Por g1, em São Paulo


Montagem com fotos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips — Foto: TV Globo/Reprodução

O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal "The Guardian", e o indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), desapareceram no Vale do Javari, na Amazônia, quando faziam o trajeto da comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte.

As buscas ao indigenista e ao jornalista reúnem o Exército, a Marinha, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Federal. O Exército atua desde a tarde de segunda, na região do Vale do Javari, com combatentes de selva da 16º Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Tefé (AM).

A equipe conta com, aproximadamente, 250 homens, com militares especialistas em operações em ambiente de selva que conhecem o terreno onde acontecem as buscas.

LEIA MAIS

Equipes reforçam buscas por indigenista brasileiro e jornalista inglês desparecidos na Amazônia

Equipes reforçam buscas por indigenista brasileiro e jornalista inglês desparecidos na Amazônia

A Marinha participa das buscas com o Comando de Operações Navais com helicópteros, motos aquáticas e embarcações, mas não informou quantas pessoas estão na missão.

A Funai informou que a operação foi ampliada com 15 servidores da fundação e da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O desaparecimento foi divulgado na segunda (6) pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

Veja, a seguir, o que se sabe sobre as buscas aos desaparecidos

Quando sumiram e quais foram os últimos passos?

O indigenista e o jornalista foram vistos pela última vez por volta das 6h de domingo (5). De lá, eles partiram para Atalaia do Norte, uma viagem que dura aproximadamente duas horas. Mas não chegaram ao destino.

Servidores da Funai fazem vigília após desaparecimento de indigenista e jornalista inglês

Servidores da Funai fazem vigília após desaparecimento de indigenista e jornalista inglês

O desaparecimento deles foi divulgado em uma nota assinada pela Univaja e pelo OPI.

Dia 3 - Segundo a nota, Pereira e Phillips viajaram no dia 3 de junho até um posto de vigilância indígena próximo a uma localidade chamada Lago do Jaburu. No local, o jornalista tinha previsão de fazer algumas entrevistas com os indígenas.

Dia 5 - No domingo, os dois deveriam voltar para Atalaia do Norte, mas antes fizeram uma parada, previamente agendada, na comunidade ribeirinha São Rafael para visitar um líder comunitário conhecido como "Churrasco". O encontro serviria para "consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetado pelas intensas invasões", de acordo com a nota.

Os dois chegaram à comunidade São Rafael por volta das 6h e, como não encontraram o líder, conversaram com a mulher dele e partiram rumo a Atalaia do Norte. A viagem normalmente dura cerca de duas horas. A Unijava e o OPI informaram que: "deveriam ter chegado por volta de 8h/9h da manhã na cidade, o que não ocorreu".

Mapa mostra onde jornalista e indigenista desapareceram na Amazônia — Foto: Arte/g1

Quem são os dois? Receberam ameaça?

Segundo o "The Guardian", jornal para o qual Dom Phillips presta serviço, ele "está trabalhando num livro sobre o meio ambiente com apoio da Alicia Patterson Foundation".

Quem são o jornalista britânico e indigenista brasileiro desaparecidos no AM

Quem são o jornalista britânico e indigenista brasileiro desaparecidos no AM

O jornal informou ainda que Phillips mora em Salvador (BA) e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos, colaborando com veículos como o próprio "The Guardian", o "Washington Post", o "The New York Times" e o "Financial Times".

Bruno Araújo Pereira foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por muitos anos. Segundo a Unijava e o OPI, ele é uma "pessoa experiente e profundo conhecedor da região". Pereira é um dos servidores da Funai com mais conhecimento sobre indígenas isolados e de recente contato. Atualmente, ele estava licenciado da fundação.

O assessor jurídico da organização, Yura Marubo, disse ao g1 que Pereira estava sendo ameaçado por uma organização criminosa que atua no Vale do Javari com tráfico de drogas e desmatamento ilegal, composta por brasileiros, peruanos e colombianos.

"Essas pessoas tiram toneladas e toneladas de pescado, madeira e também fazem o tráfico de drogas no Vale do Javari. Por isso, o nosso trabalho é tão difícil nessa região", disse.

Ele falou sobre o perigo de navegar na região.

"Desconhecemos ameaças de garimpos brasileiros nesse perímetro. Mas tem o lado peruano, do outro lado do rio. A legislação [peruana] é totalmente diferente da nossa. Inclusive tem áreas loteadas pelo governo peruano dando concessão para empresas fazerem exploração, seja madeireira, de garimpo, de pesquisas, enfim. Por isso, é muito perigoso navegar nesse trecho. É uma área muito perigosa. Sabemos que são lugares trafegáveis por guerrilheiros peruanos. Tudo isso é perigoso, ainda mais com a organização criminosa adentrando nessas áreas para ter o controle absoluto".

Quem participa das buscas? Qual o tamanho da força-tarefa?

Após o registro do desaparecimento, a Univaja e o OPI iniciaram as buscas no domingo pelos dois com uma equipe "formada por indígenas extremamente conhecedores da região". Eles começaram atuando em uma área de quase 200 km entre Atalaia do Norte e a comunidade de São Rafael.

