13/09/2013 22h07 - Atualizado em 16/09/2013 22h06

Bis!: 'Roda Viva' é um marco do teatro nacional

O espetáculo foi censurado ao se tornar um símbolo de resistência

Por Globo Teatro Publicado originalmente em 29/01/2013

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Em 1968, a encenação de 'Roda Viva' foi proibida pela censura (Foto: Divulgação)Em 1968, a encenação de 'Roda Viva' foi proibida pela censura (Foto: Divulgação)

Primeira peça de Chico Buarque e um dos marcos do teatro brasileiro, 'Roda Viva', estreou em 1968. Escrita pelo cantor e compositor no final de 1967, a peça estreou no ano seguinte sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, com Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro nos papéis principais. Durante a segunda temporada, com Marília Pêra, André Valli e Rodrigo Santiago substituindo o elenco original, a obra virou um símbolo da resistência contra a ditadura militar. Um grupo de cerca de cem pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o Teatro Galpão, em São Paulo, agrediu os artistas e depredou o cenário.

 “Roda Viva” tinha um texto vigoroso, dinâmico, que carregava as marcas do seu tempo, pois evidenciava nos diálogos intensa mobilização popular, problematizava a trajetória de um ídolo popular e a sua submissão à nascente indústria do entretenimento. Do ponto de vista da construção dramática, o espetáculo é uma comédia musical, dividida em dois atos, que narra a história de um cantor que decide mudar de nome para agradar ao público. Mas, o que marcou de fato foi a sua agressividade proposital com o intuito de alertar a plateia para os problemas que cercavam o país na época.

- O espetáculo tomou conta do espaço sem distinguir palco de plateia, espectador de ator, trazendo o toque físico-anímico no público pro teatro brasileiro e provocando a atuação dos “ex-espectadores”. Estreou no Teatro Princesa Isabel, um teatrinho tão careta em Copacabana em que os funcionários vestiam Libré imitando os lacaios de Debret.  Até hoje  não caiu a ficha nem dos teóricos de teatro nem do próprio Chico Buarque, que considera a peça ruim e não autoriza direitos de novas encenações – relembra José Celso.

A peça de Chico Buarque é um dos marcos do teatro brasileiro (Foto: Divulgação)A peça de Chico Buarque é um dos marcos do teatro brasileiro (Foto: Divulgação)

Após o ataque do CCC em julho de 1968, em São Paulo, a violência contra o espetáculo se repete em setembro do mesmo ano, quando a peça estreia no Rio Grande do Sul, e a peça é proibida pela censura. 

- O ataque do CCC encobriu a importância estética e revolucionária do trabalho. Para mim, “O Reid a Vela”, de Oswald, e “Roda Viva”, de Chico, viraram a mesma peça. Mesmo depois do primeiro ataque, o teatro lotava, existiam filas imensas. Tivemos que parar depois do ataque do Exército Brasileiro, em Porto Alegre, que, além de proibir a peça, bateu  brutalmente nos atores no hotel onde estavam hospedados – conta o diretor. 

Chico Buarque, além de autor da peça, também criou a sua canção-tema, com o mesmo título. Na década de 60, esta canção foi gravada com o grupo MPB4. Tachada como emblema do "teatro agressivo" pelo crítico Anatol Rosenfeld, a montagem reflete um momento em que o teatro assume esse tom violento, de confronto, de cobrança de atitudes frente a uma situação sociopolítica tensa e insustentável. Nas décadas seguintes, o autor manteve o tom político em peças como "Calabar" (1973), "Gota D'água" (1975), "Ópera do Malandro" (1978) e "O Grande Circo Místico" (1983).

- A peça é um marco da violência sobre a cultura brasileira e da falta de liberdade de expressão na ditadura. Esse texto é um exemplo do teatro "plugado" na sociedade, característica marcante dos espetáculos do Teatro Oficina. “Roda Viva” vai além da censura velada, já que a violência foi sentida na carne  - diz Angela Reis, pesquisadora de teatro brasileiro e professora da Faculdade CAL de Artes Cênicas.

 

 

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