O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou nesta segunda-feira (28), pelas redes sociais, que autorizou a produção de Bíblias com a sua imagem e a distribuição gratuita delas em um evento de cunho religioso.
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", no entanto, as obras com a foto de Ribeiro (ao lado da esposa) foram dadas aos convidados de um encontro do Ministério da Educação (MEC) em Salinópolis (PA), a 220 quilômetros de Belém.
Na ocasião, afirma a reportagem, estavam prefeitos e secretários municipais do Estado, além dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, supostamente envolvidos no escândalo da pasta. Os dois também aparecem em fotos nesta edição da Bíblia.
LEIA TAMBÉM:
Ribeiro diz, em seu post no Twitter, que descobriu, no final de outubro de 2021, que os livros estavam sendo distribuídos em eventos sem sua autorização.
"Novamente agi com diligência e de forma tempestiva para evitar o uso indevido de minha imagem. Imediatamente, em 26 de outubro de 2021, enviei ofício desautorizando esse tipo de distribuição. Segue [sic] documentos comprobatórios", escreveu no Twitter.
O ministro reproduz, em seguida, um comunicado dirigido à editora que publicou as Bíblias com a sua foto. No texto, ele pede que a impressão seja interrompida, a não ser em ocasiões ligadas a eventos religiosos.
O g1 procurou a Prefeitura de Salinópolis, município onde aconteceu a reunião do MEC, e a Editora Casa Publicadora Paulista, que teria recebido a carta de Ribeiro, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Crise no MEC
Segundo o colunista do g1 Valdo Cruz, o presidente Jair Bolsonaro foi convencido por aliados a tirar Milton Ribeiro do cargo. Alguns aliados teriam defendido uma licença do ministro, mas a preferência seria pela demissão. (veja VÍDEO abaixo)
VALDO CRUZ: Bolsonaro é convencido por aliados a tirar Milton Ribeiro do MEC
A atual crise na pasta começou neste mês, quando "O Estado de S. Paulo" denunciou a existência de um "gabinete paralelo" de pastores que controlaria verbas e compromissos do MEC.
Em seguida, na semana passada, a "Folha de S.Paulo" divulgou um áudio em que Milton Ribeiro admite repassar verbas a municípios indicados pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Na gravação obtida pelo jornal, Ribeiro diz ainda que esses favorecimentos são uma recomendação do presidente Jair Bolsonaro.
Desde então, começaram a surgir denúncias de prefeitos sobre propinas que os pastores pediam para facilitar a liberação das verbas do MEC -- os esquemas supostamente envolveram compra de Bíblias e distribuição de barras de ouro, por exemplo.
Investigações
A Polícia Federal instaurou, na última sexta-feira (25), um inquérito para investigar se houve favorecimento ilegal em repasses de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que executa as políticas do MEC.
O inquérito foi aberto a pedido da Controladoria-Geral da União (CGU).
A CGU enviou na quinta-feira (24) à PF o resultado de uma sindicância interna que apontou supostas fraudes na distribuição de verbas da Educação.
Agora, a PF fará investigações sobre o caso, e as provas que forem levantadas poderão embasar uma abertura de ação na Justiça.