Por g1


Montagem mostra Recep Tayyip Erdogan e Kemal Kilicdaroglu em atos de campanha na Turquia em maio de 2023 — Foto: Reuters

Os resultados parciais da eleição na Turquia neste domingo (14) apontam para um segundo turno entre os dois principais candidatos, o atual presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, e o líder da oposição Kemal Kilicdaroglu.

A disputa nas eleições, as primeiras em que Erdogan tem seu mandato ameaçado, está acirrada. Até a manhã desta segunda-feira (15), com mais de 99% das urnas apuradas a situação era a seguinte, segundo o Conselho Superior Eleitoral do país:

  • Recep Tayyip Erdogan: 49,49% dos votos
  • Kemal Kilicdaroglu: 44,79% dos votos

Além do órgão oficial, a imprensa turca tem divulgado a apuração dos votos, com uma pequena margem de diferença. De acordo com a agência de notícias estatal Anadolu, com 95,45% das urnas contabilizadas por volta de 19h20 (horário de Brasília), a situação dos dois principais candidatos era a seguinte:

  • Recep Tayyip Erdogan: 49,50%
  • Kemal Kilicdaroglu: 44,79%

A última atualização da agência de notícias privada Anka - que segundo a rede britânica BBC tem laços com a oposição, com mais de 95% das urnas apuradas, traz números semelhantes, mas com uma diferença menor entre os dois candidatos:

  • Recep Tayyip Erdogan: 49,29%
  • Kemal Kilicdaroglu: 45,01%

Erdogan chegou a ter mais de 50% dos votos, o que lhe garantiria uma vitória no primeiro turno, mas na etapa final da contagem sua porcentagem caiu.

LEIA MAIS:

Líder do conservador e religioso Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), o presidente Erdogan chegou ao poder em 2003, inicialmente como primeiro-ministro.

Em 2017, liderou a troca do regime político de parlamentarismo para o presidencialismo após sair vitorioso de uma tentativa de golpe de Estado, ocorrida em 2016. Desde então, venceu todas as eleições presidenciais.

Para 2023, entretanto, as pesquisas já indicavam uma eleição apertada — o líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, tinha leve vantagem nas estimativas para o primeiro turno. Caso vá para o segundo turno, a disputa será realizada no dia 28 de maio.

Erdogan, líder mais longevo da Turquia, nunca esteve tão perto de perder o cargo

Erdogan, líder mais longevo da Turquia, nunca esteve tão perto de perder o cargo

Com a expressão cansada, o candidato à reeleição compareceu à sua seção eleitoral em Üsküdar, um bairro conservador de Istambul, para votar, desejando "um futuro próspero para o país e para a democracia turca".

Erdogan destacou o "entusiasmo dos eleitores", principalmente nas áreas mais atingidas pelo terremoto de 6 de fevereiro, que deixou pelo menos 50 mil mortos.

O candidato da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, votou pouco antes, em Ancara.

O oponente mais poderoso que Erdogan já teve

Kemal Kilicdaroglu, de 74 anos, o líder da oposição, é um político secular de centro-esquerda. Ele é do Partido Republicano do Povo, mas lidera uma aliança de seis partidos para tentar vencer o atual presidente.

A aliança política que concorre pela oposição inclui islâmicos e nacionalistas. Ele conseguiu também o apoio do partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos.

Entre as promessas, está a de desmobilizar o sistema presidencial que Erdogan instalou ao parlamentarismo.

Kemal Kilicdaroglu, de 74 anos, o líder da oposição na Turquia, vota em uma seção eleitoral de Ankara neste domingo (14). — Foto: AP Photo

Por que Erdogan perdeu força

A economia da Turquia enfrenta problemas. A alta inflação – uma das mais altas no mundo, tendo passado de 80% em 2022 – tem corroído o poder de compra das famílias.

Além disso, o governo de Erdogan foi criticado pela reposta ao terremoto que atingiu o sul da Turquia e matou 50 mil pessoas no início de 2023. O governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência a tremor de terra.

A campanha eleitoral atual é baseada em conquistas passadas, ele apresenta-se como o único político que pode reconstruir vidas após o terremoto de 6 de fevereiro no sul da Turquia, que destruiu cidades e matou mais de 50 mil pessoas.

Durante seus atos de campanha, Erdogan tentou retratar a oposição como conivente com “terroristas”, bem como com potências estrangeiras que desejam prejudicar a Turquia. Em uma tentativa de consolidar sua base conservadora, ele também acusou a oposição de apoiar os direitos LGBTQ e de serem bêbados.

Além disso, o presidente turco elevou gastos públicos antes das eleições e aumentou os valores do salário-mínimo e das aposentadorias.

Tratores limpam destroços de prédios derrubados por terremotos em Antáquia, na Turquia — Foto: Thaier Al-Sudani/REUTERS

Política externa

As eleições na Turquia também prometem afetar a política externa do país — assunto que já está sob os holofotes há alguns meses.

Erdogan é um antigo aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e a forma como age (ou deixa de agir) perante a guerra na Ucrânia não tem agradado os colegas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que o grupo está do lado ucraniano.

Se Kilicdaroglu sair vitorioso, no entanto, este cenário pode mudar. Em mais de uma ocasião, o candidato afirmou ter interesse em fortalecer os laços do Estado turco com a Otan e, inclusive, acredita que o país deveria pleitear uma vaga na União Europeia.

Quanto à guerra russa na Ucrânia, Kilicdaroglu confirmou que, se eleito, irá impor sanções à Rússia, algo que Erdogan pouco fez até agora. Isso isolaria Moscou ainda mais no cenário internacional e poderia ter desdobramentos importantes, segundo os especialistas.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!