mangueira, campeã do carnaval, levou para a avenida um enredo que fala da história do Brasil pela perspectiva dos heróis omitidos pelos livros convencionais e homenageia, entre outras heroínas negras, a vereadora Marielle. Na foto, a última ala da escola, que trouxe a bandeira nacional verde e rosa e com os dizeres "Índios, negros e pobres" no lugar de "Ordem e progresso" Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
A jovem Cacá Nascimento, destaque da comissão de frente da Mangueira, ergue faixa em homenagem a Marielle: a expressão 'Marielle Presente' ficou conhecida durante a comoção pelo assassinato da parlamentar Foto: GABRIEL MONTEIRO / Agência O Globo
O PM reformado Ronnie Lessa, à esquerda, e o ex-PM Élcio Queiroz. Os dois foram presos em março de 2019, acusados de participarem da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes Foto: Agência O Globo
Eleito vereador pela primeira vez em 2016, aos 20 anos, Holiday faz parte do Movimento Brasil Livre (MBL), apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e costuma criticar o PT e a esquerda, em geral.
Na tribuna da Câmara e nas redes sociais, posiciona-se contra as cotas raciais e o ativismo LGBT, embora seja negro e gay. Também é ferrenho defensor do projeto Escola Sem Partido.
Desde o início do mandato na Câmara Municipal, ele tem um histórico de polêmicas. Três meses após assumir, ele pediu a cassação da vereadora Juliana Cardoso (PT) que, por sua vez, acusou funcionários do gabinete do colega de agredirem seus assessores.
No fim do ano passado, ele se envolveu em um tumulto com outros vereadores durante
discussão sobre um projeto que alterava as regras da previdência municipal
— e que ele defendia.
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AO GLOBO, ele disse que foi empurrado e levou um tapa de um vereador do PT quando tentou interromper uma fala da vereadora Sâmia Bomfim. Já os vereadores do PT e do PSOL disseram que Holiday estava "gritando igual um louco" para interromper os discursos de quem era contra a proposta e que tentou empurrar alguém. A guarda municipal precisou intervir para separar a confusão generalizada.
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Manifestação no local do assassinato de Marielle Franco tiveram cartazes e flores lembrando 1 ano do assassinato da vereadora Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Emoção marcou manifestações Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Homem acende vela no lugar onde Marielle e o motorista Anderson Gomes foram executados Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Manifestantes se reuniram desde o começo da manhã para recordar causas trajetória de Marielle Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
No local do assassinato de Marielle Franco, cartazes exibiam fotos da vereadora Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Grupo homenageia Marielle em frente à Câmara Municipal do Rio Foto: SERGIO MORAES / REUTERS
Mulheres seguram faixa em homenagem à vereadora na porta do Palácio Pedro Ernesto Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Com os dizeres 'Marielle Gigante', homenagem foi feita por manifestantes com pernas de pau Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Na Lapa, uma faixa com o rosto da parlamentar e a pergunta 'Quem mandou matar Marielle?' foi pendurada nos arcos Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Dia nublado amanheceu com pergunta sem resposta Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Mulher segura flores na missa em lembrança da data de 1 ano da morte de Marielle Franco, na Candelária Foto: Gabriel Paiva / Gabriel Paiva
Marcelo Freixo cumprimenta pai de Marielle na missa por um ano da morte da vereadora, na Candelária Foto: Gabriel Paiva / Gabriel Paiva
Ex-deputado Chico Alencar saúda Antônio Francisco, pai de Marielle, na missa realizada na Candelária Foto: Gabriel Paiva / Gabriel Paiva
Juventude Terreiro de Candomblé faz homenagem à família na porta da igreja, após a missa Foto: Gabriel Paiva / Gabriel Paiva
O deputado federal Marcelo Freixo beija Marinete Franco, mãe de Marielle Foto: Gabriel Paiva / Gabriel Paiva
'Quem mandou matar Marielle?', pergunta cartaz na rua João Paulo I, no Estácio Foto: RICARDO MORAES / REUTERS