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Por Adriana Fonseca — Para o Valor, de São Paulo


Uma universidade corporativa, diferentemente do que acontece com as instituições de ensino abertas, não é ser uma instituição certificada pelo Ministério da Educação (MEC). Aliás, essa é justamente uma das vantagens das “escolas” criadas pelas empresas, afirma Marisa Eboli, professora da FIA Business School. “Estar livre das amarras e burocracias do MEC.”

Embora não seja estritamente necessário ter uma instituição de ensino parceira, continua a especialista, pesquisadora desse tema, uma universidade corporativa pode buscar a associação com uma instituição de ensino superior (IES) reconhecida pelo MEC para facilitar o processo de certificação de cursos de MBA e pós-graduação, entre outros.

Este é um movimento que começa a ganhar espaço. É o caso da Nestlé, que recentemente começou a ofertar para seus funcionários, pela primeira vez, cursos reconhecidos pelo MEC em sua universidade corporativa. Atualmente são cinco com essa chancela, entre programas de graduação, pós e MBA. Desde 2020, 112 funcionários se formaram nos programas com certificação do MEC. “É uma oportunidade diferenciada que damos aos colaboradores. É algo que fica para eles”, afirma Daniela Matsumoto, gerente de treinamento e desenvolvimento na Nestlé Brasil. Segundo ela, o custo é um diferencial, já que o funcionário arca com 20% do valor do programa. “Às vezes, o colaborador não teria oportunidade de fazer fora da Nestlé.”

Sustentabilidade agora é tema em todos os cursos da Unibrad, diz Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco — Foto: Gabriel Reis/Valor
Sustentabilidade agora é tema em todos os cursos da Unibrad, diz Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco — Foto: Gabriel Reis/Valor

Esse foi um dos fatores que levou Roberto Boiani, gerente de engenharia para projetos digitais na Nestlé Brasil, a cursar o MBA em Transformação Digital oferecido pela companhia em parceria com a Uninter. “O aspecto financeiro conta, fica muito acessível”, diz. “E também o fato de o curso ter carga e conteúdo que fazem sentido na vida real.”

Normalmente, os programas que as universidades corporativas “pegam” do mercado e levam para dentro de casa têm uma customização. Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco, comenta que a Unibrad - como é chamada a universidade corporativa do banco - sempre faz uma “otimização [do curso] para o negócio”. “Mexe-se no conteúdo programático, esticando, nunca reduzindo a carga horária”, explica.

Ela exemplifica: “tem uma formação em tecnologia, e o banco quer que tenha mais cloud no final, então pedimos para pincelar mais isso”. Peticov afirma que, hoje, a Unibrad pede que todos os cursos otimizados para a universidade corporativa tenham acréscimo de matéria sobre sustentabilidade. “O que tecnologia tem a ver com sustentabilidade, o que economia tem a ver com sustentabilidade. Fazer essas conexões para as pessoas levarem isso para seus ambientes de trabalho, vendo caminhos alternativos”, explica.

Desde 2021, a Unibrad promoveu 177 cursos de pós-graduação, MBA e especialização certificados pelo MEC, totalizando mais de 1.200 participantes. Os cursos regulamentados oferecidos pela universidade corporativa do Bradesco são, geralmente, para aprimoramento técnico, diz a executiva. “Na universidade corporativa, o foco é qualificar o profissional, ela abre o guarda-chuva, e faz ofertas de cursos que podem depender de regulamentação do MEC ou não”, afirma. “Quando precisa que tenha regulamentação, usa um desses órgãos que tenha regulamentação para essa oferta”. Entre os parceiros da Unibrad estão a FIA Business School, a Fundação Getulio Vargas (FGV), a FIAP, o Insper, a Saint Paul Escola de Negócios e a ISE Business School.

A customização dos programas para a empresa traz ganhos certeiros para o negócio, afirma Peticov. “É uma ação efetiva, com resultado garantido, pois a pessoa recebe o conhecimento e vê como pode aplicar na prática”, diz.

