• Natacha Cortêz
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Os últimos anos têm sido intensos para Mercedes D’Alessandro. “É como viver o sonho dentro do caos”, define a primeira diretora nacional de Economia, Igualdade e Gênero do Ministério da Economia da Argentina. Eleita pela Time para figurar na lista dos 100 líderes emergentes que estão moldando o futuro, Mercedes é responsável pelo desenho de um orçamento com perspectiva de gênero, com recursos que correspondem a 15% do orçamento total e 3,4% do produto interno bruto (PIB) do país. A proposta, aprovada pelo Congresso em novembro de 2020, é mais um feito “primeiro” entre os seus tantos ineditismos desde que assumiu o cargo, em janeiro do mesmo ano, a convite do amigo e ministro da Economia Martín Guzmán. Com o orçamento convertido em lei, a diretora e sua equipe de 20 economistas – “absolutamente todas mulheres”, enfatiza – têm trabalhado em políticas anunciadas como feministas, com enfoque sobretudo nas tarefas do cuidado, motivo das duplas e triplas jornadas de trabalho que fazem mulheres se afastarem do descanso, dos estudos, do lazer e do próprio mercado. Imagine, então, em um cenário pandêmico.

Entrevista do mês Mercedes d’Alessandro (Foto: Palu Camilli)

(Foto: Palu Camilli)

Como em toda a América Latina, a crise gerada pela covid-19 reforçou na Argentina desigualdades econômicas preexistentes, causando um impacto cruel sobre as mulheres, que perderam emprego e renda em taxas alarmantes. Para ter uma ideia do estrago: em março de 2020, a queda na participação econômica as devolveu aos níveis de 2002. Em apenas alguns meses, a população feminina retrocedeu duas décadas em seu avanço no mercado de trabalho. E mesmo no segundo semestre do ano passado, quando a economia começou a reabrir e alguns setores retomaram as atividades, a recuperação foi mais lenta para as mulheres.
Pois cabe ao grupo de economistas encabeçado por Mercedes produzir indicadores, pensar em medidas – são 55 apresentadas no orçamento – e direcionar recursos para pastas como o Ministério das Mulheres, Gênero e Diversidade para que o abismo que separa mulheres e homens possa ser enfim mitigado. Um exemplo de ação já em curso, e a todo o vapor, é a construção de 300 centros de desenvolvimento infantil distribuídos pelo país. “Foram pensados para desafogar as mães dos cuidados com os filhos e oferecer não apenas um espaço de educação, mas acolhimento, interação com outras crianças, um olhar para a saúde das famílias e alimentação”, detalha Mercedes. Outra medida que a diretora tem orgulho de destacar é o programa Acompanhar. “Trata-se de uma transferência de dinheiro a vítimas de violência doméstica, que muitas vezes precisam sair de casa, fechar um novo contrato de aluguel, procurar assistência psicológica ou simplesmente continuar alimentando seus filhos.” O programa dá a essas mulheres um salário mínimo durante seis meses para que possam sair do ciclo da violência e recomeçar.

Mercedes é a segunda filha de uma família de classe média baixa que sofreu com as crises econômicas de 1989 e 2001, que atingiram impiedosamente os argentinos. Os pais, trabalhadores do setor gastronômico, perderam o pouco que conseguiram conquistar. “Há uma ideia de que, se você trabalha muito e se esforça, vai se dar bem. Eu vi gente trabalhando muito e se esforçando, mas sempre vivendo em condições difíceis. Foi assim com os meus pais”, lembra ela.

Nascida e criada em Posadas, capital da província de Misiones, Mercedes foi a primeira e única de sua família a cursar a universidade. O chamado da economia veio ainda no ensino médio, quando frequentava, como aluna bolsista, uma escola rigorosamente católica, com aulas de latim e grego na grade curricular. “Foi aí que me encontrei com as grandes desigualdades econômicas. Tinha colegas de classe com muito dinheiro e colegas com nenhum, bolsistas como eu. Não esqueço dos dicionários de latim, enormes e caríssimos. Para mim, quem tinha um era rico. O meu era emprestado.”