Comunicada na segunda-feira (6). a Marinha do Brasil também faz, desde então, buscas pelos desaparecidos. A corporação utiliza um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática.

Exército faz buscas em área onde indigenista e jornalista desapareceram na Amazônia — Foto: Exército/Reprodução

Desde o anúncio do desaparecimento, a Marinha é a responsável por conduzir as atividades de busca na região com o Comando de Operações Navais.

Já o Comando Militar da Amazônia (CMA) atua com 150 homens e um helicóptero para dar suporte à equipe e também para agentes da Polícia Federal.

A Polícia Federal no Amazonas (PF) também está apurando o desaparecimento, junto com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).

Durante coletiva de imprensa na quarta-feira (8), o superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Fontes, afirmou que cerca de 250 agentes federais e do estado estão na região de Atalaia do Norte em busca dos desaparecidos. Duas aeronaves, três drones e 20 viaturas foram deslocadas ao município para prestar apoio às investigações.

O que dizem as famílias dos desaparecidos?

Na terça-feira (7), a esposa do jornalista inglês Dom Phillips fez um apelo às autoridades para que haja um reforço nas buscas (assista abaixo). Alessandra Sampaio se emocionou e falou sobre a esperança de encontrar o marido vivo.

“Eu queria fazer um apelo para o governo federal e para os órgãos competentes, para intensificarem as buscas, porque a gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor. Intensifiquem essas buscas. Eu não quis falar antes porque a família toda está muito chocada e a gente não está sabendo reagir. Mas eu estou fazendo esse apelo, por favor, para intensificar essas buscas” .

Na quarta-feira (8), em entrevista para a TV Globo a mulher do jornalista disse que não tinha esperança de encontrar o marido vivo "Queria encontrar pelo menos o corpo dele. A angústia de não saber é uma tortura", disse Alessandra Sampaio ( assista abaixo).

Na terça(7), a esposa de jornalista britânico fala sobre desaparecimento na Amazônia

Na terça(7), a esposa de jornalista britânico fala sobre desaparecimento na Amazônia

Na quarta (8), Alessandra Sampaio disse que não tem esperança de encontrar o marido vivo

Na quarta (8), Alessandra Sampaio disse que não tem esperança de encontrar o marido vivo

Também na terça, a irmã do jornalista fez um pedido e cobrou urgência das autoridades (veja abaixo).

"Cada minuto conta", disse, chorando, Sian Phillips, que vive no Reino Unido.

Irmã de jornalista inglês: ‘Façam de tudo para encontrá-lo’

Irmã de jornalista inglês: ‘Façam de tudo para encontrá-lo’

"Meu irmão Dom vive no Brasil com a mulher dele, ele ama o país e se preocupa muito com as pessoas lá. Nós sabíamos que é um lugar perigoso, mas o Dom realmente é um jornalista talentoso e estava fazendo pesquisas para um livro quando desapareceu ontem. Nós estamos muito preocupados com ele e pedimos urgência às autoridades brasileiras para que façam tudo (...) se alguém puder ajudar e aumentar os recursos para as buscas, seria ótimo, pois o tempo é crucial."

A família de Bruno Pereira fez um apelo às autoridades pedindo urgência e prioridade nas buscas. Na nota, assinada pela companheira de Bruno e dois irmãos e divulgada por colegas da família no Pará, eles falam sobre a angústia na espera de notícias. Eles dizem ter esperança de que tenha sido um acidente e reforçam as orações.

"Já são 48 horas de angústia à espera de notícias. Tivemos poucas informações sobre a localização deles, o que tem aumentado este sentimento. Mas também temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro. Mantemos orações e agradecemos o apoio de familiares e amigos. Contudo, apelamos às autoridades locais, estaduais e nacionais que deem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos".

O que dizem entidades e órgãos ambientais?

Em nota conjunta publicada nesta terça (7), entidades indígenas criticaram a atuação do governo federal e cobraram celeridade em torno das buscas pelo indigenista e pelo jornalista.

O documento foi assinado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Força-tarefa faz buscas por indigenista e jornalista inglês desaparecidos no Vale do Javari, no AM

Força-tarefa faz buscas por indigenista e jornalista inglês desaparecidos no Vale do Javari, no AM

As entidades afirmam que, mesmo após acionarem diferentes órgãos de segurança as buscas na segunda-feira contaram com o apoio de apenas seis policiais militares e uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A nota afirmou ainda que a informação divulgada pelo governo federal de que a Polícia Federal (PF) realizava incursões na região, ao longo da segunda com o apoio da Marinha do Brasil, não é verdadeira.

O g1 entrou em contato com a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do governo federal, e aguarda posicionamento.

Também na terça, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Octávio Costa, em pronunciamento na Câmara dos Deputados, classificou como "inadmissível" o desaparecimento na Amazônia. Ele participou da sessão solene em homenagem ao Dia Nacional da Liberdade de Imprensa.

"É inadmissível que a Amazônia ainda conviva com esse tipo de episódio, com pessoas desaparecidas em terras indígenas por ações de grileiros, por alvo de grileiros. É inadmissível. Então, para nós, é lamentável que esse episódio esteja ocorrendo exatamente no dia dedicado à liberdade de imprensa", declarou.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!