Política

Bendine tem passaporte italiano e comprou passagem só de ida para Portugal

Força-tarefa da Lava-Jato viu risco de ex-presidente do BB e da Petrobras fugir do país

Força-Tarefa em coletiva de imprensa em Curitiba
Foto: Vinícius Sgarbe
Força-Tarefa em coletiva de imprensa em Curitiba Foto: Vinícius Sgarbe

CURITIBA E SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) entendeu que havia risco de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil (BB) e da Petrobras, e André Gustavo Vieira da Silva, operador ligado ao ex-executivo, fugirem do país. Foi assim que entendeu a força-tarefa da Lava-Jato, conforme disse em coletiva na manhã desta quinta-feira, em função da 42ª fase da operação . Enquanto Bendine tinha voo amanhã para Portugal, André Gustavo embarcava hoje para o mesmo destino. Ambos foram presos temporariamente.

A força-tarefa lembrou que Bendine tem nacionalidade italiana. E André Gustavo tem “negócios consolidados em Portugal”. Havia indício de que as passagens de ida tinham sido compradas. As investigações descobriram que Bendine viajaria para fora do país com a quebra de sigilo de mensagens trocadas por meio de aplicativo que as destrói. As conversas foram programadas para serem apagadas dos telefones após um determinado tempo, mas os investigadores conseguiram recuperar o conteúdo porque os alvos tiraram "prints" da conversa, numa espécie de "trapalhada da corrupção" .

Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, o ex-presidente do BB e da Petrobras usou o nome da ex-presidente Dilma Rousseff para pedir propina a Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu nome, e Fernando Reis, diretor da empresa. Os delatores relataram que o grupo operou R$ 3 milhões em propinas recebidas. O nome de Dilma, apesar de citado, não é alvo de nenhuma investigação. Segundo o MPF, não há nada contra a ex-presidente.

— É muito importante pontuar que a delação foi apenas ponto inicial. Toda colaboração da Odebrecht foi corroborada por provas. Às vezes criticam as delações, mas todas delações são corroboradas por provas — frisou Athayde.

O destino dos R$ 3 milhões não está claro, afirmaram os investigadores. O valor foi pago em junho de 2015, após Bendine pedir R$ 17 milhões e a empresa não pagar. As transações foram descobertas após as delações da empresa e também pela Receita Federal, que detectou tentativas de os operadores ocultarem o dinheiro já este ano, colhendo impostos de trabalhos de consultoria.

— É um caso muito interessante e relevante porque o alvo principal operou num período em que a Lava-Jato já estava em pleno funcionamento (...) E pior ainda: ele só deixou de receber recursos indevidos após a prisão de Marcelo Odebrecht — disse o delegado Igor Romário de Paula.

A obtenção de provas, na visão dos investigadores, teria sido feita de “maneira muito harmônica com o depoimento”, com a comprovação de encontros realizados em hotéis, restaurantes, e da quebra de criptografia de “mensagens de celular pouco republicanas”. Ao assumir a presidência da Petrobras, já sob a realização da Lava-Jato, Bendine levantava a bandeira do combate à corrupção.

— É assustador que, na altura das investigações, encontramos uma pessoa que supostamente foi indicada para a presidência da Petrobras para estancar a corrupção tenha, segundo as evidências, praticado crimes nesse sentido. É assustador. Isso mostra que temos que investigar a fundo e continuar com nossos trabalhos. Aqueles que pretendem (…) impedir as investigações, ou são míopes, ou têm medo. — disse Athayde.

A polícia não sabe se André Gustavo ou Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, outro operador ligado a Bendine, trabalhavam para mais alguém e se tinham ligação com algum político.

— Há duas buscas ainda em andamento em empresas. É preciso abrir cofres e outras questões operacionais. Um dos alvos, inclusive, tinha acabado de sair para a caminhada matinal na praia e foi preso no caminho — afirmou Igor Romário de Paula.