Quando cursou o MBA Executivo em Liderança e Desenvolvimento do Potencial Humano, oferecido pela MSD Saúde Animal em parceria com o Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Daniel Rodrigues, gerente técnico da unidade de ruminantes da companhia, conseguiu ver sinergia entre as disciplinas ofertadas e o plano de desenvolvimento de liderança (PDL) da empresa. Ao longo de dois anos, ele conta, o MBA ajudou a reunir informações de várias referências bibliográficas para implementação no PDL. “Apresentei tudo o que construí em 12 meses de trabalho e as projeções para os próximos 12 meses”, comenta. “Fica muito prático.”

Um dos tópicos a que ele teve acesso, e começou a implementar, foi a liderança positiva. “Tinha uma implementação, um trabalha em conjunto com o PDL da companhia”, diz Rodrigues, que é veterinário de formação e tem um mestrado e um doutorado em patologia veterinária no currículo. Há 17 anos na empresa, e sempre buscando capacitações mais técnicas, com o avanço da carreira ele sentiu necessidade de ampliar sua formação em assuntos ligados mais à gestão. “Com o passar dos anos, um grande desafio foi trabalhar com pessoas. É um processo importante dentro do propósito da companhia, e senti que me faltava o conhecimento de pessoas”. O MBA entrou na sua capacitação para fechar essa lacuna.

Ao final de muitos dos cursos certificados pelo MEC oferecidos pelas universidades corporativas, é comum os profissionais apresentarem trabalhos de conclusão ligados ao negócio. Peticov, do Bradesco, comenta que 80% das ideias apresentadas são “impactantes e aplicáveis”. Na Unibrad, ela diz, 100% do custo dos cursos é subsidiado pelo banco.

No caso do MBA da MSD Saúde Animal, Patrícia Shine, diretora da área de conectividade e desenvolvimento da companhia, afirma que o MBA nasceu com o objetivo de trabalhar o autoconhecimento e o desenvolvimento de competências comportamentais alinhadas à cultura corporativa. “A empresa identificou a importância do desenvolvimento humano de cada indivíduo como forma de impulsionar a si e consequentemente impactar positivamente e aprimorar a gestão de equipes”, explica. “Devido a esse olhar tão específico, partimos da premissa de que construir essa grade personalizada por completo utilizando metodologias ativas pela vivência, não encontradas no mercado, seria de grande valor para o objetivo que queríamos atingir.”

O desenvolvimento do curso, ela continua, foi estruturado por diversas aéreas, com envolvimento direto, inclusive, do CEO da companhia. Em 2022, o programa, antes oferecido apenas no Brasil, passou a ser disponibilizado para toda a América Latina. “Hoje, contamos com o curso em dois idiomas, português e espanhol, e temos alunos em nove países”, diz Shine. Desde 2018, 160 pessoas se formaram no MBA e a turma atual conta com cerca de 90 pessoas. Os funcionários da MSD Saúde Animal arcam com 20% do valor do programa.

Para Eboli, facilidades em termos de custos, localização, a comodidade de modo geral, além da possibilidade de um maior foco na realidade de trabalho, são as principais vantagens oferecidas pelas universidades corporativas aos profissionais. “Elas oferecem programas alinhados às necessidades e aos objetivos específicos da empresa e de seus executivos”, afirma. “Além disso, os executivos podem ter acesso às lideranças da organização, com troca de experiências, com depoimentos sobre lições aprendidas e a casos de estudo específicos do setor ou do negócio.”

Isso, segundo a especialista, pode proporcionar uma perspectiva mais aprofundada e prática sobre os desafios e oportunidades da empresa, enriquecendo a experiência de aprendizado.

Por outro lado, existe um risco de o conteúdo ser muito estreito e focado no negócio, se o grau de customização for alto, o que dificultaria a aplicação em outras companhias. “Também, se for um curso restrito aos funcionários das empresas, pode ser uma desvantagem, pois a troca de experiências e vivências, tão importantes na formação dos executivos, fica bem mais limitada.”

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