Por Eric Luis Carvalho, g1 BA


Luiz Galvão morreu no sábado (22), em São Paulo — Foto: Redes sociais

A morte do poeta, escritor e músico Luiz Galvão, na noite de sábado (22), em São Paulo, encerra a trajetória de um agrônomo por formação que fez história na música brasileira.

Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1935, mas seu nascimento só foi registrado dois anos depois, em 1937. Formou-se em agronomia e chegou a exercer a atividade por seis anos, antes de decidir viver de sua arte. Ainda adolescente em Juazeiro, conheceu João Gilberto, de quem foi amigo até o fim da vida do pai da bossa nova.

No livro, “João Gilberto: a bossa”, Galvão fala sobre os anos de amizade através de memórias reunidas pelo poeta. A troca de afeto e a cumplicidade entre os dois gênios seriam determinantes para o destino dos Novos Baianos, que começou a ser traçado a partir de um outro encontro de Galvão.

Luiz Galvão, fundador dos Novos Baianos, durante entrevista em São Paulo em 8 abril de 1970 — Foto: Sergio Araki/AGE/Estadão Conteúdo

Em meio aos tempos em que “imperava a mão mais dura da ditadura militar”, como relembra Galvão em “Novos Baianos, a história do grupo que mudou a MPB”, ele se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior do estado. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor, e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal. O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix. Pela lei natural dos encontros, os Novos Baianos começavam a fazer história na música.

Novos Baianos no sítio em que moravam no Rio de Janeiro, em trecho de reportagem da GloboNews — Foto: Acervo TV Globo

Em 1970, Galvão estava com o grupo, quando se mudaram para um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguindo a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira, gravaram trabalhos que se tornaram referência para a música brasileira.

Após uma visita de João Gilberto ao sítio, o grupo lançou em 1972, o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Capa do álbum 'Acabou chorare', do grupo Novos Baianos — Foto: Antonio Luís

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.

O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.

Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".

Grupo durante apresentação do disco Praga de Baiano, no final dos anos 70 — Foto: ACERVO GLOBO

Além de escrever as composições da banda, Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.

Bem humorado e contador de histórias, Galvão deixou em suas obras encontros marcantes com João Gilberto, Tom Zé, Glauber Rocha, toda a parceria e irmandade com Moraes Moreira, Paulinho Boca, Baby e Pepeu.

Artistas pedem doações para custear tratamento de Luiz Galvão em hospital de São Paulo — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Quando a saúde lhe faltou, Galvão e a família tiveram um batalhão de herdeiros da poesia e do talento de Galvão em cena. Nomes como Marisa Monte, Dedé Gadelha, Paula Lavigne, Lúcio Mauro Filho, Luiz Caldas, a família Buarque de Holanda, Zélia Duncan, Ivete Sangalo, Arnaldo Antunes, Ana Carolina, Teresa Cristina, Olivia Byington, Astrid Fontenelle , Zé Virgílio, Davi Moraes e tantos outros agiram pelos cuidados do poeta.

O letrista que fala de amor em Preta Pretinha, e transformou uma história cotidiana na histórica Acabou Chorare, é o mesmo que viveu tempos anárquicos e alquimistas. Enfrentou tempos sombrios na defesa constante de um país plural e democrático. Fez de sua arte semente para gerações. E com a contribuição de ter iluminado instrumentos de uma gente bronzeada que insiste em mostrar seu valor, o Galvão deixa um Brasil mais pandeiro.

Em 2016, os novos baianos se reencontraram no palco do Fantástico; relembre

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