Em 2020, pela primeira vez na história, os cursos de ensino a distância (EAD) receberam mais matrículas do que os presenciais no país, tanto na rede pública quanto na privada. A informação consta do Censo da Educação Superior 2020, divulgado em fevereiro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC). O estudo também indicou o crescimento de 30% na oferta de vagas na modalidade a distância na comparação com 2019, enquanto os cursos presenciais avançaram apenas 1,3%.
Os dados mostram a consolidação de uma tendência desenhada ao longo da década passada: o EAD já ocupa uma parcela expressiva da formação universitária nacional. E isso aconteceu não apenas porque os alunos têm maior acesso a ferramentas digitais e conectividade, mas também porque as instituições de ensino evoluíram em seus processos.
“Houve um grande avanço em tecnologia e em metodologias digitais de ensino”, avalia Carlos Freitas, CFO da Vitru Educação, grupo educacional que é o único player nacional listado em bolsa de valores (no caso, a Nasdaq, em Nova York) que atua focado em ensino digital. “Quando começou, o EAD reproduzia o modelo de ensino presencial só que pela internet, com aulas transmitidas – muitas vezes gravadas –, e uso de livros físicos adaptados para o formato PDF. Agora, a experiência é muito mais interativa e digital”, afirma.
Nesse cenário, a compra da UniCesumar por parte da Vitru Educação, que já controlava a marca Uniasselvi, dá origem a um grupo de força expressiva, com a maior base de alunos em ensino digital no Brasil: cerca de 800 mil pessoas, sendo 97% matriculadas em ensino a distância. A operação foi aprovada em maio, sem restrições, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). “Somadas, as duas empresas detêm 20% do mercado de ensino superior em EAD, que por sua vez cresce em média 21% ao ano”, informa Carlos Freitas.
Sinergia
A Uniasselvi é referência em ensino a distância híbrido, um modelo que combina metodologias digitais com turmas que realizam encontros presenciais nos polos ou online, sempre mediados por tutores. Já a UniCesumar possui modelo EAD online com índices de notas no MEC superiores à média de mercado, sendo um benchmark de qualidade no mercado de educação superior. Assim, a Vitru atua agora com duas marcas com diferenciais competitivos próprios e que serão preservadas por atraírem públicos levemente distintos.
Já a combinação das ações dos dois grupos deverá gerar uma redução de custos com valor presente estimado entre R$ 1 bilhão a R$ 1,4 bilhão. Em termos comerciais, as sinergias vão de R$ 945 milhões a R$ 1,3 bilhão em termos de valor presente. Juntas, as duas instituições mantêm hoje cerca de dois mil polos de ensino no Brasil, com diferentes focos de atuação – a UniCesumar mais concentrada no Paraná e na região Sudeste, enquanto a Uniasselvi tem maior presença nos estados do RS e SC e nas regiões Norte e Nordeste.
Para Freitas, esse perfil complementar poderá acelerar a expansão de mais polos pelo país. “Temos 760 cidades onde há um polo de uma instituição, mas não da outra. Esta é uma oportunidade de ampliar o alcance geográfico de ambas as marcas”.
Em coerência com o momento do mercado, o público já entende as vantagens da EAD: se historicamente a média de idade dos alunos da Vitru oscilava entre 28 e 30 anos, agora, pela primeira vez, a faixa etária dominante entre os novos integrantes é de 18 a 24 anos. “A proposta de valor do ensino digitalizado é cada vez mais bem percebida pela população. E assim, contribuímos para a democratização do acesso ao ensino superior com qualidade”, afirma o CFO do grupo.