Um mês após o Ministério da Saúde autorizar a aplicação de CoronaVac em crianças a partir de 3 anos, a pasta ainda não fechou contrato para comprar as vacinas contra a Covid-19 para o público infantil. E, sem imunizantes, ao menos Rio, Brasília, 11 municípios do Rio Grande do Norte e Itapira (SP) suspenderam a aplicação da primeira dose nesse público, indica levantamento do GLOBO. Já na Bahia, só 194 dos 417 municípios — menos da metade — registram aplicação do imunizante na faixa etária. Estados reclamam de falta de doses.
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Nesse cenário, a vacinação do grupo ainda não engrenou, passado um mês. Números do LocalizaSUS, do Ministério da Saúde, mostram que 261.611 crianças de 3 e 4 anos receberam a primeira dose até a última sexta-feira no Brasil, das quais 3.168 completaram a vacinação com a segunda dose. O número de crianças que iniciaram a imunização representa apenas 4,67% da população estimada.
A falta de doses está espalhada. Os estados Espírito Santo e Pernambuco remanejaram doses de CoronaVac entre os municípios para imunizar a faixa etária e não interromper a aplicação. Ceará, por sua vez, disse que distribuiu apenas 10% dos imunizantes necessários para o grupo. Já o Maranhão informou que está com estoque insuficiente e pediu 400 mil doses à pasta. Das 27 unidades federativas consultadas pela reportagem, só Pará e Roraima responderam que dispõem de vacinas suficientes para atender a demanda.
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Ministério não informa
Ao GLOBO, o Ministério da Saúde informou em nota que ainda “está em tratativas para aquisição do imunizante com maior celeridade, de acordo com a disponibilidade de entrega das doses pelos fornecedores”, sem informar detalhes. E, mesmo sem ter efetivado a compra, a pasta prevê receber os imunizantes a partir de setembro, mas não divulgou sequer a quantidade de doses a serem adquiridas.
A Saúde liberou a vacinação deste grupo em 15 de julho. No dia 25, o titular da pasta, Marcelo Queiroga, anunciou que o ministério iria adquirir as doses necessárias por meio do consórcio global Covax Facility, gerenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pasta, assim, preteriu o Instituto Butantan, que fabrica os imunizantes no Brasil e já se preparou para atender a esta faixa etária.
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— O ministério deu uma resposta evasiva sobre o Covax Facility, mas sabemos que o consórcio não tem vacinas para oferecer na quantidade necessária para as crianças brasileiras. Nós temos o Butantan, mas o ministério não se mexe — afirma o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e sanitarista da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch.
Fabricante da CoronaVac no Brasil, o Instituto Butantan informou que poderia entregar vacinas à pasta para as crianças a partir do próximo mês. Ainda não há, porém, pedidos ou negociações em andamento.O Butantan importou o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), insumo essencial para produzir o imunizante, a fim de atender toda a faixa etária: como há cerca de 5,6 milhões de crianças de 3 e 4 anos no Brasil, seriam necessárias cerca de 11 milhões de doses, pois o ciclo contempla duas aplicações no intervalo de 28 dias.
“O Butantan dialoga constantemente com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento oficial da pasta sobre as ofertas da vacina CoronaVac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, diz em nota.
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Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), mostram que 4.415 crianças foram internadas por Covid-19 no Brasil, das quais 136 morreram de 26 de fevereiro de 2020 — data do primeiro caso registrado no país — a 31 de julho deste ano. As estatísticas, que são as mais recentes disponíveis, foram extraídas pela Rede Análise Covid-19.
Inação do governo
No estudo “Government Inaction on COVID-19 Vaccines contributes to the Persistence of Childism in Brazil”, publicado na The Lancet, pesquisadores brasileiros criticam que a inação do governo federal no vacinação contra a Covid-19 tem afetado especialmente as crianças.
— O país está patinando na ampliação da vacinação em crianças. Não há realização, de fato, de campanhas de vacinação que mobilizam a sociedade. É algo inadmissível — diz a epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Alexandra Boing, uma das autoras do trabalho.
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Maierovitch, da Abrasco, vê o governo ainda resistente à vacinação infantil, que foi explicitada quando o presidente Jair Bolsonaro defendeu divulgar os nomes dos diretores da Anvisa que permitiram a imunização do grupo:
— O que mudou é a aparência: acho que o governo achou arriscado fazer declarações tão enfáticas quanto naquela época no período eleitoral, pois isso poderia roubar votos.
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