Antes de aceitar o convite para a Direção Nacional de Economia, Igualdade e Gênero, vivia em Nova York. A mudança de país aconteceu em 2013, por causa do marido, um neurocientista também argentino e pesquisador de enfermidades neurodegenerativas. A princípio, a ideia do casal era ele continuar nos Estados Unidos, onde é empregado da IBM, e ela voltar à Argentina. Se veriam a cada dois ou três meses até que o trabalho de Mercedes no Ministério da Economia acabasse. Então veio a pandemia, o marido adotou o home office e hoje os dois vivem em um apartamento improvisado em Buenos Aires.

Durante o tempo em Nova York, Mercedes criou um blog e escreveu um livro baseado nele. Economia Feminista: Como Construir uma Sociedade Igualitária é um best-seller. Esgotou na semana de lançamento, está na quinta edição e foi publicado também no México, Colômbia, Espanha, Chile e Uruguai. Junto com o movimento Ni Una Menos, o grande responsável pela chama feminista de Mercedes a partir de 2015, o blog e o livro popularizaram as ideias da economia do cuidado pela Argentina. Não é exagero dizer que sem essa tríade não haveria agora um orçamento com perspectiva de gênero em curso. Para Mercedes, não é bem uma questão de tríade, mas da força de um ideal que une e move, como em poucos lugares do mundo, as mulheres: o feminismo. “Só existirão políticas públicas voltadas às mulheres com mulheres no poder”, defende. “Se hoje a gente tem a economia do cuidado na agenda econômica, é por causa do feminismo que luta por mulheres em espaços de decisão.”

Entrevista do mês Mercedes d’Alessandro (Foto: Palu Camilli)

(Foto: Palu Camilli)

MARIE CLAIRE Quais são os principais desafios para reduzir as disparidades entre mulheres e homens em um contexto de crise econômica e sanitária como o de agora?
MERCEDES D’ALESSANDRO
Em 2020, a economia argentina perdeu 9,9 pontos no PIB. Os índices de desemprego, precarização e pobreza foram elevados. E isso é, definitivamente, mais impactante para as mulheres. O desafio para 2021 é a recuperação da economia. Contudo, dadas as lacunas de desigualdade e os obstáculos para o retorno ao trabalho, para que esse caminho seja sustentável, ele tem que ser com as mulheres como protagonistas. Nesse esforço, identificamos duas diretrizes: fortalecer e reavaliar as tarefas de cuidado e a inserção da mulher em setores estratégicos. Entendemos que o trabalho realizado nos lares é a base e o sustento do tecido produtivo da sociedade. Um modelo de desenvolvimento econômico feminista implica compreender a dimensão do cuidado como setor estratégico e estimulador do emprego. Hoje as mulheres são minoria nos principais ramos para o desenvolvimento argentino. A construção civil é composta de 96% de homens, na indústria de transformação 71% são homens e, no setor agrícola, 69%.

MC Seja na Argentina, seja em qualquer lugar do mundo, políticas econômicas podem continuar a ser pensadas sem incluir a perspectiva de gênero?
MD
Para mim é muito claro que não se pode falar em recuperação, reativação ou produção de políticas econômicas sem abordar a perspectiva de gênero. Seria insustentável, injusto e só reforçaria desigualdades. Bem parecido com tudo que temos visto até aqui, especialmente em países subdesenvolvidos.

MC Seu gabinete não tem ligação com a legalização do aborto, mas quero saber sua opinião de estudiosa de gênero: como essa conquista pode influenciar o caminho para a equidade entre mulheres e homens na Argentina?
MD
Durante a luta pelo aborto legal, foi utilizada a expressão “as ricas abortam, as pobres morrem”. Isso porque se tratava de uma prática clandestina, que obrigava as mulheres pobres a percorrerem locais inseguros onde colocavam em risco a vida. Para nós, o aborto legal é um avanço em nossa autonomia e liberdade de escolha, mas também em saúde, direitos reprodutivos e justiça social. Ou seja, um avanço para a equidade.

