Rio
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Em uma hora e meia de entrevista, houve um momento em que o padre Anderson Antonio Pedroso, reitor da PUC-Rio desde junho de 2022, claramente deixou escapar um sorriso. Foi na pergunta sobre seu perfil executivo: se ele estipula metas, fala de performance e cobra resultados, práticas comuns em empresas, mas que soam distantes da realidade de uma universidade católica sem fins lucrativos.

— Nem todo reitor faz assim, eu faço. Aqui temos planejamento e trabalhamos com metas — diz.

Desta forma, Anderson vem inaugurando um novo tempo na PUC, inclusive com propostas como um curso de graduação em Medicina e projetos sobre a Amazônia. Mas vem, também, sendo alvo de críticas, em parte por essa postura que lembra a de um, digamos, CEO.

Nascido em São Paulo, o hoje reitor cresceu em Lençóis Paulista, entre a biblioteca batizada com o nome de um lençoense ilustre, o escritor Orígenes Lessa, e a igreja. Foi coroinha, cantou no coral e, aos 15 anos, entrou no seminário. Aos 20, já estava em Roma estudando Teologia numa universidade de gestão da Companhia de Jesus, ordem católica fundada por Santo Inácio de Loyola no século XVI e cujos membros são conhecidos como jesuítas. Ele se juntou à Companhia, fez mestrado em Filosofia da Arte e doutorado em História da Arte, ambos na Universidade Sorbonne, em Paris, e, enfim, chegou à PUC-Rio em 2020, como vice-reitor e professor do Departamento de Artes & Design.

A nova missão foi o encontro de um educador jesuíta com uma universidade jesuíta. A PUC nasceu a partir de um decreto de Getúlio Vargas, em 1940, que autorizou o funcionamento das Faculdades Católicas no Brasil. Seus primeiros cursos, Direito e Filosofia, passaram a ser ministrados em março de 1941 na área do Colégio Santo Inácio, outra instituição de ensino jesuíta, em Botafogo. Em 1946, foi lançada a Escola de Serviço Social, permitindo que as Faculdades Católicas passassem a ser chamadas de Universidade Católica. A primeira letra da sigla veio no ano seguinte, quando o Vaticano determinou a relação entre a instituição e o pontífice, na época o Papa Pio XII. Já o espaço atual, na Gávea, lembrado pelos pilotis modernistas e pela área verde junto à Floresta da Tijuca, foi inaugurado em 1955.

Conjuntura delicada

Conhecedor de toda essa história, foi em 2022 que padre Anderson se tornou o décimo reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, uma instituição de ensino chamada de “comunitária”, por reverter todo o lucro à própria universidade. Só que Anderson não assumiu a nova função num momento tranquilo para ele ou para qualquer gestor de ensino do país. Depois de anos de crise econômica e da pandemia, o lucro das faculdades brasileiras foi caindo.

A PUC tinha 13 mil alunos de graduação em 2015, e hoje tem 9 mil. Desses, 40% recebem algum tipo de bolsa de estudo, uma tradição que a universidade mantém mesmo com a redução de receita. Em seu discurso de posse, o reitor já falava da “tendência à diminuição de número de alunos”, lembrava da luta das universidades comunitárias “para manter suas atividades em um cenário socioeconômico que inspira preocupação” e indicava que apostaria em projetos de pesquisa que “possam trazer recursos e benefícios concretos também para a universidade”.

— É evidente que a PUC ficou menor, mas não acho que precisamos ser muito maiores. Acredito numa universidade humanamente possível, com 10 mil alunos de graduação e 3 mil a 4 mil de pós-graduação, com bolsas para os alunos pobres — afirma. — A solução para o problema da PUC não está simplesmente no número de alunos. Desde a década de 1990, basicamente metade da nossa receita vem de pesquisa. Quando uma empresa como a Petrobras precisava melhorar um serviço, ela fazia uma pesquisa aqui e trazia investimento. Temos que dar esse passo de novo.

A proposta do reitor para melhorar as finanças da universidade é, portanto, diversificar as pesquisas, com projetos que envolvem planejamento, metas e tudo o mais que está no vocabulário de executivos de empresas. Daí surgiu a iniciativa da que ele mais se orgulha, batizada de Amazonizar. A ideia foi lançada num fórum em maio deste ano, com participação de convidados como o cineasta João Moreira Salles e a jornalista e colunista do GLOBO Míriam Leitão. Como o nome sugere, o Amazonizar pretende expor para a iniciativa privada a expertise da PUC em energia verde.

— Onde está o dinheiro hoje? Existem bilhões disponíveis para resolver os problemas climáticos. Então, sem deixar de realizar nossas pesquisas com petróleo e gás, a PUC se volta para o desafio climático. Temos trabalhos fantásticos aqui sobre hidrogênio verde e captura de carbono. A partir deles, virão dinheiro e investimento — explica.

