Líder nas pesquisas de intenção de voto de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) tornou-se o principal alvo do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do governador Rodrigo Garcia (PSDB) no primeiro debate na televisão entre os candidatos ao governo paulista, na noite deste domingo (08), realizado pela TV Bandeirantes.
O debate foi marcado por ataques e trocas de acusações, e deixou de lado os padrinhos políticos de Haddad (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), de Tarcísio (presidente Jair Bolsonaro) e de Garcia (o ex-governador João Doria. Eleito como vice-governador na chapa de Doria em 2018, Garcia não mencionou seu antecessor no cargo e fez questão de mostrar-se distante do ex-governador, ao falar que tem uma história própria.
O embate começou já no primeiro bloco do debate, com ataques entre Haddad e Tarcísio. Na sequência, ainda no primeiro bloco, Garcia e Haddad discutiram e trocaram acusações.
Além de Haddad, Tarcísio e Garcia, participam também o deputado Vinicius Poit (Novo) e o ex-prefeito Elvis Cezar (PDT).
Apoiado por Bolsonaro, Tarcísio atacou diretamente Haddad e provocou o candidato do PT ao pedir para a plateia procurar no Google quem foi o "pior prefeito de São Paulo", em referência à gestão do petista na capital paulista, entre 2013 e 2016.
O candidato do PT retrucou e pediu para as pessoas pesquisarem quem é “genocida”, em referência ao governo Bolsonaro e a atuação da gestão federal na pandemia.
"Vocês vão saber quem matou mais de 600 mil brasileiros por não ter comprado vacina quando ela foi oferecida. Pior foi ter cortado o auxílio emergencial antes de vacinar as pessoas. Vocês são responsáveis pela crise sanitária que estamos vivendo. Lamento você vir com esse tom de agressividade", disse Haddad. "Você está chegando agora a São Paulo e te dei boas-vindas. Se adeque ao nosso padrão de civilidade, por favor", afirmou o petista, lembrando que o ex-ministro do governo Bolsonaro não nasceu no Estado e mudou o domicílio eleitoral para São Paulo para disputar a eleição.
Antes, Haddad havia feito uma provocação discreta ao ex-ministro ao falar “bem-vindo” ao Estado.
O ex-prefeito petista provocou também Rodrigo Garcia e disse que o tucano rompeu com Mário Covas para apoiar Paulo Maluf e integrou a gestão Celso Pitta. Ao se apresentar, Garcia exaltou o ex-governador Covas e omitiu Doria – tucano responsável por sua filiação ao PSDB e a quem sucedeu.
Ao falar de Doria, Haddad disse que o ex-governador escolher mal seu vice e lembrou que ele abandonou não só o governo paulista, mas também a Prefeitura de São Paulo.
Garcia, que havia criticado minutos antes a “briga política” entre Haddad e Tarcísio e defendido a “paz”, partiu para o ataque ao petista ao dizer que ele "foi lamber as botas de Maluf" para se candidatar a prefeito, em referência à campanha municipal de 2016. Na época, Haddad, então prefeito da capital, foi pedir apoio de Maluf e essa aliança fez com que a deputada federal Luiz Erundina (Psol), que era cotada para vice, rompesse com o petista.
Ainda no primeiro bloco, Vinicius Poit defendeu a Lava-Jato e atacou o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já Elis Cezar criticou a gestão estadual, sobretudo na área de segurança pública.
Nos demais blocos, além de Haddad, Garcia também foi criticado pelos adversários, sobretudo pelo fato de o PSDB estar na sétima gestão consecutiva no Estado. O tucano foi questionado sobre obras paradas em São Paulo, a queda no nível de investimento, a qualidade do ensino e a fila com mais de meio milhão de pessoas à espera de uma cirurgia. O tom dos questionamentos, no entanto, foi menos agressivo do que as críticas destinadas a Haddad.
Ao responder sobre os problemas nas gestões do PSDB, Garcia culpou os governos federais petistas, a Lava-Jato e até a covid-19 pelos atrasos na execução de obras em quase 30 anos de governo tucano em São Paulo.
As críticas de Tarcísio a Garcia foram mais leves do que os ataques feitos pelo ex-ministro da Infraestrutura a Haddad. O candidato apoiado por Bolsonaro vinculou Garcia a Doria e questionou a ausência do ex-governador tucano. “E o Doria, onde ele está?”.
Garcia desconversou, retrucou que Tarcísio é que “precisa de padrinho. “Eu sou candidato da minha história”, afirmou o governador tucano. Na sequência, citou que o adversário nasceu no Rio de Janeiro e morava no Distrito Federal e não tem vínculo com o Estado. “Eu tenho história de vida dedicada a São Paulo”, disse Garcia.
Em meio a uma discreta aproximação de Garcia a Bolsonaro nos bastidores, o governador afirmou que não quer “briga ideológico em São Paulo” e afirmou que vai “proteger” o Estado.
falar sobre propostas, Haddad anunciou que, se eleito, o salário mínimo em São Paulo será de R$ 1.580,00 – maior do que os R$ 1.284 previstos. O petista afirmou ainda que não vê privatização e estatização como uma “questão dogmática”. Defendeu, por exemplo, a venda da Ceagesp, mas refutou a privatização da Sabesp. Ao ser questionado também sobre o assunto, Tarcísio disse que vai “olhar com cautela” a eventual privatização da Sabesp.
Haddad, ao voltar a falar sobre o assunto, acabou criticando não só a “privatização da energia elétrica”, que aumentou o preço da conta de luz, mas também criticou a privatização no setor de telefonia – apesar dos avanços obtidos no país.
Em outro momento de embate entre Haddad e Garcia, o petista procurou evitar críticas diretas ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que comandou o Estado por quatro mandatos quando era filiado ao PSDB e hoje é vice na chapa presidencial de Lula. No entanto, disse que a população está insatisfeita com o governo, sobretudo na área da saúde. “Você está ouvindo de pessoas que não gostam de São Paulo”, afirmou Garcia, sobre a população que tem ressalvas ao governo. Na sequência, o petista lembrou que Doria e Garcia apoiaram a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, inclusive com o voto BolsoDoria, e disse que o governador culpa Bolsonaro pelas ações que não consegue implementar.
Tarcísio enfrentou um constrangimento e não soube responder quando foi questionado por Vinícius Poit sobre o apoio à sua candidatura de políticos que já foram presos, como por exemplo o ex-deputado Eduardo Cunha (PTB). “Por que andar com tanto bandido por perto?”, questionou Poit.
Ainda durante o debate, Elvis Cezar tornou-se alvo de memes nas redes sociais ao defender sua administração na cidade de Santana de Parnaíba (SP) e tratar a cidade como um grande exemplo para o país.