MC Quando as mulheres na política tentam propor perspectivas de gênero no Brasil, não é raro que sejam vítimas de violência política de gênero e outros machismos. Você passa por isso agora que está no governo?
MD
Não passo um dia sem receber insultos, mensagens de ódio ou ameaças nas redes sociais. Isso é um fato. Acho que já assumi a violência quase como natural em meu trabalho. Não deveria ser assim, mas sinto que me acostumei. De toda forma, nunca deixei de conversar sobre isso com minhas colegas, a fim de encontrar jeitos de fazer os ataques pararem. É difícil encontrar uma solução, mas só o fato de se sentir acompanhada é importante. E aprender a não levar isso para o lado pessoal também.

MC Por que decidiu estudar economia? Alguém da sua família ou próximo é da área?
MD
Ninguém da minha família é economista. Aliás, ninguém nem sequer foi para a universidade além de mim. É uma família que não teve intelectuais nem pessoas que se dedicaram ao pensamento. Creio que grande parte do meu interesse pela economia apareceu no colégio. Frequentei uma escola particular muito religiosa, onde estudamos latim e grego. Tive bolsa para poder frequentar. Foi aí que me encontrei com as grandes desigualdades econômicas. Tinha colegas de classe com muito dinheiro e colegas que não tinham nenhum, os bolsistas. Como estudamos latim, havia os dicionários enormes e caríssimos. Para mim, quem tinha um dicionário daqueles era rico. O indicador de riqueza para mim era um dicionário de latim. Todos os livros que usei durante essa época eram emprestados ou ganhados. Há uma ideia de que, se você trabalha muito e se esforça, vai se dar bem e ter dinheiro. Eu vi gente trabalhando muito e se esforçando, mas sempre vivendo em condições difíceis. Foi assim com os meus pais.

MC Podemos dizer que sua origem é de uma família pobre?
MD
Diria classe média baixa. As famílias são golpeadas por muitas crises econômicas na Argentina. Esse também foi o caso da minha. Em 2001, por exemplo; em 1989, outro exemplo, quando tivemos que mudar de casa e vender o carro. As poucas coisas que tínhamos, perdemos.

MC Quando, e em quais circunstâncias, começou a ter contato com a economia de gênero?
MD
A economia de gênero chegou tarde à minha vida. Tinha mais de 30 anos quando aconteceu. Estudei economia na universidade, depois fiz um doutorado, dei aulas, dirigi grupos de estudos sobre temas econômicos... No entanto, o tema de gênero nunca me atravessou. Aos 23 anos, já tinha cargos altos na academia e era sempre a única mulher onde quer que estivesse – fosse em seminários, mesas-redondas ou premiações. Isso começou a me chamar a atenção, porque na universidade éramos muitas estudando economia, mas isso não se refletia no mercado, nem nos que eram escolhidos como porta­-vozes de qualquer coisa que abordasse o tema. Outro ponto eram os livros: passei anos sem ler o que as mulheres tinham a dizer sobre economia porque elas simplesmente não eram publicadas. Seguramente você já escutou sobre Karl Marx, John Maynard Keynes, Thomas Piketty etc. Há muitos homens conhecidos. O cenário é diferente para as mulheres. Por isso, a economia feminista se coloca como foco da minha atenção desde o meu envolvimento com o Ni Una a Menos. Logo depois criei o que hoje é uma organização não governamental (ONG), mas que começou com um blog e contas em redes sociais, nos quais eu falava de economia com base em uma perspectiva de gênero. Acabei escrevendo um livro, Economia Feminista: Como Construir uma Sociedade Igualitária, que foi importante na Argentina. Publicado em 2016, ficou esgotado na semana do lançamento. E foi publicado no México, Espanha, Colômbia, Chile e Uruguai. Esse livro me permitiu viajar por toda a Argentina e também por outros países. Permitiu que eu entrasse em mais debates econômicos do que antes. Por ter uma linguagem acessível, muitas mulheres puderam ler, inclusive as trabalhadoras domésticas.

