ESG
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Eliane Sobral, Para O Prática ESG — De São Paulo


Jacaré do papo amarelo, uma das 230 espécies mantidas no zoológico de São Paulo que integram o banco genético e participam de pesquisas da instituição — Foto: Divulgação
Jacaré do papo amarelo, uma das 230 espécies mantidas no zoológico de São Paulo que integram o banco genético e participam de pesquisas da instituição — Foto: Divulgação

Da década de 1970, quando Raul Seixas cantava que deveria estar feliz por ter ido ao “Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos”, aos dias de hoje, muita coisa mudou, inclusive nos zoológicos. E não é só porque não é mais permitido dar qualquer alimento aos animais. Nos últimos anos, zoológicos e aquários de várias partes do mundo empreendem um grande esforço para mostrar à opinião pública que ganhar dinheiro com a exibição de espécimes é apenas a parte visível do negócio, e que sua missão vai além de vender lembrancinhas em forma de onça, macaco e elefante. “Hoje, não temos nenhum animal no zoo que não participe de alguma pesquisa ou banco genético”, afirma Rogério Dezembro, um dos sócios da Reserva Paulista, que no ano passado venceu a licitação para administrar o Zoológico, o Zoo Safari e o Jardim Botânico, em São Paulo.

O consórcio pagou R$ 111 milhões pela outorga de 30 anos, o que representou ágio de 132%, e terá de investir R$ 400 milhões em melhorias nos próximos anos. Em seis meses da nova gestão, o grupo desenvolveu uma estratégia para gestão de resíduos com o objetivo de receber a Certificação Lixo Zero, começou a comprar energia limpa no mercado livre e fazer melhor gerenciamento de recursos hídricos. Os bancos do zoológico também foram substituídos por bancos ecológicos, de madeira plástica (cada um feito a partir de 1.200 garrafas-pet). Mas as ações sustentáveis no setor de parques e zoológicos precisam ir além de reciclagem de latinha e banco ‘verde’. A Reserva Paulista é uma das empresas que estão de olho em outro filão ainda pouco falado: a biodiversidade. “Por que entramos nesta área? Porque preservação e educação ambiental é o negócio do século 21”, afirma Dezembro.

Em junho de 2021, o programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), lançou a Década da ONU da Restauração de Ecossistemas, que vai até 2030 e alertou: a humanidade se encontra em uma encruzilhada e não se trata apenas da necessidade de preservação. A ordem agora é regenerar. O trabalho, porém, é gigantesco. Segundo o relatório, os humanos usam cerca de 1,6 vez os recursos que a natureza fornece de forma sustentável e é preciso restaurar pelo menos um 1 bilhão de hectares de terras degradadas. Para se ter uma ideia do que isso significa, é a área equivale ao território chinês, aproximadamente. Em termos de custos, só a restauração de ecossistemas terrestres, sem contar o marinho, é estimada em US$ 200 bilhões.

O AquaRio foi criado para aproximar os humanos dos tubarões e desmistificar o estigma de animais assassinos — Foto: Alexandre Macieira
O AquaRio foi criado para aproximar os humanos dos tubarões e desmistificar o estigma de animais assassinos — Foto: Alexandre Macieira

E é aí que entram zoológicos e aquários de visitação pública, e não apenas em relação à fauna. Segundo Rogério Dezembro, só na área de visitação dos parques paulistas havia mais de 150 árvores mortas. “O trabalho de regeneração já começou e a meta é buscar certificação de carbono positivo, dentro de cinco ou seis anos”, diz.

A participação desses espaços na pesquisa científica não é nova nem começou agora. O biólogo Charles Darwin, aliás, trabalhava no zoológico de Londres. Na Fundação Zoológico de São Paulo, por exemplo, há mais de 200 projetos e pesquisas, próprios ou em parceria com centros de estudos e universidades, em andamento, segundo a bióloga Patrícia Locosque Ramos, diretora técnico-científica da fundação. “Fomos ver o que há de melhor no mundo e hoje temos o maior banco biológico da América Latina”, diz ela, referindo-se à mais de 20 mil amostras - entre sêmen, soro, pele e tecidos, entre outros materiais genéticos.

Um exemplo prático deste trabalho está no aquário do Rio de Janeiro, o AquaRio. Em 2016, várias instituições globais formaram um grupo para estudar o fenômeno de branqueamento dos corais marinhos na Austrália, efeito direto do aquecimento global. Em 2019, a pesquisa desenvolvida pelo AquaRio em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), recebeu o prêmio Out of the Blue Box, concedido pela Fundação Grande Barreira de Corais da Austrália, como uma das mais promissores em desenvolvimento.

Rafael Franco, biólogo marinho e gerente técnico do AquaRio, afirma que o aquário carioca é a única instituição no mundo a reproduzir a arraia borboleta, uma das espécies mais ameaçadas do planeta, e que outras 50 pesquisas científicas similares estão em andamento. Na opinião do biólogo, há muito que instituições como aquários públicos e zoológicos deixaram de ser apenas local de entretenimento, embora ele próprio reconheça que espaços com este perfil ainda sejam maioria. “Existe um movimento global muito forte em prol dos animais e tem de ser assim mesmo. Quem não estiver alinhado, não vai sobreviver no longo prazo.”

Mas ele se diz otimista e cita avanços na conscientização das pessoas. “Há 20 anos as baleias eram tidas como animais assassinos. Na década de 80 as pessoas tomavam sopa de tartaruga, algo impensável nos dias atuais”.

