• Mariana Grilli
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Não é apenas a seca atual que preocupa os pesquisadores, mas a série histórica que mostra que a estiagem tem ficado mais intensa nos últimos anos no Brasil. Apesar do tempo mais seco ser comum em algumas épocas, a falta de chuva é intensificada pela ausência de floresta, decorrente dos desmatamento na Amazônia.

Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), afirma que o bioma está muito próximo do ponto de não retorno, quando os prejuízos tomam proporção tão grande, que os serviços ecossistêmicos param de ser prestados, e a floresta perde sua função.

“Nós estamos alterando o fluxo do vapor de água para o restante do país. Portanto, um dos componentes da seca no brasil central, sem dúvida nenhuma, pode ser o desmatamento na Amazônia aliado às mudanças climáticas globais”, disse Artaxo durante evento promovido pela Climatempo, na quarta-feira (30/6).

Amazônia - Foto aérea da floresta (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Foto aérea que mostra, à esquerda, parte da floresta amazônica desmatada e, à direita, área ainda verde (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ele adiantou que o próximo relatório do IPCC será lançado no dia 9 de agosto e a abordagem será na linha de “não temos plano B e Planeta B" e que ou a questão é resolvida ou não terá solução.

Para Artaxo, não é preciso nenhuma tecnologia nova para resolver as mudanças climáticas globais, já que as energias eólica e solar têm preços competitivos. "Estamos próximos do limiar, dos tipping points, que podem desestabilizar de uma maneira grave o clima do nosso planeta e a gente tem que evitar isso o máximo possível, como humanidade”, disse.

Gilca Palma, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Climatempo, explicou que o sistema climático é composto por um equilíbrio. "Então quando a gente tira uma floresta e coloca pastagem, isso acaba desregulando, mudando as condições", ressaltou.

Assim, segundo ela, o clima impacta na disponibilidade hídrica para energia, consumo, agricultura e por consequência, também provoca impactos econômicos.

Ao dizer que é possível prever condições climáticos dos próximos 12 meses, ela revela que o cenário de chuva “não é nada favorável”, já que há tendência de precipitações abaixo da média em grande parte do Brasil, principalmente no Sul.

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“O próximo verão ainda vai estar bem comprometido. Então, a gente já vem de uma situação ruim e a projeção para o próximo verão é de chuva abaixo da média no centro-sul. É bem preocupante essa situação”, afirmou.

Diante da alarmante situação da seca decorrente das queimadas na Amazônia, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, salientou que o Brasil precisa escolher entre ser reconhecido como país que produz e preserva ou que compromete o planeta.

“O Brasil é um dos únicos países que pode produzir alimentos com selo de preservação da floresta mais importante que existe hoje no planeta. Mas o contrário também é verdade. Quando a gente produz com desmatamento, aí é um selo negativo que quase ninguém tem na mesma proporção. É uma escolha que a gente tem que fazer, de como queremos ser reconhecidos”, comentou Astrini.