• Vanessa Lima
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Ponto do marido: prática é considerada violência obstétrica (Foto: Thinkstock)

Ponto do marido: prática é considerada violência obstétrica (Foto: Thinkstock)

Imagine uma mãe, que acaba de ter um bebê por parto normal, e ouve do médico uma frase como esta: "Olha, vou dar o pontinho do marido aqui para ficar mais apertado". Isso quando o profissional avisa. "O ponto do marido é um ponto que se faz ao término da sutura de uma episiotomia, onde se 'aperta' a entrada da vagina, com o intuito de torná-la mais estreita, teoricamente aumentando a satisfação sexual do marido", explica a ginecologista e obstetra Flávia Maciel Aguiar, coordenadora do grupo Geração Mãe, de Ribeirão Preto (SP). 

Motivo de muita revolta, principalmente, é claro, entre as mulheres, o ponto é considerado uma prática que configura machismo e violência obstétrica. A professora L.B, 40 anos, que é brasileira e vive em Lisboa, Portugal, passou por isso depois do parto de seu primeiro filho, R., hoje com 11 anos. "Como o pai do Rodrigo já estava presente na sala, o médico virou para ele e disse, em um tom de piadinha: 'Agora vou dar o ponto do marido. Você vai me agradecer. Hahaha!'", conta. L só teve coragem de retomar as relações sexuais três meses depois do parto e, mesmo assim, sofreu muito. "Ficou bem mais dolorido, exigindo mais lubrificação. Até hoje, nota-se a diferença", relata. Depois disso, ela teve mais dois filhos, mas ambos nasceram por cesáreas

"Muitos profissionais ainda acreditam na episiotomia [corte no períneo] e também acreditam que o parto danifica os tecidos vaginais da mulher", explica Flávia. "Sendo assim, o ponto do marido seria uma tentativa de não só reconstruir a anatomia da região que foi lesada no corte, mas tornar novamente esta mulher 'apertada', e com isso, mais apta a dar prazer ao marido na penetração vaginal. Nesse sentido, cabe uma reflexão que envolve questões de gênero, uma vez que a vagina é da mulher - e não do marido - e que o prazer sexual envolve muitas outras questões que não se restringem à anatomia genital", complementa. 

Segundo a obstetra, ainda é comum que os médicos realizem a episiotomia, popularmente conhecida como "pique", sem o consentimento da gestante. Muitos profissionais também não avisam que vão dar esse ponto extra já que, para eles, isso faz parte do procedimento normal da sutura da região. 

O ponto, no entanto, pode trazer consequências que mudam para sempre a vida da mulher. "Muitas mulheres referem dor importante nas relações sexuais, decorrente da lesão de nervos na região, perda da elasticidade normal da vagina em decorrência da fibrose que se forma, assim como pelo estreitamento excessivo da entrada da vagina", explica Flávia. 

Enquanto algumas mulheres relatam ter perdido para sempre o prazer sexual, outras se posicionam favoravelmente à prática. "Depois de levar os pontos da episiotomia, voltamos à 'virgindade' e os maridos adoram aquela sensação - e nós mulheres também gostamos de ter aquele sentimento de primeira vez", diz F. V., 34, dona de casa e mãe de três filhos. 

E você? Já tinha ouvido falar no ponto do marido? 

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