Entrevista do mês Mercedes d’Alessandro (Foto: Arquivo pessoal)

(Foto: Arquivo pessoal)

MC Houve uma mulher na academia que a inspirou a estudar economia de gênero?
MD
Durante meus estudos universitários, li Rosa Luxemburgo e Joan Robinson. A primeira foi a que mais me marcou, mas não serviu exatamente de inspiração para os estudos sobre gênero, e sim sobre desigualdade. A inspiração para trabalhar na economia feminista não veio exatamente da academia, mas dos processos pelos quais passou a Argentina nos últimos anos: o movimento Ni Una Menos; a luta pelo aborto legal, seguro e gratuito; os avanços nos direitos para os LGBTQIA+. Tudo isso foi base para o meu encontro com a economia de gênero.

MC Você não teve filhos até agora. Alguma vez a escolha pela não maternidade a atingiu como uma cobrança pes­soal ou social?
MD
Nunca me senti julgada ou cobrada, embora não signifique que não tenha sido. É claro que muitas e muitas vezes me perguntei se precisava ter filhos. Esse é o peso do patriarcado. Mas a verdade é que não sinto como algo pendente, que eu deva a alguém ou a mim mesma. Tenho feito muitas coisas na minha vida que me enchem de satisfação e tenho o privilégio de me dedicar às coisas de que gosto. Isso me emociona e me faz me sentir importante. Minha libido e excitação estão nos meus feitos.

MC Em sua opinião, por que tanto o blog quanto o livro se tornaram fenômeno de público e vendas na Argentina?
MD
O foco deles era mostrar que há estruturas de desigualdade de gênero muito profundas em nível econômico. E que essas estruturas demandam que tenhamos mais informação, dados e indicadores para que possamos fazer diagnósticos da realidade. Por exemplo: as mulheres dedicam três vezes mais tempo a tarefas de cuidado e trabalho no lar que os homens. Tempo para limpar, cozinhar, cuidar das crianças, dos idosos e incapacitados, fazer compras. Na Argentina, são quase sete horas de trabalho doméstico para as mulheres. É como uma segunda jornada, que tira delas o descanso, o lazer e o estudo. Para as estudiosas da economia feminista, o trabalho extra das mulheres explica por que elas ganham menos que os homens, têm maior taxa de desemprego, empregos mais precários e mais dificuldade de ser promovidas e chegar a cargos de gerência e direção. Tudo isso é de interesse das mulheres. O que fiz foi contar a elas por meio de uma linguagem acessível e muito simples.

MC Levantar dados e produzir indicadores são parte das incubências de seu gabinete, aliás, você insiste muito nessa parte do trabalho. No Brasil, recentemente, o governo federal quis suspender o censo demográfico. Qual é a importância da produção de estatísticas como essa?
MD
Só com dados podemos pensar em resoluções e, mais, mostrar a gravidade dos problemas e tudo que afetam. Por exemplo, um de nossos planos na Direção é igualar a licença-maternidade e a paternidade. Na Argentina, temos três meses para as mulheres e dois dias para os homens. O recado do mercado é claro: a maternidade é uma questão das mulheres, cabe a elas o cuidado com os bebês. Aos homens não cabe nada, afinal, dois dias longe do trabalho... Toda a defesa teórica já temos, e há tempos. O feminismo está cansado de pedir por equidade no trabalho. Agora, sem dados, não conseguimos convencer nem a população nem o Congresso.

MC Como aconteceu o convite para a criação da Direção Nacional de Economia, Igualdade e Gênero?
MD
Estávamos brigando havia muito tempo por um olhar econômico no debate feminista e por um olhar feminista na economia. Meu cargo atual é um espaço institucional para que eu possa atuar exatamente no que reclamava quando era ativista. Eu estava vivendo nos Estados Unidos desde 2013 quando Martín Guzmán [ministro da Economia desde 2019] me fez o convite. Antes de ele se tornar ministro, acompanhei-o em reu­niões e viagens com pessoas da política, tivemos encontros para debater a situação econômica do país. Quando oferecem a ele o cargo de ministro, me chama para trabalhar com ele e me pede que eu coloque em prática tudo que vinha contando a ele nos últimos anos.

