Política Lava-Jato

'Trapalhada da corrupção': Alvos da Lava-Jato salvaram print das provas do crime, diz MPF

Apesar de usarem aplicativo que destrói mensagens automaticamente, Bendine e André Vieira resolveram ter conversas fisicamente
Aldemir Bendine durante depoimento na CPI da Petrobrás na Câmara Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Aldemir Bendine durante depoimento na CPI da Petrobrás na Câmara Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal (MPF) descobriu que Aldemir Bendine e André Vieira conversavam pelo aplicativo Wickr, com destruição automática das mensagens trocadas. Mas, por algum motivo, fizeram print de mensagens que serviram de prova para a operação realizada nesta quinta-feira pela Lava-Jato, que levou os dois à prisão.

Uma das mensagens impressas indica justamente o endereço da casa de Vieira em Brasília, onde Marcelo Odebrecht e Fernando Reis relataram ter tido uma reunião em que Bendine disse a senha da cobrança de propina, que seria mencionar um empréstimo concedido pelo Banco do Brasil à Odebrecht Agroindustrial.

Há ainda referência à aprovação de empréstimos pelo banco: "O processo tá pronto e vai p a diretoria na terça" seguida de "pra aprovar os pagtos?".

Nestas mensagens, Bendine chegou a mandar informações sobre licitação da Petrobras para o publicitário.

Segundo despacho do juiz Sergio Moro, em outra mensagem impressa Vieira mandou para Bendini uma lista de pessoas próximas a Lúcio Bolonha Funaro, operador do ex-deputado federal Eduardo Cunha e já preso pela Lava-Jato.

De acordo com o juiz, as mensagens foram encontradas em arquivos mantidos em "nuvem" dos aparelhos de celular ou dos aplicativos, graças à quebra de sigilo telemática, uma vez que os aparelhos ainda não haviam sido apreendidos.

Moro disse que a quebra de sigilo fiscal indica que a empresa MP Marketing Planejamento Institucional e Sistema de Informação, usada por Vieira para receber os valores da Odebrecht, é uma empresa de fachada.

Aldemir Bendine e André Vieira, operador ligado a ele, trocaram mensagem em aplicativo que as destrói. No entanto, fotografaram conversas Foto: Editoria de Arte
Aldemir Bendine e André Vieira, operador ligado a ele, trocaram mensagem em aplicativo que as destrói. No entanto, fotografaram conversas Foto: Editoria de Arte

TAXISTA BUSCAVA DINHEIRO

Foi também por meio de mensagens trocadas entre o grupo que a Lava-Jato descobriu que  o irmão de André Vieira, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, teria sido o responsável por providenciar o recebimento do dinheiro da Odebrecht - os pagamentos eram relacionados com o codinome de Bendine: Cobra.

Antonio Carlos mandou mensagens a Marcelo Marques Casimiro, um taxista.

Chamado a prestar depoimento, o taxista contou que presta serviços a Antonio Carlos, que lhe pediu para pegar três pacotes nas datas das entregas de dinheiro feitas a Vieira - segundo a Odebrecht, a entrega foi feita na Rua Sampaio Viana, em São Paulo. Disse, porém, que não sabia que se tratava de dinheiro e deixou os pacotes no apartamento. Para pegar os pacotes ele teve de usar três senhas diferentes, uma para casa ocasião (Oceano, Rio e Lagoa).

O flat da Rua Sampaio Viana havia sido alugado por Antonio Carlos entre abril de 2014 a abril de 2016. Ele negou conhecer o taxista, mas além desta ligação os investigadores descobriram, pelos registros do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que ele fez vultosas transações em espécie.

Mensagem de Bendine para operador poderia ser destruída, mas foi impressa Foto: Reprodução/MPF
Mensagem de Bendine para operador poderia ser destruída, mas foi impressa Foto: Reprodução/MPF

No celular de Antonio Carlos foi localizado ainda registro do pagamento de despesas de hospedagem, em janeiro de 2016, para Amanda Bendine, filha de Aldemir Bendine. Para Moro, o pagamento eventualmente pode representar uma forma de transferir, indiretamente, a propina recebida da empreiteira.

Além das conversas, o Ministério Público Federal confirmou ainda, por meio de registro em hotéis e emissão de passagens aéreas, os encontros relatados pelos delatores da Odebrecht.

BLOQUEIO DE ATÉ R$ 3 MILHÕES

Moro determinou o bloqueio de até R$ 3 milhões de contas e aplicações de Aldemir Bendine, André Vieira e do irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior. A medida vale ainda para contas da MP Marketing, Planejamento Institucional e Sistema de Informação. Ele negou bloqueio das contas de outras empresas, como ZB Empreendimentos e Arcos Propaganda, até que sejam descobertas provas que elas foram usadas para movimentar propina.