Política Lava-Jato

Análise: Bendine, o presidente de banco que guardava dinheiro embaixo do colchão

Aldemir Bendine é o primeiro ex-presidente da Petrobras a ser preso pela Lava-Jato
Entrevista coletiva da diretoria da Petrobras sobre a apresentação dos resultados de 2014 Foto: Marcelo Carnaval / O Globo
Entrevista coletiva da diretoria da Petrobras sobre a apresentação dos resultados de 2014 Foto: Marcelo Carnaval / O Globo

RIO - A prisão de Aldemir Bendine é um marco da operação Lava-Jato. Trata-se do primeiro ex-presidente da Petrobras a ser preso desde o início das investigações. Com um agravante: Bendine foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para a presidência da Petrobras justamente para sanear a empresa, em meio às denúncias da operação Lava-Jato, em 2015.

Enquanto anunciava medidas "moralizadoras" em público, nos bastidores, segundo as investigações, Bendine recebia R$ 3 milhões da empreiteira Odebrecht. A cereja do bolo: o pedido de propina teria sido feito pelo executivo na véspera de assumir o comando da Petrobras.

Já na época da nomeação de Bendine, fevereiro de 2015, havia algo de estranho no reino da Dinamarca. O executivo chegou à presidência da Petrobras porque sua antecessora, Maria das Graças Foster, emitiu um comunicado admitindo que a estatal deveria reduzir seus ativos em R$ 88,6 bilhões devido a desvios e má gestão. A divulgação foi interpretada não como um ato de transparência, mas de fragilidade da empresa, e Graça Foster perdeu sustentação no governo. Acabou renunciando, junto com quatro diretores da Petrobras.

Bendine não era a primeira opção do governo, que tentou emplacar um nome de mercado, sem sucesso. Dilma teve que recorrer a um fiel aliado dos governos petistas: Aldemir Bendine, que era presidente do Banco do Brasil havia quase seis anos, desde o final do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

No entanto, ao assumir a Petrobras, o executivo já acumulava um histórico de polêmicas. A mais famosa delas, a concessão de um empréstimo de R$ 2,7 milhões para a socialite Val Marchiori, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, apesar de ela não ter quitado dívida anterior com o BB e de não ter comprovado capacidade de pagamento do novo empréstimo.

Antes disso, em 2012, foi autuado pela Receita Federal por não comprovar a procedência de aproximadamente R$ 280 mil informados na sua declaração de Imposto de Renda. Bendine acabou pagando multa de R$ 122 mil, em 2014.  Ele entrou no radar do Fisco depois de comprar com dinheiro vivo um apartamento no interior de São Paulo, por R$ 150 mil.

A compra de um imóvel com dinheiro em espécie não é ilegal, mas o motivo que levou o então presidente do maior banco do país (o Banco do Brasil só foi ultrapassado pelo Itaú em volume de ativos em 2017) a guardar tanto dinheiro em casa, em vez de depositá-lo numa conta, é um mistério.