MC Como se sentiu com o convite?
MD
A princípio foi: “E agora, o que faço?”. Porque tinha projetos em Nova York, além do meu marido e da vida ajeitada. Mas a verdade é que não havia como dizer não a Martín. Estava havia pelo menos cinco anos dizendo a ele diariamente o que fazer, como fazer, falando da importância da perspectiva de gênero numa economia justa. Cheguei com duas malinhas a Buenos Aires pensando: “Volto em março para visitar o meu marido”. E então veio a pandemia, ele entrou em home office, veio para cá e fechamos nosso apartamento em Nova York.

MC Por que a Direção fica no guarda-chuva do Ministério da Economia e não no das Mulheres, Gênero e Diversidade?
MD
Para mim é importante que nosso gabinete seja dentro do Ministério da Economia, apesar de termos o Ministério das Mulheres, Gênero e Diversidade, porque é na pasta de Martín Guzmán que se tomam as decisões econômicas. E estar na mesa de discussão dos debates econômicos não é o mesmo que ter uma cadeira em uma mesa cheia de outros temas urgentes, como a violência doméstica. Sem falar que só o fato de estar dentro do Ministério da Economia já é um passo para a mudança de pensamento lá dentro. A gestão pública nunca mais será a mesma depois de nós.

MC Quantas pessoas integram a Direção de Economia, Igualdade e Gênero? E quantas delas são mulheres?
MD
Oito fixas e 12 trabalhando em convênios com organismos internacionais e produzindo dados, o que nos faz 20 pessoas. Todas mulheres [ri]. E, veja só, por mais que digam o quanto é difícil encontrar mulheres na economia, eu consegui.

MC Como reagiu a população diante da criação da Direção?
MD
Há de tudo. Grupos que pensam: “Que espetacular”, e que dizem: “Isso é déficit fiscal”. Mas estamos respondendo com trabalho e esse, sim, tem sido reconhecido. Inclusive,  mundo afora. Somos convidadas para falar em fóruns internacionais o tempo todo, especialmente depois da lista da Time. O mundo quer saber como conseguimos fazer o que fizemos e estamos fazendo. Nosso trabalho é pioneiro, na América Latina não há precedente, não há outro espaço de gênero dentro de um Ministério da Economia. O que existe é espaço de gênero em divisões de direitos humanos.

MC E quanto ao orçamento com perspectiva de gênero, como reagiu a população diante de sua aprovação? E no Congresso, foi uma aprovação fácil?
MD
A população não se rebelou. Pelo contrário, vibra conforme as políticas vão sendo colocadas em prática. Já o Congresso ficou dividido. No dia da votação no Senado, quando o orçamento foi transformado em lei, estava Cristina Kirchner, nossa vice-presidenta. Foi emocionante vê-la naquele momento histórico. Levei meu livro para presenteá-la e pedi que fizesse uma foto segurando. Esse é um dia que guardarei para sempre.

MC E sobre a influência do movimento feminista na criação do orçamento?
MD
O orçamento é fruto de um longo caminho percorrido pelos feminismos, que agora se reflete em ferramenta concreta de governo. E isso ganha maior expressão com o ativismo do Ni Una Menos, que nunca deixou de exigir representação nos espaços institucionais.

MC O orçamento pode reduzir ou proteger as mulheres da violência de alguma forma?
MD
O orçamento não reflete só as políticas econômicas, mas as que protegem as mulheres da violência e que permitem que acessem serviços de saúde. Por exemplo, a maior atenção para a detecção precoce do câncer de mama, contraceptivos gratuitos nos hospitais e educação sexual e integral em todas as escolas públicas. Outra novidade é que, além de a Argentina já ter a Lei de Identidade de Gênero e o casamento igualitário, foi criada uma cota para profissionais travestis e transexuais no serviço público. Isso significa que 1% do emprego no Estado tem que estar reservado para eles. Em 2021, a Argentina também realizará o censo e, pela primeira vez, será incluída a pergunta sobre a identidade de gênero autopercebida. Esse registro vai nos permitir identificar a situação das pessoas travestis e trans no país.