Por Arthur Guimarães, TV Globo


PF do Rio faz operação contra o ex-secretário Rodrigo Bethlem

PF do Rio faz operação contra o ex-secretário Rodrigo Bethlem

Agentes da Polícia Federal cumprem mandados de busca e apreensão, na manhã desta terça-feira (15), em endereços ligados ao ex-secretário de Assistência Social do Rio Rodrigo Bethlem. A ação é mais um desdobramento da operação Ponto Final, uma das etapas da Lava Jato no Rio de Janeiro. Os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal. Bethlem foi secretário de governo e de Assistência Social na gestão do ex-prefeito Eduardo Paes.

Os agentes chegaram a um endereço no condomínio Península, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, por volta das 5h. Bethlem foi encontrado em casa e foi intimado a prestar esclarecimentos na sede da PF. Ele não é obrigado a comparecer.

O MPF quer entender mensagens encontradas nos celulares de presos da operação Ponto Final, que investigou desvios no setor de transportes. Essas mensagens revelam que Rodrigo Bethlem seria intermediário em um esquema criminoso ligado a Prefeitura do Rio. Essas mensagens foram encontradas entre dezembro e janeiro do ano passado.

Polícia Federal faz buscas na casa do ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem

Polícia Federal faz buscas na casa do ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem

Segundo o teor dessas mensagens, Bethlem teria dito que o esquema teria continuidade na gestão do atual prefeito, Marcelo Crivella. O MPF não encontrou sinais de envolvimento direto do ex-prefeito Eduardo Paes e do atual prefeito no esquema criminoso.

Em nota, a Prefeitura do Rio repudiou as insinuações, que chamou de descabidas e disse que não há qualquer possibilidade de escândalos no setor de transporte do governo anterior ter continuado na atual gestão. "No mês passado, a Prefeitura conseguiu impedir novamente o aumento da tarifa de ônibus urbanos do município, contrariando a reivindicação dos empresários e até decisão de primeira instância da justiça. A gestão municipal, sempre à disposição das autoridades, é pautada pela transparência e respeito às leis", garantiu.

Em uma troca de mensagens entre Bethlem e Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, no dia 28 de dezembro de 2016, o ex-secretário avisa: “Tranquilize a turma”. O MPF acredita que o teor das mensagens revela fortes indícios de acertos espúrios.

Porém, dia 2 de janeiro, Rodrigo enviou outra mensagem, em contraponto com a primeira: “este vice vai dar muito trabalho...ele que criou caso...os 2 tinham se acertado”.

Os investigadores acreditam que o termo vice era uma referência a Fernando MacDowell, vice-prefeito do Rio e Secretário Municipal de Transportes, que tinha se manifestado contra um novo reajuste das passagens.

Troca de mensagens entre Lélis Teixeira, então presidente da Fetranspor, e Rodrigo Bethlem, onde eles acertariam continuidade de esquema de propina. — Foto: Reprodução

Mensagem na qual RodrigoBethlem afirma que o vice-prefeito, Fernandao MacDowell, ia dar trabalho ao esquema. — Foto: Reprodução

Bethlem também teve identificadas ligações telefônicas com outros integrantes do esquema de fraudes e propina nos transportes do Rio, como Hudson Braga, o ex-governador Sérgio Cabral e Wilson Carlos. Segundo o pedido do Ministério Público Federal, todos fariam parte de um esquema que funcionava com todos juntos, como uma organização criminosa.

Ainda segundo o despacho do magistrado, Rodrigo Bethlem atuaria, em tese, como intermediário dos empresários do ramo de transportes, para garantir que o esquema de corrupção continuaria.

Ex-secretário

Bethlem é o segundo secretário da gestão do ex-prefeito Eduardo Paes investigado pela Lava Jato. No mês passado, a PF prendeu o ex-secretário municipal de Obras do Rio nas duas gestões do ex-prefeito, Alexandre Pinto.

A operação, batizada de "Rio 40 graus", investigou o grupo suspeito de receber R$ 35,5 milhões em propina de obras públicas. Segundo o MPF, a propina era cobrada nas obras do corredor de ônibus Transcarioca, que custou R$ 2 bilhões, e nas de drenagem de córregos da Bacia de Jacarepaguá, com custo estimado em R$ 230 milhões. O MPF diz que o ex-secretário de Obras é suspeito de pedir 1% do valor das obras.

Alexandre Pinto sai de casa preso, levado por agentes da PF — Foto: Cristina Boeckel/ G1

Em julho, a primeira etapa da Operação Ponto Final prendeu o empresário Jacob Barata Filho. Ele foi preso no Aeroporto Internacional Tom Jobim pela força-tarefa da Lava Jato ao tentar embarcar para Lisboa, Portugal.

Bens bloqueados

Em junho, a Justiça do Rio decretou, em caráter liminar, o bloqueio de bens do ex-secretário de Assistência Social do Rio Rodrigo Bethlem (PMDB). Segundo as denúncias do MPRJ, Bethlem desviou recursos públicos por meio de ONGs, na gestão de Eduardo Paes (PMDB).

"Há indícios da existência de suposto esquema de corrupção que teria causado prejuízo ao erário da ordem de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais) em decorrência de irregularidades praticadas, a princípio, por meio de uma única Secretaria Municipal", diz o texto.

Em nota, Bethlem disse que o autor da ação está interessado em "jogar para a plateia". Ele já é réu em três ações envolvendo ONGs e contratos superfaturados. O nome de Betlhem ganhou destaque negativo na imprensa quando, em julho de 2014, a ex-mulher dele divulgou uma gravação em que ele admitia que recebia dinheiro desviado dos cofres do município.

Também em junho, o MPRJ ajuizou duas ações civis públicas contra Bethlem e contra Carmelo de Luca Neto e José Mantuano de Luca filho, sócios da empresa Comercial Milano Brasil Ltda. Eles são suspeitos de se beneficiarem de convênios firmados com a Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro. As ações pedem que R$ 86 milhões sejam devolvidos aos cofres públicos por improbidade administrativa.

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