O cientista lembra que os projetos que fizeram mudar a percepção dos humanos sobre esses animais foram exatamente os que aproximaram e ensinaram o público, como o Projeto Tamar, internacionalmente reconhecido como um dos mais consistentes projetos de preservação de tartarugas marinhas em todo o mundo. “O AquaRio foi idealizado por um biólogo para preservar os tubarões. Tem ingresso e tem lojinha sim porque é preciso pagar a conta”.

Um dos projetos prestes a ser concluído no AquaRio é o de reprodução de cavalos-marinhos - outra espécie bastante ameaçada. “Mas nós não podemos simplesmente reproduzir e devolver ao meio ambiente se este meio não estiver em condições adequadas. E mais, sem que a população esteja devidamente educada, para que não se saia pescando cavalo-marinho na Baia de Guanabara”.

Educação e conhecimento é a maior aposta do veterinário Ciro Cruvinel, responsável técnico pelo BioParque, o zoológico do Rio de Janeiro. Até porque, lembra ele, não são apenas animais fofinhos que estão ameaçados. “Temos animais como sapos, ratos e insetos, que não geram ‘likes’, que não fazem parte da ‘fofofauna’, que estão ameaçados e cuja extinção traz prejuízos incalculáveis ao equilíbrio do planeta”, alerta. “Os zoológicos são uma espécie de arca de Noé, e alguns animais só existem hoje porque havia espécime em cativeiro e foi possível reproduzir. A ararinha azul é um exemplo”, diz.

Talita Uzeda, gerente de sustentabilidade do Grupo Catarata, que administra o BioParque e o AquaRio, lembra que animais resgatados das mãos de traficantes também são abrigados pelos zoológicos, que devolvem os que têm condições de retornar ao habitat natural. “Participamos do projeto Refauna, da UFRJ para reintrodução de aves no Parque Nacional da Tijuca. Já estamos na quarta soltura de cotias e no mês passado soltamos trica-ferros que, por conta do canto, é um dos pássaros preferidos pelos traficantes de animais”.

De acordo com a executiva, o zoológico carioca é uma das instituições mundiais que participam da “Década da Restauração dos Ecossistemas”, período entre os anos 2021 e 2030 e anunciado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como determinante para restaurar a biodiversidade, ou seja, recuperar espécies de animais que se encontram ameaçadas na natureza, seja pela perda de seus habitats, tráfico, caça e outros fatores. Atualmente, o BioParque tem 1,1 mil animais, de 200 espécies. Em São Paulo são 1,6 mil animais, de 230 espécies.

Mas nem tudo são flores no reino dos animais que vivem em zoológicos. Em janeiro deste ano, uma investigação foi instaurada no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba (RJ), onde três girafas, de um grupo de 18 animais, trazidas da África do Sul, morreram. Elas estavam passando pelo processo de adaptação em uma reserva na cidade. O caso é cercado de polêmicas. Na ocasião, duas pessoas chegaram a ser presas por alegações de maus tratos. Laudos oficiais apontam que a causa da morte das girafas foi miocardia em função de estresse. Em nota, o BioParque do Rio, responsável pelo resort safari, informou que durante as operações de manejo, um grupo de girafas escapou de uma área de contenção. Elas chegaram a ser recapturadas, mas três delas não resistiram e morreram.

Ambientalistas afirmam que as girafas estavam confinadas em um espaço exíguo, o que configuraria maus tratos. Também denunciaram que os animais foram capturados em ambiente selvagem, o que é proibido pela legislação. Na ocasião do incidente, o BioParque afirmou que o grupo de animais veio de um local autorizado para manejo sustentável e que recebeu aprovação dos órgãos competentes brasileiro e sul-africano para serem trazidos ao país. As girafas importadas fazem parte de um projeto de conservação, o Grupo de Trabalho para os esforços de conservação da girafa pela Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB). Só existem 17 girafas no país hoje.

Mais recente Próxima Quem está ameaçada agora é a espécie humana, diz ONU

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Mercados se animam com chance de juros do Fed caírem mais cedo; aqui, corte de 0,5 ponto da Selic volta ao radar

Dólar fecha em forte queda e Ibovespa avança após EUA criarem menos empregos do que o previsto em abril

Desde 2022, tem crescido a destinação de recursos da usina para áreas não relacionadas ao serviço de eletricidade, às despesas administrativas e ao pagamento de royalties

Itaipu vai destinar R$ 1,3 bi para infraestrutura urbana de Belém para sediar COP30

Na semana, a moeda americana teve perda acumulada de 0,91% frente ao real

Dólar fecha em queda firme após dados mais fracos de emprego nos EUA

O petróleo WTI com entrega prevista para junho cedeu 1,06%, a US$ 78,11 por barril, e o contrato do Brent para julho recuou 0,85%, a US$ 82,96 por barril

Petróleo cai até 1% e atinge menor preço desde março

Pelas redes sociais, o presidente da Câmara ofereceu auxílio ao governo e à população do Rio Grande do Sul, que enfrenta fortes temporais

Chuvas: Lira coloca Câmara à disposição para aprovar medidas emergenciais

Segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, também serão deslocados 25 caminhonetes, dois ônibus, um caminhão e três botes de resgate

Lewandowski autoriza envio de 100 agentes da Força Nacional ao RS

"Vamos disponibilizar os recursos necessários; amanhã vamos instalar um escritório no Rio Grande do Sul de monitoramento da situação", afirmou Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social

Não faltará recurso federal para ajudar na reconstrução das cidades afetadas pelas chuvas, diz ministro

Além do consagrado bitcoin, os tokens das redes blockchain Ethereum, Solana e Avalanche chamam a atenção dos analistas

Das mais 'tradicionais' às mais 'alternativas', confira as criptos que podem se destacar em maio