Opiniões diferentes

Anderson planeja as mudanças pretendidas em seu gabinete na universidade. O espaço tem um quadro de Cristo crucificado, uma bíblia aberta e um vaso com orquídeas azuis atrás da mesa de trabalho. Ao lado, outro quadro, este composto por 20 imagens em tamanho de cartão-postal de artistas de estilos variados, como Herni Matisse, Piet Mondrian, Marc Chagall, Frida Kahlo e Louise Bourgeois. Uma das paredes é atravessada por um longo aparador de madeira, com muitos livros sobre arte e design, itens religiosos e uma foto de Anderson apertando a mão do Papa Francisco. O objeto mais inusitado, talvez o único realmente surpreendente, é um boneco da marca Pop Funko representando o SenhorFredricksen, aquele velhinho de rosto quadrangular e óculos largos do animação hollywoodiana “Up”. Segundo Anderson, foi um presente do padre Jesús Hortal Sànchez, reitor da PUC entre 1995 e 2010, que realmente é bem parecido com Fredricksen.

A tranquilidade daquele ambiente, no entanto, não encontra eco em toda a PUC. Em conversas com mais de dez professores e alunos, de cursos e classes sociais diferentes, a menção ao nome de Anderson nunca foi recebida com indiferença. O veredicto quase unânime é que ele realmente tem uma atuação positiva em buscar melhorias para a universidade, mas tem surpreendido pelo método. Alguns falam num novo modelo de gestão necessário. Outros em burocratização e falta de transparência.

Em maio, ao fim do Festival da Primavera, evento cultural realizado pelos estudantes, integrantes do DCE subiram ao palco para criticar a reitoria. Mais recentemente, funcionários se incomodaram com uma ação chamada de Plano de Desligamento Incentivado, lançado pela PUC para a demissão voluntária de pessoas mais velhas e que gerou especulações sobre demissões não voluntárias no futuro.

O reitor, por sua vez, lembra que a PUC já realizou programas de desligamento semelhantes em outras épocas e garante que, de forma alguma, isso representa uma política de cortes. Ele diz estar aberto ao diálogo com todos.

— O que mais me preocupou na PUC neste um ano e meio de reitoria nunca foi a manifestação dos estudantes. Ao contrário, foi o pouco interesse. Temos 9 mil alunos, e na eleição do DCE votaram, se não me engano, 300. Isso aconteceu porque há um desinteresse na boa política, uma política que pense o bem comum e seja capaz de se comunicar. E, quando há esse desinteresse, há um acirramento de posições — argumenta. — Aqui há seres humanos. Então é evidente que haverá conflitos. Mas a gente espera que uma reivindicação justa seja feita pelos meios corretos.

Outra reivindicação comum que chega ao gabinete de Anderson diz respeito a uma política mais clara para lidar com denúncias de assédio. Ele garante que o tema é prioritário e que a PUC terá uma Ouvidoria Geral para acolher esses casos. Mas também diz se preocupar com o que chama de “denuncismo”.

— A PUC sempre teve pessoas que escutavam, mas a complexidade hoje é outra. O serviço de escuta que existia há 30 anos não é mais capaz de lidar com os problemas de hoje. A legislação também mudou muito. Por isso, estamos estudando o melhor caminho para essa Ouvidoria — explica o reitor. — Só que não podemos ter Justiça pelas próprias mãos, não há espaço para denuncismo. Eu não posso colocar as pessoas em situações em que elas não tenham a mínima possibilidade de se defender. Uma acusação de assédio, por exemplo, é algo que pode comprometer a vida de uma pessoa e levá-la ao extremo.

Novo Curso

Para quem não vive o dia a dia da PUC, contudo, a mudança no horizonte mais visível é outra: a criação de um curso de graduação de Medicina. Uma parceria já foi firmada com o Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, para que sirva como hospital-escola. Além disso, a iniciativa pretende se integrar ao Amazonizar por meio de barcos-hospitais que atendem a população ribeirinha na Amazônia.

A aprovação de novos cursos universitários é dada pelo governo federal, e Anderson tem se envolvido pessoalmente na empreitada. Em fevereiro, ele recebeu no campus da PUC a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Em agosto, foi até Brasília se encontrar com o ministro da Educação, Camilo Santana. Na última quarta-feira, o edital para a criação de cursos de Medicina foi lançado, numa cerimônia conduzida justamente pelos dois ministros.As conversas políticas de Anderson se estendem, ainda, a pedidos por uma legislação diferenciada para a PUC-Rio e para outras PUCs e universidades comunitárias. O reitor argumenta que o país trata instituições comunitárias sem fins lucrativos da mesma forma que as privadas com fins lucrativos. E se orgulha, então, em elencar feitos da universidade que administra:

— A cada dez alunos da PUC, quatro têm bolsas de estudo. Não posso ser tratado como uma universidade particular. É injusto. Somos uma universidade de pesquisa, isso precisa ser reconhecido. Aqui nasceram o Plano Real e as políticas afirmativas. O modelo da PUC inspirou a criação do Prouni. A PUC sempre esteve à frente do seu tempo.

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