O Banco Central (BC) revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 de queda de 6,4% para contração de 5%, informou a autoridade monetária no Relatório de Inflação (RI) publicado nesta quinta-feira.
Apesar do forte recuo da atividade no segundo trimestre, o conjunto de indicadores disponíveis mostra que a retomada da atividade econômica após a fase mais aguda da pandemia, ainda que parcial, está ocorrendo mais rapidamente do que antecipado, diz o BC, acrescentando, porém, que a heterogeneidade da recuperação entre os segmentos continua sendo uma característica marcante.
“A nova projeção considera crescimento acentuado no terceiro trimestre, influenciado pelas medidas governamentais de combate aos impactos econômicos da pandemia e pelo retorno gradual a patamares de consumo vigentes antes do período de isolamento social", afirma o BC no relatório. "Para o último trimestre do ano, a partir de quando vigora incerteza acima da usual sobre o ritmo da recuperação, espera-se arrefecimento da taxa de crescimento, associado, em parte, à diminuição esperada de transferências de recursos extraordinários às famílias.”
Do lado da oferta, o crescimento esperado pelo BC para a agropecuária ficou praticamente igual ao apresentado no último relatório (1,3%, ante 1,2%). A previsão para a evolução da atividade industrial no ano foi revisada de baixa de 8,5% para recuo de 4,7%, com elevação nas projeções em todos os segmentos.
Segundo o BC, apesar da semelhança das previsões para o setor de serviços (de -5,3% no relatório anterior para -5,2%), houve alterações relevantes nas estimativas para os componentes. A autoridade monetária destaca a melhora na previsão para o comércio (de -10,8% para -4%), setor bastante relacionado à atividade industrial e ao consumo de bens pelas famílias e, em sentido oposto, os recuos esperados para outros serviços (de -9,4% para -13,5%), sobretudo para administração, saúde e educação públicas.
“O segmento de ‘outros serviços’ engloba atividades que continuam bastante afetadas pelo distanciamento social, como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas, enquanto o setor de administração, saúde e educação públicas foi impactado pela redução na prestação de serviços de saúde e, principalmente, pelo fechamento de creches e interrupção parcial do ensino em escolas e universidades públicas.”
Pelo ótica da demanda, a estimativa para o consumo das famílias passou de decréscimo de 7,4% para queda de 4,6%, "em decorrência da recuperação acentuada de indicadores do comércio varejista, atenuada por restabelecimento mais lento do consumo de serviços", diz o BC. A previsão para a formação bruta de capital fixo (FBCF) foi revista de diminuição de 13,8% para redução de 6,6%, refletindo desempenho melhor do que o esperado na construção civil e na produção de bens de capital.
Em sentido contrário, o BC espera pior desempenho no consumo do governo (-4,2%, ante 0,2%), em decorrência das reduções já mencionadas em serviços de educação e saúde públicas.
As exportações devem ceder 1,8%, contra projeção anterior de queda de 8,1%. A estimativa para as importações foi mantida em 11,1% de decréscimo. Segundo BC, a melhora esperada no desempenho das exportações resulta, sobretudo, das vendas de produtos básicos. Já a manutenção da expectativa para as importações, a despeito da melhora nas previsões para indústria de transformação, consumo das famílias e investimentos, reflete resultados mais negativos do que os esperados, "incluindo os dados parciais observados do início do terceiro trimestre", afirma a autoridade monetária.
“Tendo em vista as novas estimativas para os componentes da demanda agregada, as contribuições da demanda interna e do setor externo para a evolução do PIB em 2020 são estimadas em -6,4 pontos percentuais (p.p.) e 1,4 p.p., respectivamente”, conclui o BC.
Na avaliação do BC, a recuperação parcial da economia brasileira segue "padrão similar à que ocorre em outras economias, onde os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos". No entanto, "a recomposição da renda e os demais programas do governo vêm permitindo que a economia brasileira se recupere relativamente mais rápido que a dos demais países emergentes".
"Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", disse.
Com relação ao cenário global, o BC aponta que, apesar de "alguma diminuição nas restrições à circulação", o ritmo de recuperação da economia mundial "da produção de bens e serviços tem mostrado dispersão considerável entre países e entre setores dentro de cada país".
"O comércio global continua operando abaixo da média histórica", disse, destacando que, "apesar de taxas de crescimento não usuais serem esperadas para este terceiro trimestre, a perda de produto causada pela pandemia não será superada em 2020 na grande maioria dos países".
No Relatório de Inflação, o BC também chamou a atenção para incertezas que "permanecem quanto ao controle e evolução da pandemia nos próximos meses e quanto à capacidade de os programas de apoio a firmas e famílias sustentarem uma retomada gradual, ordenada e segura, mitigando riscos de inadimplência e insolvência".